A CAVALARIA EM 25 DE ABRIL DE 1974
Alexandre de Sousa Pinto[1]
Resumo
Procura-se descrever os acontecimentos nas diferentes unidades da Arma de Cavalaria no dia 25 de Abril de 1974 com incidência nos diversos protagonistas, nomeadamente procurando pôr frente a frente as forças do Movimento das Forças Armadas e as que apoiaram o Governo de então, não sem antes enquadrar as situações que conduziram os protagonistas a decidir actuar nessas circunstâncias. Por se considerar que se tratou de um movimento de oficiais e não de unidades, entendeu-se dar relevo aos nomes e às actuações de cada um com prejuízo das respectivas unidades.
Palavras-Chave: Movimento dos Capitães; Movimento das Forças Armadas; Golpe de Estado; Revolução.
Abstract
The aim is to describe the events in the different Cavalry units on April 25,1974, focusing on the various protagonists, in particular by trying to bring the forces of the Armed Forces Movement and those that supported the government of the time face to face, not without first framing the situations that led the protagonists to decide to act in those circumstances. As it was considered to be a movement of officers and not units, it was decided to emphasise the names and actions of each individual, to the detriment of their respective units.
Keywords: Captains Movement; Armed Forces Movement; Coup d'etat; Revolution.
I. Introdução
Quando fui convidado pelos Directores da Revista Portuguesa de História Militar (RevPHM) para participar neste número com um artigo sobre A Cavalaria no Golpe Militar de 25 de Abril de 1974 nos seus aspectos estritamente militares, deixando de lado as questões políticas, ao aceitar fazê-lo, logo pensei que estava a meter-me em assados complicados. Confesso não ter, de imediato, vislumbrado o quão complicados seriam!
Fui durante largos anos presidente da CPHM, editora da RevPHM, e lembro-me bem como tantas e tantas vezes insisti na tecla de que a História precisa de tempo e distância para não ser senão a versão de quem viveu o tempo e até, pior, de quem participou no acontecimento. Versão essa que pode vir a ter o maior interesse para, bem depois, se fazer História mas que, entretanto, não passa de memórias a confrontar com documentos e com outras versões sobre os mesmos acontecimentos. Ora, neste caso, eu fui participante activo dos acontecimentos que vivi e que vou tentar, com a maior isenção de que for capaz, relatar, mas não podia deixar de alertar os meus leitores de que vão ler a minha versão de acontecimentos históricos que, vistos por outros, podem ter versões diversas. Isto é, não estão a ler História, mas sim e apenas Memórias.
Mesmo falando de memórias quero ainda lembrar que a Cavalaria era, em 1974, no Continente, constituída por um conjunto de nove Unidades e de centenas de Oficiais distribuídos por essas unidades e por outras ou por comandos, estabelecimentos e órgãos das diferentes Regiões e Comandos Militares no Continente, nas Ilhas Adjacentes e nos Territórios Ultramarinos e as características de que se revestiu o inicialmente dito Movimento dos Capitães posteriormente, já muito próximo da sua eclosão, designado como Movimento das Forças Armadas, levaram naturalmente a um Movimento de Militares e não de Unidades, tanto mais que os militares que o integraram eram de baixas patentes (só muito excepcionalmente alguns majores e tenentes-coronéis) que se viram, na maior parte das vezes, confrontados com o dilema de, para serem leais com os seus comandantes, poderem estar a contribuir para a destruição à partida do próprio Movimento. Falar da Cavalaria no 25 de Abril será, pois, muito mais do que falar das Unidades de Cavalaria, falar dos Oficiais de Cavalaria, dificultando enormemente o trabalho de quem se dispôs a fazê-lo. Obviamente não me foi possível investigar tudo quanto seria preciso para que estas memórias fossem completas, elas podem e devem mais tarde, ao fazer da História, serem completadas com dados que não chegaram ao meu conhecimento.
Finalmente, quero ainda alertar para o facto de que este número da RevPHM trata apenas do 25 de Abril na Metrópole, deixando para um próximo número da revista o relato do que se terá passado nos diferentes Territórios Ultramarinos.
Postas estas considerações é tempo de dar uma ideia do que era, em 25 de Abril de 1974, a Cavalaria no Continente e da distribuição dos Oficiais do Quadro Permanente (QP) pelas suas diferentes Unidades (ver Anexo A). Para uma visão do interesse que ao longo da campanha em África mereceu a admissão à Academia Militar, estabelecimento de ensino superior para a formação dos oficiais do QP, no que à Cavalaria respeita ver o Anexo B.
