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NÚCLEO DE HISTÓRIA MILITAR MANUEL COELHO BAPTISTA DE LIMA. ANGRA DO HEROÍSMO / AÇORES


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Jaime Ferreira Regalado​

 

Resumo

O Núcleo História Militar Manuel Coelho Batista de Lima é um polo do Museu de Angra do Heroísmo, na Ilha terceira, Açores. Situado no mais antigo hospital militar permanente em território português do Ocidente, constituído e inaugurado em 2016, é o único espaço museológico de temas militares não tutelado pelo Ministério da Defesa nacional. Tanto pelo edifício, onde se encontra instalado, como pelo seu acervo, o Núcleo História Militar Manuel Coelho Batista de Lima constitui um importante repositório de objetos, conhecimento e memória, material e imaterial, incontornável para e estudo e compreensão da História Militar de Portugal e dos Açores em particular.

Palavras-Chave: História Militar; Património Militar; Museu, Açores.

Abstract

The Núcleo de História Militar Manuel Coelho Batista de Lima is a branch of the Angra do Heroísmo Museum, on Terceira Island, Azores. Housed in the oldest permanent military hospital in the Portuguese territory, established and inaugurated in 2016, it's the only museum of military subjects that is not under the jurisdiction of the Ministry of National Defence. Both for the building where located and for its collections, the Núcleo de História Militar Manuel Coelho Batista de Lima is an important repository of objects, knowledge and memory, material and immaterial heritage, essential for the study and understanding of the Portuguese military history and especially that of the Azores.

Keywords: Military History; Military Heritage; Museum; Azores.

 


O Núcleo de História Militar Manuel Coelho Baptista de Lima constitui um dos múltiplos polos do Museu de Angra do Heroísmo, o qual, entre as exposições de longa duração, exposições temporárias e as diferentes reservas, acolhe os objetos que integram a Unidade de Gestão de Militaria e Armamento. Constituído e inaugurado em 2016, é o único museu de assuntos militares que não é tutelado pelo Ministério da Defesa.

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Fig. 1 e 1a - Núcleo de História Militar Manuel Coelho Baptista de Lima, antigo Hospital da Boa Nova. Vista da fachada norte, com a entrada principal.


O interesse e relevância histórica do Núcleo de História Militar [JAR1] Manuel Coelho Baptista de Lima manifesta-se, desde logo, por se situar no antigo Hospital Militar da Boa Nova, uma referência incontornável em termos de património imóvel militar não fortificado.

Com o início da sua construção, após a conquista castelhana da Ilha Terceira (1583), em data posterior a 1591[1]e podendo afirmar-se que estava em funcionamento em 1615[2], torna-se assim o mais antigo hospital militar permanente[3], construído para o efeito em território português, neste caso em território insular. Com a construção da Fortaleza de S. Filipe (depois da restauração renomeada de S. João Baptista) e a estrutura fortificada do Monte Brasil, preparada para acolher três tércios castelhanos (cerca de 9000 homens), era fundamental a existência de um hospital que assegurasse os cuidados de saúde de uma tão numerosa guarnição, mas também dos doentes e feridos vindos do mar, das esquadras que aportavam à ilha. Neste contexto, importava a criação de um hospital fora da fortaleza (de modo a prevenir a propagação de doenças infectocontagiosas entre a guarnição) equidistante entre o porto de mar e a fortaleza.

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Fig. 2 - Pormenor da gravura de Linschoten, que reflete a cidade de Angra entre 1589 e 1591, no qual se pode observar que no espaço do hospital e capela (assinalado a amarelo) nada existia neste período, tal como se observa que a Fortaleza de S. Filipe (S. João Baptista) também não se encontrava ainda em construção.​



Com a Aclamação, em 1640, teve início uma nova organização militar na qual o Estado, através de instituições próprias criadas para o efeito, chamava a si a tutela dos negócios da guerra e supria as necessidades do “exército nacional", incluindo a assistência na saúde aos militares. Ao longo dos vinte e oito anos das campanhas da Guerra da Aclamação até à firmação das pazes com Castela, logo desde o início, teve lugar a construção de uma série de hospitais reais militares, sobretudo nas praças e cidades da raia, onde os combates foram mais intensos. Neste contexto, foi o Hospital da Boa Nova, de Angra, que serviu de modelo à construção dessa malha de hospitais militares do território continental, numa fase inicial aproveitando e adaptando estruturas já edificadas, como conventos ou casas senhoriais, numa associação entre a experiência e conhecimento técnico da assistência a feridos de guerra da Ordem dos Irmãos Hospitaleiros de S. João Baptista[4] e a Engenharia Militar.[5]

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Fig. 3 – Planta do Hospital da Boa Nova no século XVII. In Menezes, 1932.​



Assim, o edifício onde atualmente está instalado este polo museológico, reveste-se da maior importância pela sua primazia e como matriz para a construção da nova realidade do serviço assistencial aos militares em campanha, seguindo um fluxo de transmissão de conhecimento inverso ao habitual.

