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13 - A Restauração da Artilharia, nas Fortificações e nos Navios
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A RESTAURAÇÃO DA ARTILHARIA, NAS FORTIFICAÇÕES E NOS NAVIOS.

 

 HNO.jpg

Pedro Marquês de Sousa




Resumo

A guerra da restauração da independência (1640-1668) decorreu num período de grande desenvolvimento da artilharia, nas fortificações e nos navios das principais potências da Europa. Os portugueses tiveram o apoio dos grandes poderes militares e apesar das dificuldades económicas e da degradação das capacidades militares, durante o domínio filipino, foi possível reorganizar o aparelho militar, especialmente a artilharia. Este breve artigo, tem o objetivo de identificar as principais inovações da artilharia, nas operações em terra, na artilharia naval e nos fortes de defesa da costa.

Palavras-chave: Artilharia; fortificações; baluartes; navios de linha; artilharia naval; artilharia de guarnição; artilharia de campanha. 

Abstract 

The portuguese independence war (1640-1668) took place during an important period of firepower history, in the fortifications and ships of the main European powers. Portuguese diplomacy had the support of the main military powers of that time, and therefore, despite the economic difficulties of the Portuguese empire and the decline of its military power, during the spanish domination, it was possible to reorganize the military power, especially artillery. This article aims to identify the main innovations in field artillery, fortifications, naval artillery and coastal defense forts.

Keywords: Artillery; fortifications; bastions; ships; naval artillery; garrison artillery; field artillery.

 

 

 

Introdução

Após vários anos de decadência, em 1640 os arsenais portugueses não tinham artilharia, pois entre 1580 e 1640 foram levadas para Espanha mais de 7.000 peças portuguesas, mas após a aclamação do rei D. João IV, o Conselho de Guerra criou a “Tenência Geral de Artilharia" responsável por fabricar e adquirir a artilharia para servir em terra e nos navios.[1] No inicio de 1641 foram tomadas medidas sobre as fortificações de Setúbal, de Lisboa, de Cascais e de Peniche, assim como relativamente ao equipamento dos navios. 

Em 1641 vieram da fundição de Macau para Lisboa, 200 canhões[2] e o corpo dos “bombardeiros da nómina" foi reorganizado[3], assim como a formação dos artilheiros, que além da escola dos bombardeiros em Lisboa, passou a contar com escolas de ensino superior: a Aula de Artilharia e Esquadria criada em Lisboa em 1641[4] e reorganizada em 1647 e as Aulas de Fortificação e Arquitetura Militar, no Brasil, na India e em Angola. A Artilharia passou a ter uma organização militar, como a Cavalaria e a Infantaria[5] e foram criados os “troços de artilharia" os corpos militares que deram origem aos Regimentos. Na fase inicial, a defesa do litoral mereceu grande atenção, especialmente nas barras dos rios Tejo e Sado, mas a prioridade era a defesa da fronteira terrestre, pois a degradação do poder da armada espanhola e o estabelecimento da paz entre Portugal e a Holanda, reduziu a ameaça vinda do mar. No Brasil, a ameaça dos franceses e dos holandeses obrigou os portugueses a melhorarem o aparelho militar naquela colónia, pois enquanto na India tínhamos mais de duas mil bocas de fogo, no Brasil antes da guerra existiam apenas 131 bocas de fogo.[6]

A evolução da Artilharia no século XVII

Durante a guerra, a artilharia viveu um novo período de progresso, recebendo as inovações do estrangeiro, pois a maior parte das novas peças de artilharia vinham da Suécia[7] da Holanda e de Inglaterra. As primeiras encomendas foram feitas aos holandeses[8] que nos forneceram 55 peças de artilharia (27 de bronze e 28 de ferro) e 6 morteiros, além de balas e granadas para os morteiros[9] e no mesmo ano em 1641, a encomenda de 460 peças à Suécia, contemplava 240 peças em bronze e 220 peças em ferro. No século XVII surgiram inovações na forma dos tubos, que passaram a ter reforço duplo[10], modelo originário da flandres no século XVI, que foi adotado em Portugal durante o domínio filipino. As peças de artilharia passaram a ter uma asa de golfinho na culatra e duas asas na parte superior, em substituição dos olhais (argolas) característicos do século XVI, assim como o eixo dos munhões passou a estar debaixo do tudo, mudança que também surgiu no século XVI, mas que na artilharia portuguesa ocorreu no século XVII. 

Outra novidade que melhorou o alcance da artilharia e tornou os tubos mais leves, foi a mudança da forma “cilíndrica" dos tubos, para a forma “cónica", com a câmara de combustão em cone, onde era colocada a pólvora (carga propulsora) dando origem à designação de artilharia “encampanada" (como os sinos). A fig. 1 apresenta um tubo sem reforço duplo, ainda com 4 argolas, e outro já com o 2.o reforço ( parte B) e com asas de golfinho. 

 Figura 1.jpg
Fig. 1 – Meia colubrina legitima (A e B) sem reforço e meia colubrina bastarda “reforçada" com culatra, primeiro reforço (A), segundo reforço (B) e bolada (C).