II. Antecedentes
Apesar de me ter sido pedido que tratasse o tema exclusivamente nos aspectos militares considero não poder deixar de, nestes mais que sintéticos antecedentes, fazer algumas referências à situação político-militar do País, que levem a perceber o estado de espírito e psicológico dos militares que precedeu e levou ao 25 de Abril de 1974.
As Forças Armadas tinham vindo a perder sucessivamente muita da sua credibilidade enquanto instituição capaz de resolver conflitos devido ao seu próprio envolvimento com o regime tendo, como consequência, surgido o desejo de se distanciar da política, despolitizando-se progressivamente[2]. Nos primeiros anos da década de 1970, no entanto, os oficiais começam a ter a noção de que as condições que lhes competia assegurar para que o Governo iniciasse conversações políticas e diplomáticas para obter acordos conducentes a uma resolução do problema da guerra, e constatam que, em determinados níveis do poder, tais conversações corriam e pareciam conduzir a resultados satisfatórios quanto a uma saída honrosa para quem vinha a espantar o mundo civilizado com a tenacidade e a capacidade demonstradas por um pequeno e modesto país que vinha obtendo o que outros, com meios bem superiores, não tinham conseguido obter. Fica-se entretanto a saber que a este projecto de programa o Governo responde preferir a derrota militar a iniciar conversações com organizações terroristas. A frustração é completa e fica a sensação de que não há objectivos a atingir. Obviamente que, a curto prazo, se consciencializam de que tal posição não é admissível. O fantasma da Índia e o sentimento de que, de novo, a culpabilização das Forças Armadas pelo que então sucedesse era inevitável.
Diz-nos o Coronel Inf David Martelo[3] que «o doloroso sentimento que se generalizara entre nós, militares, é o de que a guerra era uma questão que apenas respeitava aos miliares. De facto, a angústia dos responsáveis pelo esforço de guerra já estava patente no Jornal do Exército de Julho de 1970, em artigo onde se lamentava o desinteresse que o desenrolar do conflito ia merecendo à maior parte dos portugueses, não se escondendo o ressentimento da Instituição Militar:
Esse esquecimento, por vezes quase alheamento, do que por lá se passa é uma ofensa para todo aquele que, generosamente, está combatendo e sacrificando anos da sua vida para o bem comum. A indiferença generalizada pela tropa que vai e pela que regressa é, infelizmente, facto mais que comprovado para a quase totalidade das pessoas que ali não tenham parentes ou amigos…».
A Nação, desconfiava de si própria afirmando-se então à boca pequena que a guerra era alimentada pelos oficiais que ganhavam “rios de dinheiro" nas comissões de serviço, afirmações que se ouviam na Metrópole mas também, ainda com maior frequência, no próprio Ultramar, lembrando que em Moçambique, já em 1974, na cidade da Beira, largas centenas de populares, entre os quais se viam agentes da PIDE/DGS, cercaram as instalações da messe de oficiais insultando os que ali se encontravam, a maioria em trânsito, apedrejando o edifício e chegando mesmo a disparar tiros de pistola. E as desconsiderações do Governo para com as Forças Armadas eram testemunhadas pelas constantes ocorrências que a PSP praticava contra oficiais dos diferentes Ramos das Forças Armadas e, até, quando, a 16 de Março de 1974, a gota que encheu o copo, se ordenou à GNR que fizesse frente a uma força militar que partiu das Caldas da Rainha a caminho de Lisboa e só não houve enfrentamento porque oficiais da Comissão Coordenadora contactaram a força antes e a acompanharam no seu regresso às Caldas. Deste acontecimento resultou a prisão na Trafaria de alguns intervenientes, nomeadamente dos Tenente-Coronel Cav João Almeida Bruno e Major Cav Manuel Monge[4], cavaleiros que, não pertencendo à Unidade sublevada, foram considerados com ela solidários.