Na génese do relevante espólio de Militaria e Armamento do Museu de Angra do Heroísmo está o espírito aglutinador do primeiro diretor deste museu, Dr. Manuel Coelho Baptista de Lima, que imprimiu um cunho singular a esta coleção de objetos militares. Pela sua visão esclarecida e livre dos padrões museológicos militares, reuniu no Museu de Angra do Heroísmo, através de doações do Estado-Maior do Exército e da Força Aérea, armamento e equipamento militar, no momento em que saíam do uso operacional, incluindo todos os acessórios, hoje verdadeiras “cápsulas do tempo", que se têm revelado preciosos elementos de estudo para a história e historiografia militar. Adicionalmente, por aquisição e por um trabalho persistente de recolha junto de famílias de militares, várias doações enriqueceram o espólio militar do Museu de Angra do Heroísmo.

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Fig. 4 - Pormenor da caixa de ferramentas da Oficina de Ferrador da Peça 7,5 cm TR m/904-06 Schneider-Canet.​


Em 1999, pouco após o falecimento do Dr. Manuel Coelho Baptista de Lima, o Governo da Região Autónoma dos Açores fez a aquisição da sua coleção particular e biblioteca, concentrando assim, no Museu de Angra do Heroísmo, toda a obra lavrada por este ilustre diretor.

Com a atual direção, o Museu de Angra do Heroísmo não só deu a merecida visibilidade ao trabalho do seu primeiro diretor, como conserva o mesmo espírito aglutinador e de enriquecimento das suas coleções, sendo frequente a doação de uniformes e objetos militares diversos, por militares ou famílias, assegurando a memória de intervenções mais recentes de militares portugueses em Forças Nacionais Destacadas, desde a KFOR, UNTAET ou, mais recentemente, na ISAF. 

Enquanto espaço museológico, o Núcleo de História Militar Manuel Coelho Baptista de Lima, acolhe três exposições independentes de longa duração e uma exposição temporária. 

Uma, de carácter biográfico, dedicada ao primeiro diretor do Museu de Angra do Heroísmo – Memória e Novidade: Manuel Coelho Baptista de Lima e o Património Açoriano –, de múltiplas formas indelevelmente ligado à cultura e património militar dos Açores. Dotado de uma visão patrimonial e museológica notável reforçada pelas formações em museologia realizadas no Louvre e em outros museus da Europa, trouxe diretamente para a Ilha Terceira o conhecimento do que de melhor se fazia em museologia e museografia a nível europeu.

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Fig. 5 - Entrada da exposição Memória e Novidade: Manuel Coelho Baptista de Lima e o Património Açoriano.​

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Fig. 6 Documentos diversos com notas e apontamentos de formações de Manuel Coelho Baptista de Lima, em museus internacionais, nomeadamente do curso de museologia no Museu do Louvre.


Ao seu empenho e visão se deve o levantamento arqueológico em meio subaquático de um significativo grupo de bocas-de-fogo dos séculos XVI e XVIII da baía de Angra do Heroísmo e do Fanal, em 1972, que levou a que, em 1973, pela importância dos objetos levantados, estas áreas fossem constituídas pelo Governo Português como Reserva Arqueológica Subaquática, a primeira a ser constituída em Portugal.

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Fig. 7 – Campanha arqueológica subaquática na baia de Angra do Heroísmo conduzida pelo diretor do museu de Angra do Heroísmo, Baptista de Lima e o arqueólogo britânico Sydney Wignall. Extração da colubrina João Dias – 1543.


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Fig. 8 -  Fotografia da colubrina João Dias – 1543, atualmente em exposição.​


Importa referir que, na sequência da constituição do Museu da Artilharia (atual Museu Militar de Lisboa) as peças de artilharia de maior relevância[6], sobretudo em bronze, foram levadas dos fortes das ilhas açorianas para integrar este museu em Lisboa. Perdidos assim estes testemunhos que poderiam dar valiosa informação sobre a sua localização e emprego, as bocas de fogo levantadas do fundo do mar, a partir da década de 1970, revestem-se da maior importância para a compreensão do sistema defensivo da Ilha Terceira dos séculos XVI a XVIII.