 

A artilharia em terra e no mar usava três tipos de armas, as colubrinas, os canhões e os pedreiros de curto alcance[11]: as colubrinas tinham tubos mais compridos e maior alcance do que os canhões, que eram mais pesados, com tubos menos compridos e assim com menor alcance. Os pedreiros (falconetes e sacres) eram de retrocarga e sendo mais ligeiros e com maior cadência de tiro, eram usados na defesa próxima das fortificações e dos navios. Nestas peças ligeiras de carregamento pela culatra, os portugueses usaram em segredo, as balas de ferro revestidas de chumbo, a “arma secreta" que aproveitava as características do chumbo[12](maleável) para ajustar a bala no tubo (obturação) para aproveitar melhor a energia resultante da deflagração da pólvora, reduzindo as perdas de energia, entre a bala e a alma (interior) do tubo. No século XVII ocorre a distinção, entre as peças usadas em terra e nos navios e uma nova forma de classificar as bocas de fogo, segundo o peso da bala[13], na mesma época em que na artilharia naval, os tubos em ferro fundido, começam a substituir os tubos em bronze, menos dispendiosos, sem necessidade do cobre vindo do oriente. 

No Tratado de artilharia português[14] temos a seguinte classificação, das peças em bronze e de ferro, conforme o peso da bala em libras (lbs): 

Peças em Bronze
Peças em Ferro
Tipologia   
lbs
​Peças de cana seguida
lbs
Tipologia
Tipologia
Meia colubrina bastarda
1​2 e 13
Falconetes
1 e 2
Falconetes
 1 e 2
Terço de canhão
14 e 15
Ramalhetes
 3 e 4
Ramalhetes
3 e 4
Colubrina de campanha
16 e 17
Meio sacre
5 e 6
Meio sacre
5 e 6
Meio canhão françês
18
Sacre
7 a 9
Sacre
7 a 10
Outros
19 a 21
Meia colubrina bastarda
11
Colubrina real
22 e 23
Terço de canhão françês
12
Meio canhão
24 e 25
Meia colubrina
13 e 14
Canhão inteiro
48
V Colubrina
15 e 16
Canhão françês
36
Meio canhão françês
7 e 18
Canhão alemão
64




Em Tanger[15] ainda podemos ver um canhão do século XVII, com as armas de Portugal e o nome do rei D. João IV, assim como no Brasil temos um exemplar de 1653, dos canhões (bronze) usados nos navios portugueses nos combates com os holandeses. 

 Figura 2  2.jpg

Fig. 2 – Canhão em Tanger e canhão no Brasil no Museu Histórico Nacional.

 

A designação “colubrina" deriva do latim colubra (cobra) e as mais ligeiras (meia colubrina) eram  designadas por “àspide",uma cobra mais pequena, mas muito venenosa. As colubrinas, devido ao seu tubo comprido, tinham mais alcance e precisão, como aáspide de bronze de 12 libras, (fig. 3) fundida no inicio da guerra, que disparava balas em ferro de 5,5 kg (12 lbs). Na fig. 4 a imagem do “meio canhão" de 18 libras, mostra que tem o tubo mais curto ( menos alcance) do que as colubrinas, mas disparava balas de ferro, mais pesadas, de 8,2 Kg ( 18 lbs).

 Figura 3.jpg

Fig. 3 – Meia colubrina (áspide) de 12 libras, fundida em Portugal (Museu Militar Lisboa).

Figura 4.jpeg

Fig. 4 – Meio-canhão de bronze de 18 libras, fundido em Macau em 1640.

 

A Artilharia na Fronteira Terrestre

Nos fortes a artilharia era usada para impedir o avanço da infantaria inimiga, mas também para manter a artilharia inimiga afastada, para evitar o tiro direto contra as muralhas. Nas fortificações abaluartadas, o atacante não conseguia permanecer junto das muralhas, porque os “baluartes" permitiam atacar o inimigo de vários ângulos, cruzando fogos[16] para o adversário não ter possibilidade de abrir uma brecha ou escalar. Como mostra a fig. 5, a artilharia podia fazer: tiro direto (1) ou frontal (a menos de 50 metros), tiro enfileirado (2), tiro de ricochete (3), tiro cruzado (4), tiro curvo (5) de morteiro, tiro obliquo (6) e tiro de flanco (7) e por isso o desenho da planta de um forte, devia considerar as linhas de tiro, para a artilharia ter capacidade de bater toda a área em torno dos fortes (não haver zonas mortas). 

 Figura 5.jpg

Fig. 5 – Os tiros de artilharia e as fortificações abaluartad​as.

 

A artilharia mais usada na fronteira terrestre, eram “meio-canhões" de 24 lbs, “colubrinas" de 16 lbs, “meia-colubrinas" de 12 lbs, “sacres" de 7 lbs e outras “peças" de 4 lbs, como foram os casos de Elvas (1663) e de Campo Maior (1659).[17]

Extremoz (1658)

Campo Maior (1659) 

Elvas 1663 (Praça e forte Stª Luzia)