O primeiro documento indiciador de uma clara intenção de fazer frente a um governo em que se não acreditava foi uma carta enviada da Guiné a 28 de Agosto de 1973 com destino ao Presidente da República, Presidente do Conselho, Ministros da Defesa, do Exército e da Educação e Secretário de Estado do Exército, assinada por 45 capitães do QP em serviço na Guiné, levando anexa outra do mesmo teor assinada por cinco subalternos do QP[5], numa declarada manifestação colectiva, infração grave da disciplina militar. Das assinaturas ali exaradas constam as de sete capitães de Cavalaria, a saber: António Fernando Caetano, Carlos Matos Gomes, Fernando Salgueiro Maia, Alexandre de Sousa Pinto, Fernando de Carvalho Bicho, Manuel Soares Monge e José Rafael Lopes Saraiva, os dois últimos em vésperas de serem promovidos a majores. A esta seguiu-se pouco depois outra, assinada no Continente por 140 oficiais, na sua maioria capitães mas com alguns majores e subalternos, entre os quais 19 de Cavalaria, a saber: João Taxa Araújo, Fernando Marques Abreu, João Almeida Bruno (Major[6]), Lino Júdice da Costa, Ruben Mendes Domingues, João Moniz Barreto (Major), Germano Miquelina Simões, Carlos Ayala Botto, José Correia Leite, António de Jesus Parra (Alferes), José Gaspar Fernandes (Alferes), José Lopes Pala (Alferes), Nelson Valente (Major), Filomeno Malheiro Garcia (Major), Rui Pessoa de Amorim (Major), José Candeias Valente, Joaquim Correia Bernardo, António da Palma (Tenente) e António Nunes de Melo (Tenente). A partir de então começou a organizar-se o verdadeiro Movimento dos Capitães, no Continente e no Ultramar[7], numa evolução que conduziu, em poucos meses, à sua transformação em Movimento das Forças Armadas e, logo depois, atingiu o dia 25 de Abril de 1974.
O Governo entretanto, preocupado com o Movimento, foi tentando remediar o irremediável e para tal, em Dezembro de 1973, o DG aprova o OE para 1974 que prevê o estabelecimento de diuturnidades e em que os vencimentos base subiam entre 30 e 40% (DL 710/73) o que, feitas as contas entre o novo vencimento e as diuturnidades, a maioria dos capitães e majores que integravam o Movimento viram os seus vencimentos subir cerca de 70%, tentativa de “compra" para desmobilização do que lhes constava estar a passar-se no Exército.
Não devo entrar nos pormenores organizativos mas, uma vez que se trata de falar da Cavalaria não é possível deixar de referir que, já na fase do Movimento das Forças Armadas, se decidiu constituir uma Comissão Coordenadora com representação de todas as Armas e Serviços do Exército que escolheriam para a integrarem, sempre que possível, um oficial superior, um capitão e um subalterno. A Cavalaria escolheu para fazerem parte desta Comissão Coordenadora em sua representação o já então major Manuel Monge[8] e o capitão Germano Miquelina Simões, ambos na Academia Militar, e o capitão Fernando Salgueiro Maia, em serviço, na Escola Prática de Cavalaria em Santarém. Esta Comissão Coordenadora passou a reunir-se difundindo depois por todas as unidades, através dos seus delegados em cada uma, as decisões que iam sendo tomadas.
Tratava-se de levar a cabo um “golpe-de-estado"[9] que derrubasse o governo e levasse a cabo eleições livres que garantissem às Forças Armadas o que realmente a Nação desejava delas, dispondo-se a fornecer-lhes os meios humanos e materiais para prosseguirem a política de defesa militar do Ultramar ou, se assim não fosse, encetar as necessárias negociações diplomáticas para uma eventual progressiva autonomia desse Ultramar. Não se desejava impor nada, apenas se desejava conhecer o que a Nação realmente queria das suas Forças Armadas.
Para a grande maioria dos capitães é clara a sua disponibilidade para prosseguir a guerra desde que os portugueses exprimam essa vontade por via eleitoral livre, considerando-se como única solução adequada a instauração de um regime democrático[10]. Aliás, é o insuspeito Major Art Ernesto Melo Antunes que diz claramente que «a maioria dos oficiais participou num golpe militar, num pronunciamento militar, sem saber que estava a desencadear uma revolução»[11] e é o mesmo Melo Antunes que acrescenta que «os capitães tinham a ideia de que se tratava de derrubar o regime, implantar um regime – que isto fique bem claro! – de tipo ocidental, para fazer a descolonização e desenvolver o país»[12]. A conclusão tirada por David Martelo[13] é a de que é legítimo pensar que, se a essa maioria de oficiais fosse dado como certo que se seguiria uma revolução, a reação seria porventura a renúncia ao acto libertador.