Um segundo espaço expositivo de longa duração – Hospital Real da Boa Nova – evocativo do hospital militar, no espaço da capela dita da Boa Nova. Esta capela, contígua e integrada[7] na edificação do hospital militar, acolhe alguns objetos de uso hospitalar e constitui um espaço interpretativo de alguns momentos relevantes do seu percurso, como seja a oração do Padre António Vieira nesta capela, em 1654, numa das suas viagens do Brasil para o Reino, ou a utilização deste espaço, a partir de 1832, já dessacralizado, como local de impressão de opúsculos e periódicos, quando aqui foi instalado o primeiro prelo que havia chegado aos Açores em 1829.

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Fig. 9 – Capela da Boa Nova. Além de espaço de interpretação do Hospital Real da Boa Nova, é um espaço polivalente, onde se realizam conferências e de onde partem diariamente as visitas guiadas à Fortaleza de S. João Baptista.​

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Fig. 10 Capa da Folhinha da Terceira, impressa no primeiro prelo que veio para os Açores e que, a partir de 1832, funcionou na Capela da Boa Nova.


Um terceiro espaço expositivo de longa duração – Os Homens, as Armas e a Guerra: da flecha ao drone – inicia-se com uma reflexão sobre a trindade Homem-Arma-Guerra, desde a origem das primeiras armas que asseguraram ao Homem a sua subsistência posicionando-o na cadeia alimentar essencialmente como predador e, cada vez menos, como predado, mas também como as mesmas armas abriram o caminho para a destruição e mortes em larga escala associadas aos grandes conflitos.

Ao longo desta exposição, que tem como linha condutora os grandes momentos da evolução tecnológica associados aos grandes conflitos e transformação da Arte Militar, principalmente nas grandes transformações da Idade Moderna e Contemporânea, expõem-se uniformes e condecorações, armamento ligeiro e artilharia, acessórios e artefactos militares que ilustram esta evolução, privilegiando os que que se relacionam com a história e personalidades insulares, até à atualidade com as Forças Nacionais Destacadas projetadas para os mais diversos teatros de operações.

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Fig. 11 - Sala os Homens, as Armas e a Guerra.​

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Fig. 12 - Sala os Homens, as Armas e a Guerra.​


Por fim, uma vitrine de exposições temporárias – A Arte na Guerra – dá a conhecer objetos de uso militar os quais, pela sua representação estética, curiosidade ou raridade, resultante frequentemente dos estudos realizados pelos técnicos superiores do Museu de Angra do Heroísmo, ligados às Unidades de Gestão de Militaria e Armamento e da coleção de Têxteis Militares. 

Se os espaços expositivos constituem, naturalmente, a componente de maior visibilidade do Núcleo de História Militar Manuel Coelho Baptista de Lima, só em conjunto com as reservas o museu cumpre integralmente a sua missão[8], afirmando-se como repositório de informação e conhecimento, neste caso da História Militar.

Por conveniência da conservação preventiva dos objetos, em termos de temperatura, humidade relativa, luminosidade e controlo de agentes bióticos, com base nos materiais predominantes que constituem estes objetos, as reservas do Núcleo de História Militar Manuel Coelho Baptista de Lima foram divididas em três espaços distintos. Um destinado aos têxteis militares, uniformes e afins, nacionais e estrangeiros, dos meados do século XIX à atualidade, que constitui a maior coleção pública de uniformes militares em Portugal, de entre os quais se destaca a existência de cinco uniformes do período da Guerra Civil. Um segundo espaço, destinado ao armamento ligeiro, acessórios, equipamento individual e artefactos militares, cobrindo um intervalo cronológico entre o século I a.C. e a atualidade, e um terceiro espaço destinado ao armamento de artilharia, do século XVI aos meados do século XX, incluindo viaturas hipomóveis, os respetivos arreios e equipamentos acessórios.

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Fig 13, 14 e 15 - Reserva de têxteis militares​

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Fig. 16 e 17 - Reserva visitável de armas ligeiras

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Fig. 18, 19 e 20 - Reserva de Armas Pesadas


Qualquer destas reservas, além de assegurar uma rápida observação do estado de conservação dos objetos que contêm, estão organizadas com uma preocupação didática, já que são reservas visitáveis, por marcação ou por ocasião de eventos realizados periodicamente no Núcleo de História Militar, tendo auferido o prémio APOM, em 2017, de melhores reservas visitáveis.