Meios canhões 24 lbs​

Colubrinas 16 lbs

Colubrinas bast 7 lbs

8 meio canhão 24 lbs

3 terço canhão 16 lbs

3 quarto canhão 12 lbs

2 meio colubrina 12 lbs

1 meia colubrina 10 lbs

3 sacres 7 lbs

3 canhões ferro 7 lbs

6 canhões ferro 4 lbs

1 trabuco 85 lbs

11 meio canhão 24 lbs 

1 meio canhão 12 lbs  

3 quarto canhão 10 lbs

3 terço canhão 16 lb

1 meia colubrina 16 lbs

3 meia colubrina 12 lbs

4 sacres 7 lbs

1 meio sacre 4 lbs

1 pedreiro 10 lbs

1 pedreiro 8 lbs

4 peças da Suécia 9 lbs

1 peça da Suécia 6 lbs

1 peça em ferro 4 lbs

3 peça cavalaria 4 lbs

3 falcão 2 lbs

1 falcão 1 lbsz


Foi o poder de fogo que ditou a evolução nas fortificações, especialmente nas de defesa terrestre e uma das regras, era o declive do parapeito (1) na frente, ser o mesmo do parapeito superior (7) para a artilharia ter campo de tiro. A fig. 6 representa a esplanada (1), o caminho coberto e a banqueta para infantaria (2), a contraescarpa (3), o fosso (4), a vala de escoamento de água (5), a escarpa (6), o parapeito (7) e a posição da artilharia (8).

Figura 6.png

Fig. 6 – Infantaria e Artilharia nas fortificações de defesa terrestre.

 

A Praça de Elvas construída entre 1645 e 1653, foi a primeira localidade a ser "fortificada" no período da restauração[18] com cerca de 50 bocas de fogo distribuídas conforme a relação de 1663[19] que mostra que em cada baluarte, eram colocadas peças de vários tipos, com missões complementares, como mostram os dados seguintes, da artilharia nos baluartes.[20]

 Figura 7.jpg

Fig. 7 – Os baluartes da Praça de Elvas (século XVII).

 

BaluartesTipos de peças na Praça de ElvasTotal
4 lbs5 lbs6 lbs7 lbs10 lbs12 lbs16 lbs24 lbs
A
  31    4
B    12 36
C  12 11 5
D123     6
E      1 1
F     3  3
G
      1 1
H       33
J     1 23
K      112
L 2 3    5
M   1 1136
Total14771851245​

 ​​

Figura 8.jpg

Fig. 8 – Baluartes com cavaleiro (dois niveis de artilharia) em Valença do minho e em Elvas (baluarte S. João de Deus) local D na fig.7.

 

Relativamente aos alcances da artilharia, devemos considerar o alcance prático e o alcance útil: no prático (de combate) os tiros tinham maior probabilidade de acertar no alvo e de causar danos, enquanto no limite do alcance útil o tiro ainda causava efeitos, mas com menos precisão (apenas 20%) tendo apenas um tiro eficaz, por cada 4 ou 5 tiros disparados. O tiro da peça de 12 lbs era útil até aos 700 metros, mas em combate era mais eficaz até aos 500 metros (200 m abaixo do alcance útil).

 Alcance útilAlcance prático (combate)
Peça de 12 lbs700 m500 m
Peça de 8 lbs600 m400 m
Peça de 4 lbs400 m200 m

 

A Artilharia de Campanha 

Na última fase da guerra, sob a influência do Conde de Schomberg (1615-1690) e dos especialistas que vieram para Portugal em 1660[21], foi desenvolvida a artilharia de apoio à infantaria, em campo aberto. Na defesa de Vila Viçosa (1665) apesar do mau estado das fortificações, as 11 peças da artilharia foram importantes no apoio a um dispositivo em várias linhas, com posições no exterior da vila, assim como na força de socorro que foi enviada de Estremoz para Vila Viçosa, com a artilharia distribuída de forma escalonada ao longo da coluna: na vanguarda a força de infantaria (500 homens) contava com o apoio de 6 peças de artilharia, além das restantes que foram decisivas, em Montes Claros.

As peças de artilharia tinham alcances quatro ou cinco vezes superiores ao alcance dos mosquetes e cada tiro de artilharia podia atingir vários elementos do inimigo, com uma cadência de tiro superior às armas de fogo portáteis. Uma bala de canhão contra a infantaria, podia neutralizar trinta a quarenta homens, até aos 500 metros, enquanto as armas da infantaria eram inúteis para além dos 100 metros. A artilharia de campanha podia ainda fazer tiro de ricochete, o que aumentava o alcance em cerca de 200 m (após o primeiro toque no solo) além de outros lanços em distâncias decrescentes. A expressão “artilharia de batalhão" usada na história militar, traduz esta inovação do século XVII, quando as unidades de infantaria foram dotadas de peças de artilharia ligeira, com boa mobilidade, uma das inovações de Gustavo Adolfo na guerra dos 30 Anos (1618-1648) com canhões de bronze de 3 e 4 libras, que foram decisivos na batalha de Breitenfeld (1631).[22]

 Figura 9.jpg

Fig. 9 – Canhão sueco de 3 libras, de artilharia de campanha.


A artilharia de campanha afirmou-se na batalha de Montes Claros (1665)[23] em que os portugueses utilizaram 20 peças de artilharia[24] a maior parte de calibres ligeiros (4, 6 e 7 libras) mas também colubrinas de 12 lbs e meios canhões de 24 lbs. Os meios canhões (24 lbs) eram as peças mais pesadas usadas na artilharia de campanha, enquanto as de menor calibre, serviam para apoiar o combate próximo da infantaria e da cavalaria. 