Posto isto, julgo estar agora em condições de poder começar a tentar transmitir o que em cada uma das nossas unidades se passou nesse dia 25 de Abril de 1974.
III. Nas Unidades
1. Na Escola Prática de Cavalaria (EPC)[14]- Santarém
Já com o Movimento dos Capitães em marcha acelerada, era comandante da EPC o Coronel Cav Francisco José de Morais, militar impoluto que conheci bem por ter sido o meu comandante de Batalhão em campanha em Angola entre 1969 e 1971. Tinha sido desligado do Exército por ter sido considerado culpado quando, sendo major chefe da 1ª Repartição do Comando Militar do Estado da Índia, se rendeu ao exército indiano, invasor daquele nosso território, em Dezembro de 1961. Só depois de sete anos de punição sem culpa formada ou julgamento, em 1968, já com o Prof. Doutor Marcelo Caetano na sua “primavera", lhe foi reconhecida razão e foi reintegrado no Exército no posto de tenente-coronel e imediatamente mobilizado para Angola. O seu comportamento deu lugar a um louvor colectivo bem expressivo à sua unidade, à sua promoção a coronel e, no regresso, a ser-lhe entregue o comando do Regimento de Cavalaria nº 3 onde novamente deu provas que o conduziram a uma situação pouco normal que foi a transferência no final daquele comando para o comando da EPC. Era um homem que tinha todas as razões para ser um ressabiado mas nada disso era visível nas suas atitudes. Expresso aqui esta minha opinião porque o Coronel Cav Joaquim Correia Bernardo[15]mostra-se espantado quando este seu comandante o manda chamar e, dando a impressão de estar perfeitamente ciente das perguntas postas em reunião de capitães anterior[16], lhe perguntou qual tinha sido a atitude que tinham escolhido e tendo-lhe sido respondido que tinha sido a de pedir colectivamente a demissão de oficial, aquele lhe atirou com a mais inesperada das respostas: «As Forças Armadas, como forças que são, só devem tomar atitudes de força…».
Em Janeiro de 1974, provavelmente, digo eu, por o Governo admitir que os antecedentes do Coronel Morais o poderiam levar a apoiar os capitães decide, inesperadamente, retirar-lhe o comando sem uma justificação plausível, fazendo-o através do habitual empurrão pela escada acima, com um louvor que se limitava a dizê-lo «um dos bons comandantes que serviram na Região Militar de Tomar». Para o substituir foi designado um oficial de comprovada competência mas também de comprovada lealdade ao Governo, o Coronel Cav Augusto da Fonseca Lage, a desempenhar as funções de comandante do Corpo de Alunos da Academia Militar, e que assumiu o comando, três dias depois da saída do Coronel Morais, com a evidente incumbência de neutralizar o Movimento na EPC. Logo no dia seguinte apresenta-se também, para desempenhar as funções de 2.º comandante, o Tenente-Coronel Cav Henrique de Sousa Sanches. No dia 25 de Abril o Cor Morais compareceu no Terreiro do Paço, dando um emocionado abraço ao Capitão Salgueiro Maia e sendo, no dia seguinte, escoltado pelos militares da EPC, a caminho de Tomar onde, já como brigadeiro, vai assumir as funções de comandante da Região.
Dos oficiais presentes na EPC de 24 para 25 de Abril tomaram parte na operação militar os seguintes: Major Costa Ferreira; Capitães Garcia Correia, Correia Bernardo, Salgueiro Maia e Tavares de Almeida; Tenentes Santos Silva, Mansilha Assunção, Sousa e Silva, Agostinho e Pinto Graça; Alferes Ribeiro Cardoso, Luís de Medeiros, Miguel Marcelino, Maia Loureiro, Clímaco Pereira, Óscar David, Mário Rodrigues, Pedrosa de Oliveira, Carlos Beato, Laranjeira, Dinis, Gomes, Fortuna, Mota Oliveira, António Ribeiro e Duarte Sampaio; Aspirantes a Oficial Milicianos Sampaio, Bruno e Calado de Oliveira e Pedro Ricciardi; e Cadetes do COM[17] Casinhas, Filhó Silva e Cruz.