Na impossibilidade referir todos os objetos relevantes que constituem a coleção de Militaria e Armamento, destacam-se apenas um capacete romano em bronze, do tipo Monfortino, datável do século I a.C. (2ª Idade do Ferro), uma espora dos finais do século XIV, duas colubrinas em bronze do início do século XVI, circa 1520-1530, e um conjunto significativo de espadas do século XVII. Pela grande relevância tecnológica e histórica, ainda que mais tardia, destaca-se a única bateria completa conhecida da Peça 7,5 cm TR (Tiro Rápido) m/904-06, da qual encontra-se em exposição uma secção e carros de bateria, no convento de S. Francisco, sede do Museu de Angra do Heroísmo.

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Fig. 21, 22 e 23 - Secção da Peça 7,5 cm TR m/904-06, exposta atrelada ao armão e às mulas que a rebocam, estas uma obra do artista plástico Renato Costa e Silva, aparelhadas com os respetivos arreios m/917, carro de munições e carros de bateria.​


Por razões evidentes, fora do Núcleo de História Militar, mas integrando o seu acervo, está a Bateria de Artilharia Antiaérea composta por quatro Peças AA Vickers 9,4 cm m/940, na sua posição original, no alto do Pico das Cruzinhas, no Monte Brasil, com os respetivos espaldões com paiolins, PCT – Posto de Comando de Tiro e espaldões para metralhadora pesada, para a defesa imediata desta posição, tal como foi instalada em 1941, mobilizada ​para a Ilha Terceira pelo Grupo de Artilharia Contra Aeronaves Nº 1 – GACA 1 – Cascais[9], com a missão primária da defesa antiaérea da cidade e do porto de Angra do Heroísmo, durante a 2ª Guerra Mundial. Esta bateria, a única na Europa que conserva a integridade da sua construção e as respetivas peças aí colocadas, constitui um importante elemento de visita/estudo, a nível internacional, no âmbito tecnológico e táctico, dos sistemas de defesa AA da 2ª Guerra Mundial.

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Fig. 24 - Posição da Bateria de Artilharia AA Vickers 9,4 cm m/940, instalada no Pico das Cruzinhas em 1941.​

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Fig. 25 - Pormenor de um dos espaldões com a Peça AA Vickers 9,4 cm m/940.​


Não menos importante, um conjunto de viaturas militares que inclui dois raríssimos camiões Thornycroft, usados para o transporte da unidade geradora e reboque dos projetores de antiaérea, a partir da década de 1940.

Por fim, uma aeronave FIAT G-91 R/4, a única em Portugal que ainda possui os avionics no seu interior, integra igualmente o acervo da Unidade de Gestão de Militaria e Armamento do Museu de Angra do Heroísmo.

Por tudo isto, o Núcleo de História Militar Manuel Coelho Baptista de Lima, polo do Museu de Angra do Heroísmo, afirma-se como uma importante unidade museológica, repositório de grande diversidade de objetos, valiosos elementos de estudo no âmbito da História e Historiografia Militar, muitos deles, fazendo parte da memória militar da Ilha Terceira e dos Açores durante a 2ª Guerra Mundial ou da memória de muitos dos militares que combateram na Guerra do Ultramar 1961-1975.

 

Bibliografia

S.A.; 1941. Bateria Antiaérea Expedicionária aos Açores. Cota: PT/AHM/FO/006/H/11, Cx. 341, pasta 11.

AGOSTINHO, J.; 1943. História da Navegação do Holandês João Hugo de Linschoot às Índias Orientais. Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, I, 145-166

ANDRADE, L., 1993. A Aliança Inglesa e a Neutralidade Colaborante de Portugal. Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, LI – LII, 13-31.

ANDRADE, L., 1999. Os Açores no Século XX, um contributo para a sua História Militar. Arquipélago, 2ª Série, III, pp.447-456.

BORGES, A.; 2007. Os reais hospitais militares em Portugal administrados e fundados pelos Irmãos Hospitaleiros de S. João de Deus 1640-1834. Tese apresentada à Faculdade de Ciências Médicas. Universidade Nova de Lisboa, para a obtenção do grau de Doutor.

ICOM-Portugal; 2022. Definição de Museu. Disponível em https://icom-portugal.org/2015/03/19/definicao-museu/. Consultado em 14 de maio 2023: 22H15.

LINSCHOTEN, J.; 1596. Itinerario, voyage ofte schipvaert, van Ian Huygen van Linschoten naer Oost ofte Portugaels Indien, … . Amstelredam: Cornelis Claesz. Disponível em https://archive.org/details/itinerariovoyage00lins. Consultado em 14 de maio 2023: 21H30.