Na reconquista de Mourão (1657) as forças portuguesas que cercaram a vila, tinham um trem de artilharia constituído por 14 peças em bronze (6 meio-canhões de 24 lbs e 8 peças de 12 lbs) que foi decisivo no ataque às muralhas e ao interior da praça. Na batalha das linhas de Elvas (1659) quando a cidade foi cercada pelo exército espanhol, a praça-forte tinha apenas 20 bocas de fogo e a força de socorro que saiu de Extremoz, trazia 9 bocas de fogo. O ataque português às linhas de cerco espanholas, teve o apoio da artilharia de campanha que veio de Estremoz e também da artilharia instalada no meio baluarte do Príncipe (baluarte H na fig. 7). 

Cerco de Mourão (1657)

Batalha de Montes Claros (1665)

6 meio canhão de 24 lbs

8 colubrinas de 12 lbs

2 meio canhão de 24 lbs

3 colubrinas de 12 lbs

15 peças (sacres) de 6 e 7 lbs

 

No Alentejo o centro de gravidade era a praça de Elvas e a praça de Estremoz era uma base recuada, de apoio ao dispositivo avançado: Campo Maior, Olivença, Castelo de Vide, Arronches, Ouguela, Juromenha, Monsaraz, Mourão e Moura. Na Beira os dois centros principais eram Almeida e Penamacor, em Trás-os-Montes era Miranda, Bragança e Chaves e no Minho, a sede do governo militar era em Viana do Castelo, mas o centro de operacional era a praça de Valença, que comandava os fortes ao longo da margem sul do rio Minho, desde Caminha, Cerveira, Valença, Monção e Melgaço. 

 

A Artilharia e o Poder Naval

No século XVI, os portugueses tiveram um poder naval extraordinário, mas no século XVII a situação era muito diferente, pois quando os holandeses chegaram à Ásia, os navios portugueses de alto bordo eram poucos, estavam mal artilhados e as guarnições já não estavam treinadas para combater, porque realizavam essencialmente operações logisticas. Os navios holandeses tinham mais artilharia e conseguiam anular o potencial dos portugueses, porque tendo mais mobilidade, evitavam a abordagem e apostavam mais no ataque com artilharia.[25] Posteriormente os navios começaram a praticar a táctica de “linha" para utilizarem os canhões laterais com mais eficácia, o que deu origem à designação de “navios de linha" para os que tinham mais artilharia. Nesta época a artilharia naval  tinha um alcance efetivo até aos 450 metros, embora o alcance prático em combate, fosse apenas até aos 300 metros.[26]

 Figura 10.jpg

Fig. 10 – Canhão de um galeão apontando a uma nau Victoria" (réplicas).

 

Os navios aumentaram as suas dimensões e a artilharia passou a ser distribuída em dois ou três níveis: os canhões mais pesados ficavam no nível inferior e os mais ligeiros na parte superior. As peças de artilharia naval foram reduzindo o peso e o comprimento, mas aumentaram a cadência de tiro e o alcance com menor consumo de pólvoras e os galeões tinham peças de três tipos (12 libras, 8 libras e 6 libras) e as fragatas artilharia mais ligeira de 6 e 4 libras. Nos “navios de linha" a artilharia estava organizada em duas ou três baterias (fig.11): a bateria principal, com as peças de maior calibre[27] eram destinadas a atacar outros navios e atacar alvos em terra; a bateria secundária incluia as peças de médio calibre, era colocada no convés ou na coberta intermédia, e era destinada a danificar as partes menos resistentes (mastros, velas e as amuradas). A bateria auxiliar, tinha as peças de pequeno calibre (falconetes e pedreiros)[28] colocadas nos castelos de proa e de popa, na tolda e nas gáveas, para  atingir pessoas, o leme e outros pontos criticos. Além das peças dispostas nas duas bordadas, muitos navios tinham “peças de caça" na proa, viradas para a frente e “peças de guarda" (cães) na ré, nos dois lados do leme.[29]

Fig. 11 – Modelo com 2 baterias ( 2 cobertas) e com 3 baterias (convés e duas cobertas).

 

Foi no periodo da guerra que surgiram as primeiras fragatas, a Santo António (1641-1644), a S. João Baptista (1642-1651) e a S. Teodósio (1642-1647) que tinham menos artilharia que os navios de linha, mas tinham mais velocidade e manobrabilidade. Quando em 1642 foi organizada a primeira Armada de Guarda Costa,[30] os galeões e as fragatas estavam artilhados da seguinte forma.

Navios
 Bocas de Fogo

 

 

Galeões  

Bom Jesus de Sta Tereza

São Baltazar

São Pantaleão

Santa Margarida

Santo Milagre

S. Pedro de Hamburgo

Santa Catarina

Nossa Sra da Nazaré

Bom Jesus de Bouças

60

40

36

36

36

26

20

22

16

 

Fragatas

São João Baptista

São Teodózio

Holandesa

Santa Ana Maria

Santo António

24

14

sd

8

14

 

Vejamos o caso do navio “Santa Tereza", que inspirou a construção da réplica “Nau Portugal"  da qual temos fotografias, (fig.12) que permitem ver a bordada de uma bateria (coberta).

Figura 12.jpg

Fig. 12 – A nau Portugal em 1940, réplica de um navio do século XVII.