O Major Rui Costa Ferreira no próprio dia 25 assume o comando interino da EPC porque todos os oficiais mais antigos do que ele decidiram não aderir, nomeadamente o Comandante Lage, o 2.º comandante Sanches e os Tenentes-Coronéis Sequeira da Silva e Souto Pires. Os restantes oficiais solidarizaram-se e participaram no aprontamento da força mas não saíram a caminho de Lisboa, podendo referir-se os Capitães Taxa Araújo, Palma, Melo, Morgado, Capão e Cadavez.
A missão atribuída à EPC era a de se «instalar em Lisboa controlando os acessos ao Banco de Portugal, Companhia Portuguesa Rádio Marconi e Terreiro do Paço e estabelecer ligação com o Posto de Comando do Movimento», entrando em posição ainda durante a noite.
A força da EPC sai de Santarém a caminho de Lisboa pelas 03:20h. A abrir a coluna o carro civil do Capitão Aguiar com três aspirantes – Calado de Oliveira, Santos Laranjeira e Mota de Oliveira – com a missão de observação do trajecto a percorrer para detectar movimentos suspeitos ou obstáculos, alertando o comando da coluna com o qual estavam ligados por rádio. O comando da força foi atribuído ao Cap Salgueiro Maia que tinha sob o seu comando:
- Uma esquadra de comando com um carro civil, um jeep, 2 ambulâncias e 12 homens (5 oficiais);
- Um Esquadrão de Atiradores auto-transportado sob o comando do Capitão Tavares de Almeida a oito Pelotões, comandados pelos Alferes Cav QP Miguel Marcelino, Alferes Mil Óscar David, Alferes Mil António Ribeiro, Alferes Cav Luís Medeiros, Alferes QEO Pinto Graça, Alferes Mil Carlos Beato, Alferes Cav Mário Rodrigues e Tenente Mil Sousa e Silva. Dispunha de 160 homens transportados em 12 viaturas de transporte de pessoal;
- Um Esquadrão de Reconhecimento sob o comando do Tenente Cav Rui Santos Silva a três Pelotões, o 1.º comandado pelo Alferes Mil Maia de Loureiro que seguia numa das Panhard sendo as outras duas chefiadas pelos Alferes Mil Clímaco Pereira e Alferes Mil Duarte Sampaio; no 2.º seguia o comandante do Esquadrão na 1ª Panhard e o Alferes Cav Ribeiro Cardoso na 2.ª e as viaturas blindadas Chaimite seguiam chefiadas pelos Aspirante a Oficial Mil Pedro Ricciardi e pelo Furriel Mil Melo Cabral; o 3.º Pelotão era constituído por uma Auto-Metralhadora Humber comandada pelo Alferes Mil Pedrosa de Oliveira e uma Fox chefiada pelo Furriel Mil Oliveira Matos. Dispunha de 68 homens e 10 viaturas blindadas.
A coluna seguiu sem quaisquer incidentes[18] tendo tido até, já em Lisboa, o apoio de elementos da PSP e da GNR a desimpedir o pouco trânsito existente àquela hora para que a coluna não tivesse quaisquer problemas. Às cinco e meia da madrugada chegava ao Terreiro do Paço e dava início ao dispositivo previsto (Ver Anexo C). Pouco depois, entra na zona de acção uma força do RC7 sob o comando do Alferes Mil David e Silva que tinha, pouco antes, para lá sido transferido da EPC e que, ali chegado, de imediato, adere às forças do Movimento passando a reforçar o dispositivo da Escola. Sobre esta situação voltarei a referir-me quando chegar a vez de falar do RC7.