MARTINS, J., 2018. A Artilharia nos Açores. 5 Séculos a Troar na Terra, no Ar e no Mar. Ponta Delgada: Museu Militar dos Açores.

MENEZES, M.; 1932. O Hospital Militar da Boa-Nova. Angra do Heroísmo: Livraria Editora Andrade.


NOTAS

[1] Na planta da cidade de Angra desenhada por Jean Hugues van Linschoten, traçada com informações colhidas durante a sua estada na Ilha Terceira (agosto de 1589 e 1591), este hospital não está ainda representado (Linschoten, 1596).

[2] Um alvará de 2 de outubro de 1621 dá-nos conta do pedido para reedificar o antigo Hospital da Misericórdia em Angra, o qual foi deixado, após 32 anos de ocupação castelhana, em mau estado e quase por terra. O facto deste antigo hospital ter sido deixado pelos castelhanos em 1615 leva-nos a pensar que o Hospital Real Militar da Boa Nova estava já em funcionamento nesta data (Archivo dos Açores, Livro VII).

[3] Após a batalha de Alcântara e a conquista de Lisboa pelo Duque de Alba, foi construído no Castelo de S. Jorge um hospital militar, operado pelos freires da Ordem Hospitaleira de S. João Baptista, para assistir aos feridos de guerra, de terra e do mar, mas que, pouco depois, foi extinto por não haver, entretanto, necessidade da sua manutenção. Por oposição ao hospital de sangue, montado no local da batalha, e ao hospital de campanha, montado provisoriamente na retaguarda da zona de batalha, o hospital permanente destinava-se a prestar assistência aos feridos, convalescentes ou doentes militares em geral, sem que esteja especificamente associado a uma campanha ou batalha.

[4] Entretanto com o Capítulo português separado do Capítulo castelhano.

[5] Borges, 2007.

[6] A título de exemplo, a grande peça em ferro forjado dita de Malaca, foi levada da Ilha Terceira para Lisboa, encontrando-se em exposição na Sala Afonso de Albuquerque do Museu Militar de Lisboa. Apenas esta é conhecida pois, infelizmente, o Museu Militar de Lisboa não reteve, à época, a informação da localização das bocas de fogo que vieram dos espaços insulares.

[7] A priori, a capela terá sido construída simultaneamente com o hospital militar, como seria natural a inclusão de um espaço religioso para cuidar das almas a par dos corpos. Como referido, a gravura da cidade de Angra, realizada por Linschoten, tal como a viu entre 1589 e 1591 (Linschoten, 1596), não representa nenhuma estrutura edificada neste local. Há, no entanto, indícios, difíceis de documentar, que referem vagamente a existência prévia de uma ermida da Irmandade do Terço, neste local. Importa perceber se esta designação se refere ao Terço como força militar (tercio) ou ao terço como oração.

[8] Um museu é uma instituição permanente, sem fins lucrativos e ao serviço da sociedade, que pesquisa, coleciona, conserva, interpreta e expõe o património material e imaterial. Abertos ao público, acessíveis e inclusivos, os museus fomentam a diversidade e a sustentabilidade. Com a participação das comunidades, os museus funcionam e comunicam de forma ética e profissional, proporcionando experiências diversas para educação, fruição, reflexão e partilha de conhecimento (ICOM-Portugal, 2022).

[9] s.a., 1941.

 

Jaime Ferreira Regalado

Gestor da unidade de Militaria e Armamento e da unidade Africana, como Técnico Superior do Museu de Angra do Heroísmo. Licenciado em Bioquímica pela Faculdade de Ciências/UL e pós-graduado em História Militar pela Universidade Lusíada de Lisboa. Possui os estudos avançados em História, Defesa e Relações Internacionais pela Academia Militar/ISCTE-IUL e, no presente, doutorando em História Insular e Atlântica, pela Universidade dos Açores. Desde 1991 que se dedica ao estudo do armamento ligeiro, em especial ao armamento regulamentar português e, mais recentemente, ao estudo da artilharia nas suas dimensões técnica e tática.​


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Como citar este texto:

REGALADO, Jaime Ferreira – Núcleo de História Militar Manuel Coelho Baptista de Lima. Angra do Heroísmo - Açores​. Revista Portuguesa de História Militar - Dossier: Portugal no Contexto da Segunda Guerra Mundial, 1939-1945. [Em linha] Ano III, nº 4 (2023). ​[Consultado em ...], https://doi.or​g/10.56092/HKBK8334​


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