Do “Santissimo Sacramento" (1650-1668) equipado com 60 peças de artilharia, que naufragou em Salvador da Bahia em 1668, foram recuperadas peças de bronze, inglesas, holandesas e portuguesas como os dois canhões 26 lbs, fundidos em Lisboa entre 1649 e 1653, com as armas do rei D. João IV e que estão no forte de S. António da Barra, em Salvador da Bahia. 

 Figura 13.jpg

Fig. 13 – Peças com armas de D. João IV, do navio que afundou em 1668.

O período da guerra, foi a última fase das caravelas, quando o patacho de três mastros, de origem holandesa, começou a ser utilizado na Armada Portuguesa, por ter mais velocidade e poder de fogo que as caravelas. Os navios com mais poder de fogo eram as naus de guerra (com 56 a 70 peças), os galeões (30 a 60 peças), as fragatas (30 a 50 peças) e os patachos (30 a 40 peças) e cada nau tinha 4 tipos de peças (calibres 6, 8 e 12 ou 16 libras) e as fragatas tinham peças mais ligeiras de 4 e 6 libras.[31]

NausQuantidade de peçasCalibres (lbs)
Nossa Senhora da Esperança706/8/16
São Benedito706/8/16
Santa Clara706/8/16
Nossa Senhora da Assunção566/8/12
São Boaventura566/8/12
Nossa Senhora das Ondas566/8/12
Nossa Senhora da Penha de França566/8/12
Fragatas  
Nossa Senhora Boa Viagem304/6
Nossa Senhora Bom Sucesso304/6
Santo António de Caravala304/6
Mazagão304/6

 

A Artilharia nos Fortes do Litoral

Em 1644 o rei D. João IV deu instruções para o Conselho de Guerra avaliar o estado da artilharia nas fortalezas da barra de Lisboa, de Setúbal e na costa de Peniche[32] e durante o seu reinado foram construídos 24 fortes só na barra do rio Tejo. As primeiras defesas de Lisboa eram asseguradas pelo forte de S. Julião da Barra - Torre do Bugio (centro) - Forte da Trafaria e a outra linha era garantida pelo cruzamento de fogos entre a Torre de Belém e a Torre Velha da Caparica (S. Sebastião). 

Figura 14.jpg 

Fig 14 – O cruzamento de fogos de artilharia, no rio Tejo[33].


Para se avaliar os alcances, vejamos que na época, a distância que separa o forte de S. Julião e a torre do Bugio, foi estimada em 800 metros, a mesma largura do rio, entre a torre de Belém e o forte da Caparica, pelo que, para cruzarem fogos, cada um dos fortes devia ter artilharia capaz de atingir 400 metros, em tiro de combate. A fortaleza de S. Julião da Barra (S. Gião) era a fortificação principal, da qual dependiam outros fortes como o da Cabeça Seca (torre do Bugio), construida entre 1643 e 1657, inicialmente com 7 peças de artilharia e mais tarde artilhada com 14 peças de 24 lbs, 12 peças de 12 lbs e uma de 6 lbs, todas em bronze.

 Figura 15.jpg

Fig. 15 – Peça em bronze 12 lbs fundida na Suécia, que esteve no forte do Bugio.

 

Nas fortalezas na costa, existia uma grande diversidade, desde os canhões mais pesados até aos falconetes de pequeno calibre, sendo que, os mais comuns eram: canhões de 44 lbs, 36 lbs e 24 lbs, os meio canhão de 24 lbs, 15 lbs e 16 lbs, as colubrinas de 14 lbs e 18 lbs, as meia colubrinas de 10 lbs e 12 lbs, os sacres de 3 lbs e 5 lbs e os falconetes de 1 ou 2 lbs.

 

Torre de Belém(1657)

St António da Barra (Estoril) 

S. Sebastião da Caparica(1644)

Peniche

1 canhão 24 lbs

7 meio canhão 16 lbs

4 meia colubrina 12 lbs

1 meia colubrina 10 lbs

1 falconete 1 lbs

(bronze)

3 canhões 36 lbs

1 colubrina 18 lbs

1 meia colubrina 10 lbs

 

2 canhões 44 lbs

1 canhão de 30 lbs

1 meio canhão 24 lbs

1 colubrina 14 lbs

1 falconete 2 lbs

 

3 meio canhão 15 lbs

1 colub bast. 14 lbs

1 meia colub 10 lbs

1 sacre de 5 lbs

1 sacre colubr. 3 lbs

Em ferro:

3 peças de 16 lbs 

1 peça de 10 lbs 

4 peças de 4 lbs

4 peças de 5 lbs

  Figura 16.jpg

Fig. 16 – Forte de São J​ulião da Barra.

 

Os pequenos fortes (baterias) tinham apenas 2 ou 3 peças, mesmo na barra do Tejo e noutras zonas costeiras, como na costa oeste do Algarve, onde além das fortalezas mais importantes, de Sagres e de Lagos, existiam pequenos fortes para garantirem o apoio mútuo (cruzamento de fogos) entre si e reforçarem a artilharia das fortalezas maiores. Nestes fortes as muralhas não precisavam de ser tão resistentes como nas fortalezas do interior, pois a artilharia dos navios não tinha o poder da artilharia de cerco. Apesar disso nos fortes mais importantes do litoral, também existiam baluartes no lado de terra, para enfrentar uma eventual ameaça vinda do interior, como o forte de S. Julião da Barra, que dada a situação verificada em 1580, passou ter um revelim (1) do lado de terra, além das plataformas (2) e (3) onde ficava a artilharia para atacar os navios. Em alguns fortes, tal como nos navios, a artilharia era colocada em dois níveis (bateria baixa e bateria alta) para aumentar o poder de fogo, como na zona (3) de S, Julião com dois níveis e como a Torre da Caparica, que tinha na “bateria baixa" 2 canhões de ferro de 48 lbs, 2 peças de ferro de 24 lbs, 1 meio-canhão de bronze de 24 lbs e 1 meia-columbrina (bronze) de 8 lbs, e na “bateria alta" tinha artilharia ligeira: 5 peças de ferro de 6 lbs, um falconete de bronze de 1 libra e um falconete de ferro de 2 libras.

 Figura 17.jpg

Fig. 17 – Três canhões em reparos de patesca (Cascais) e dois em reparos marinhos (na foz do rio Douro) no forte S. Francisco Xavier.

 

Conclusão

Na direção superior da guerra, os responsáveis compreenderam que seria mais eficaz adoptar uma atitude “defensiva" apostando no reforço da artilharia e nas fortificações, em vez de ações “ofensivas." Assim, a restauração foi um período marcante na instalação da arquitetura militar moderna, contando com a experiência de holandeses e das doutrinas francesas do “pré-carré" de Vauban. Na artilharia foi igualmente um período de muitas inovações, quando o alcance prático em combate, chegou aos 500 metros (tiro direto), cinco vezes mais do que os mosquetes, ou ainda mais, em tiro curvo ou no tiro de ricochete. Os tubos deixaram de ter olhais (argolas), passaram a ter duplo reforço, com duas asas na parte superior e uma na cascavel (culatra) e os tubos passaram a ter forma cónica, em vez de cilíndrica, o que aumentou os alcances e tornou os tubos mais leves. 

Na nossa artilharia,  para os calibres mais comuns usados na guerra, podemos resumir os seguintes dados com as unidades de medida atuais.​


Calibre em LibrasCalibre em milímetrosPeso da bala (Kg)

Alcance Prático (m)

Alcance m​áximo
Calibre 24150 a 155 mm10 a 12 Kg400 m2000
Calibre 12120 mm5 a 6 Kg350 m2000
Calibre 6100 mm3 Kg300 m1500
Calibre 480 a 85 mm1 a 2 Kg250 m1000

 

 

Fontes e Bibliografia

Arquivo Histórico Militar (AHM)

PT/AHM/DIV/1/01/2/23, Tratado de Artilharia escrito circa 1642/1656. 

PT/AHM/DIV/4/1/23/105

PT/AHM/DIV/4/1

PT/AHM/DIV/1/06/50/02

PT/AHM/FE/010/B01

PT/AHM/DIV/2/01/04/08

PT/AHM/DIV/2/01/01/20

PT/AHM/DIV/3/01/01/10 - Praças, Castelos, Fortes e Reductos que El-Rei de Portugal tem Artilharia e Guarnição e as de Castela que fazem frente a Portugal. 1719. 

PT/AHM/DIV/1/08/02/18

Arquivo Nacional da Torre do Tombo (AN/TT)

AN/TT:PT/TT/CCDV/29 Descrição e plantas da costa dos castelos e das fortalezas, desde o Algarve até Cascais, por Felippe Tersio, 1607-1617.

ANTT Conselho de Guerra, Consultas, 1661, maço 21. Rellação da Artilharia e Armas e muniçoens que se acharão na Praça de Campo Mayor feita pello Comissário geral da Artilharia Manuel de Villanoua em quinze de Setembro de 659, relação anexa à consulta de 22 de Janeiro de 1661. 

 ANTT, Conselho de Guerra, Consultas, 1664, maço 24, relação anexa à consulta de 30 de Janeiro de 1664, relativamente a 31 de dezembro de 1663.

Arquivo Histórico Ultramarino (AHU)

AHU_ACL_CU_017 Cx 66 Documentos 1763 e 6183.

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AHU_ACL_CU_010_CX12 Doc 736

AHU_ACL_CU_010_CX13 Doc 787

AHU_ACL_CU_010_CX13 Doc 754

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AHU_ACL_CU_010_CX17 Doc 1037

AHU_ACL_CU_010_CX18 Doc 1114

AHU_ACL_CU_089 Cx 2 Doc 199

AHU_ACL_CU_010 Cx 9 Doc 534

AHU_CV0 17_Cx 30 Doc 3215

AHU_ACL_CU_020 Cx 6 Doc 265

AHU_ACL_CU_010, Cx. 12\Doc. 751

Biblioteca Nacional de Portugal

Relação das Armas adquiridas na Suécia, (documento de 31 dezembro de 1641) Biblioteca Nacional (Reservados Cod. 816P, folhas 282).

Relaçam das armas munições, petrechos de guerra que trás de amsterdam o embaxador Tristão de Mendonça Furtado, datada de 1641, publicada em Lisboa pelo impressor do rei, Antonio Alvarez.

 

Fontes publicadas

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BOTELHO, José Justino Teixeira – Novos Subsídios para a História da Artilharia Portuguesa. Lisboa: Publicações da Comissão de História Militar Lisboa, 1944.

CASTRO, Adler Homero Fonseca de Castro – Muralhas de Pedra, Canhões de Bronze, Homens de Ferro: Fortificações no Brasil de 1504 a 2006. V. 2 – Regiões Norte e Nordeste. Rio de Janeiro: Fundação Cultural Exército Brasileiro, 2009.

COSTA, Graciete da – Fortes Portugueses na Amazónia Brasileira. Tese pós-doutoramento. Universidade de Brasília, 2015. 

FERREIRA, Arnaldo Medeiros – Fortificações Portuguesas no Brasil. Edições ELO, 2004. 

MENEZES, Luís de / Conde da Ericeira – História de Portugal Restaurado. Edição, anotada e prefaciada por António Álvaro Dória. Porto: Livraria Civilização, 4 vols., (1945-1946). 

MORENO, Diogo de Campos – Livro que dá razão do Estado do Brasil. RJ: INL, 1968.

MURTEIRA, André – A navegação portuguesa na Ásia e na rota do Cabo e o corso neerlandês, 1595-1625. Tese Doutoramento. História dos Descobrimentos e da Expansão Portuguesa. FCSH/UNL, 2016.

PEREIRA, José António Rodrigues – Marinha Portuguesa nove séculos de História. Lisboa: Comissão Cultural da Marinha, 2010.

PIMENTEL, Luís Serrão – Método Lusitânico de Desenhar as Fortificações das Praças Regulares e Irregulares. Lisboa: Edição Fac-Similada Impressa nas Gráficas da Imprensa Nacional, Direcção da Arma de Engenharia, 1993. 

SANTOS, Valdez dos – Apontamentos para a História da Marinha Portuguesa. A Época da Guerra da Restauração (1640-1668). Lisboa: Academia de Marinha, Vol. I, 1991.

SOUSA, Pedro Marquês de – “A Artilharia da Praça de Elvas". In Fortificação do Território, Museu da Presidência da República, 2013.

______________________ – “A Aula de Artilharia e Esquadria Criada em 1641 em Portugal". In Revista Proelium, VII (11), Academia Militar, 2016.

 



NOTAS

[1] O decreto de 29 de dezembro de 1640, criou a Tenência Geral de Artilharia e o decreto de 27 de dezembro de 1640 estabeleceu normas relativas à defesa marítima de Lisboa.

[2] A Figura 4 deste artigo, mostra uma das peças fundidas em Macau em 1640.

[3] O corpo dos Bombardeiros da Nómina, criado em 1515 por D. Manuel I, estava desfalcado em 1640, mas foi reorganizado, passando de um quadro de 101 homens (100 bombardeiros e um condestável, comandante) para 300 homens.

[4] Luis Serrão Pimentel (1613-1679) que foi cosmógrafo-mor (1641) e engenheiro mor (1671) do reino de Portugal, foi o organizador da Academia Fortificação de Lisboa (1647) e autor do tratado de fortificação do século XVII, o Método Lusitânico de Desenhar as Fortificações das Praças Regulares e Irregulares, publicado em 1680.

[5] Decreto de 23 de fevereiro de 1643.

[6] Diogo de Campos Moreno, Livro que dá razão do Estado do Brasil, RJ, INL,1968

[7] Relação das Armas adquiridas na Suécia, (documento de 31 dezembro de 1641) Biblioteca Nacional (Reservados Cod. 816P, folhas 282).

[8] "Relaçam das armas munições, petrechos de guerra que trás de amsterdam o embaxador Tristão de Mendonça Furtado", datada de 1641, publicada em Lisboa pelo impressor do rei, Antonio Alvarez.

[9] Além do material de artilharia, os holandeses forneceram 12535 mosquetes, 4800 arcabuzes, 1000 cravinas, 800 pistolas, barris de pólvora e granadas de mão. 

[10] Como mostra a Figura 1, os tubos com reforço duplo, (tubo modelo alemão) tinham as seguintes partes: culatra, primeiro reforço (A), segundo reforço (B) e bolada (C).

[11] As colubrinas tinham o tubo mais comprido (26 ou 32 vezes o diâmetro da boca) e os canhões tinham tubos mais curtos (18 a 20 vezes o diâmetro da boca) e os pedreiros tinham tubos menos compridos (inferior a 18 vezes o calibre ou diâmetro da boca). 

[12] Os portugueses foram pioneiros na utilização de chumbo na calafetagem dos navios (ligação entre as madeiras) recriando a técnica usada nas fortificações (nas cisternas de água) para evitar a perda de água.

[13] Depois de 1640, as bocas de fogo passaram a ser classificadas de acordo com peso da bala em libras, sendo que uma libra equivalia a 453,59 gramas.

[14] Arquivo Histórico Militar PT/AHM/DIV/1/01/2/23, Tratado de Artilharia escrito circa 1642/1656. 

[15] Em 1661,Tânger e Bombaim foram cedidas pelo rei de Portugal à Grã-Bretanha, de acordo com  o tratado de paz e como dote do casamento da princesa Catarina de Bragança, filha de D. João IV com o rei Carlos II de Inglaterra.

[16] O desenvolvimento do sistema de bastiões moderno desde suas origens medievais. Matthias Dögen, Matthiae Dögen Dramburgensis marchici Architectura militaris moderna, 1ª ed. (Amsterdã, Ludovic Elzevir, 1647).

[17] Rellação da Artilharia e Armas e muniçoens que se acharão na Praça de Campo Mayor feita pello Comissário geral da Artilharia Manuel de Villanoua em quinze de Setembro de 659, relação anexa à consulta de 22 de Janeiro de 1661, Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Conselho de Guerra, Consultas, 1661, maço 21.

[18] Na praça de Elvas já tinha funcionado uma escola dirigida pelos jesuítas e em 1651 o príncipe D. Teodósio criou uma escola de fortificação e artilharia em Elvas.

[19] ANTT, Conselho de Guerra, Consultas, 1664, maço 24, relação anexa à consulta de 30 de Janeiro de 1664, relativamente a 31 de dezembro de 1663.

[20] Além das 45 bocas de fogo instaladas na praça forte, o forte de Santa Luzia tinha 8 peças: 4 peças de 5 lbs, uma peça de 12 lbs, uma peça de 16 lbs e 2 peças de 24 lbs.

 

[21] O Conde Frederico de Schomberg (1615-1690) de origem prussiana, que veio para Portugal em 1660, para reorganizar o exército, foi importante no desenvolvimento da artilharia de campanha, como ficou demonstrado em 1665 na batalha do Ameixial e na batalha de Montes Claros em 1665. Foi um dos generais mais importantes na Europa do século XVII, tendo servido em França e na Prússia, duas escolas militares de referência e em 1666 foi nomeado comandante das nossas tropas no Alentejo.

[22] A batalha de Breitenfeld (1631) envolveu um intenso duelo de artilharia, durante duas horas, em que a artilharia dos suecos foi superior, com maior cadência de tiro do que o inimigo, que tinha uma artilharia mais pesada, com menos mobilidade e cadência de tiro.

[23] Na fase final da guerra, a influência da Prússia e de França, através do Conde de Schomberg (1615-1690) desenvolveu no exército de Portugal, a nova vertente da artilharia de campanha, que foi importante na defesa de Vila Viçosa, na batalha do Ameixial e na batalha de Montes Claros em 1665.

[24] História de Portugal Restaurado, Livraria Civilização, Porto, 1945-46, vol. IV, segundo a descrição do Conde da Ericeira, D. Luís de Meneses, que era o comandante da artilharia do exército do Alentejo.

[25] André Murteira, “A navegação portuguesa na Ásia e na rota do Cabo e o corso neerlandês, 1595-1625". Tese Doutoramento (2016). História dos Descobrimentos e da Expansão Portuguesa. FCSH, Univ.Nova de Lisboa.

[26] Não havia sistemas de pontaria eficazes para fazer um tiro preciso, além dos 500 metros, pelo que em combate, a artilharia naval não disparava para além dos 300 metros, para que as balas tivessem capacidade de penetrar no casco dos navios inimigos.

[27] Tal como nos navios, também nas fortalezas a artilharia mais pesada ficava nos níveis inferiores e os calibres mais ligeiros, nos níveis superiores. 

[28] Os pedreiros de bordo, usados em Portugal depois de 1622 eram provenientes dos berços manuelinos e dos falconetes, eram peças de retrocarga com balas de ferro ou de chumbo, com 3 câmaras por cada arma, capazes de realizar 3 tiros por minuto.

[29] A artilharia naval, abria fogo preferencialmente, quando o inimigo estivesse aproximadamente a 100 metros, para ter mais eficácia, pelo que os alcances máximos eram apenas dados técnicos. Para o alcance máximo a elevação dos tubos era de dez graus para os calibres maiores e de 6 graus para os menores e era feito com uma carga propulsora, normalmente 1/3 do peso do projétil. 

[30] A Armada de Guarda Costa (1642) tinha a missão de proteger a costa portuguesa de ataques estrangeiros e de piratas e garantir a segurança das rotas marítimas comerciais e o transporte de mercadorias.

[31] Manuscrito revelado em 1936 por Edgar Prestage, transcrito na obra de Quirino da Fonseca, Memória sobre a Marinha Portuguesa no Reinado de Pedro II, pp.267-275.

[32] O inventário de todas as armas de cada fortaleza, consta no anexo à consulta do Conselho de Guerra de 12 de agosto de 1644.

[33] Arquivo Nacional Torre do Tombo AN/TT:PT/TT/CCDV/29 Descrição e plantas da costa dos castelos e das fortalezas, desde o Algarve até Cascais, por Felippe Tersio, 1607-1617.



Pedro Marquês de Sousa

Tenente-Coronel do Exército na situação de Reserva. Participou na missão da ONU em Timor-Leste (2000/2001) e foi professor na Academia Militar. É Mestre pela Faculdade de Letras da Universidade. de Lisboa e Doutor pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Autor de diversos livros de História Militar, sendo o mais recente “Os Números da Guerra de África”, da Editora Guerra e Paz.



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Como citar este texto:

SOUSA, Pedro Marquês de Sousa –  A Restauração da Artilharia, nas Fortificações e nos Navios. Revista Portuguesa de História Militar – Dossier: Restauração Portuguesa (1640-1668). [Em linha] Ano V, nº 8 (2025); https://doi.org/10.56092/ODQB8664 [Consultado em ...].​



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