No Terreiro do Paço houve que resolver alguns incidentes que poderiam ter sido graves mas dos quais não resultaram quaisquer problemas: uma fragata da Marinha, no Tejo, apontou as peças ao Terreiro do Paço, obrigando o dispositivo a dirigir para ela as peças das suas viaturas, enquanto a Artilharia no Cristo Rei alterava para a fragata a direcção de tiro; um PelRec Panhard, sob o comando do Tenente-Coronel Cav Ferrand de Almeida, 2.º comandante do RC7, que este estacionou no Largo do Corpo Santo, porquanto avistara as viaturas do RC7 na Ribeira das Naus e decidira contactá-las para fazer um ponto da situação, avançando naquela direcção no seu próprio jeep sem quaisquer outros meios mas, uma vez ali chegado, deparou com o Alferes David e Silva que lhe declara ter aderido ao Movimento pelo que só lhe restava render-se o que foi aceite sendo conduzido ao Capitão Salgueiro Maia que o fez seguir sob escolta para o PC na Pontinha[19], tendo a força sob seu comando passado para o comando do Alferes David e Silva; uma terceira força do RC7, agora sob o comando do próprio 2.º comandante da Região Militar de Lisboa, o Brigadeiro Junqueira dos Reis, com o Coronel Cav Romeiras, comandante do RC7, e composta por um PelCC do RC7 e algumas EBR Panhard reforçados por uma Companhia de Atiradores do RI1 e vários PelPM do RL2 tendo estes no seu comando o Major Cav Cruz Azevedo, entretanto também reunida no Largo do Corpo Santo, divide-se por dois itinerários, avançando para o Terreiro do Paço pela Rua do Arsenal com o Brigadeiro Junqueira dos Reis e o Coronel Romeiras e com o Major Cav João Pato Anselmo pela Ribeira das Naus; no entanto, tudo se resolveu sem recurso às armas, os defensores do Governo desistiram, aceitando render-se apenas pela força das palavras e, diga-se, também pelo apoio declarado da população que ia aumentando vinda principalmente da travessia do Tejo e que declaradamente apupava a força governamental, enquanto, da janela do ministério, o chefe de gabinete do ministro do Exército, o Coronel Cav Álvaro Lemos da Fontoura, incitava o pessoal do RC7 mas assistia à sua rendição. Uma quarta força, constituída por 12 Land-Rover com uma centena de homens da GNR, do quartel de Cabeço da Bola, postara-se no Campo das Cebolas com a missão de cercar por nascente o Terreiro do Paço, progredindo pela rua da Alfandega, mas o tenente comandante da força é convencido pelo Capitão Salgueiro Maia da inutilidade do seu avanço face ao que tinha pela frente. Finalmente, dá-se ainda a situação de os elementos da PM da guarda ao Ministério da Defesa se terem entregado[20], passando para o lado do Movimento. Tudo isto sem se ter dado um único tiro…, peço desculpa, foram dados alguns tiros de pistola para o ar, disparados pelo Brigadeiro Junqueira dos Reis, com a intenção de intimidar os seus subordinados que se recusavam a obedecer às suas ordens para dispararem as armas dos carros de combate[21]. Surgiu ainda no Terreiro do Paço uma força da 1ª Divisão da PSP, sob o comando do Capitão Maltez Soares[22] também ela desmobilizada pela intervenção de Salgueiro Maia que lhe deu ordem para controlar o trânsito na zona, ao que ele obedeceu sem opor qualquer resistência.
Entretanto o Presidente do Conselho, Prof Marcelo Caetano, com alguns dos seus ministros, refugiara-se no comando-geral da GNR no Quartel do Carmo enquanto no Ministério do Exército o ministro, General Alberto Andrade e Silva, vendo as forças governamentais rendidas, manda abrir um buraco na parede que ligava à biblioteca do Ministério da Marinha, por onde consegue fugir acompanhado pelo Ministro da Defesa, Professor Joaquim da Silva Cunha, do Ministro da Informação e Turismo, Dr. César Moreira Baptista, do Ministro da Marinha, Almirante Manuel Pereira Crespo, do CEMGFA, General Joaquim da Luz Cunha, do Governador Militar de Lisboa, General Edmundo da Luz Cunha, do Subsecretário de Estado do Exército, Coronel CEM (Art) Carlos Viana Dias de Lemos e do Almirante Henrique Tenreiro que, numa viatura estacionada no parque do ministério, se dirigem ao RL2, onde instalam o posto de comando do que lhes resta das forças que se mantêm leais ao Governo.
Nesta fase já adiantada apresentam-se no Terreiro do Paço o Major Inf Cmd Jaime Neves com alguns dos seus homens para proceder à prisão dos ministros, que já haviam fugido quando ele ali entrou, e o Tenente-Coronel Cav António Valadares Correia de Campos[23] mandado pelo PC da Pontinha para assumir o comando das forças no Terreiro do Paço por se considerar que o efectivo, acrescido com as forças do governo rendidas, era já demasiado grande e porque se admitia ser necessário alguém mais graduado do que um capitão para eventual interlocutor com ministros e oficiais generais.
Ao Capitão Salgueiro Maia foi determinado dirigir-se, com parte da sua força, do Terreiro do Paço para o Largo do Carmo (Ver Anexo C), para obter a rendição do Governo; uma outra parte da força, com base em elementos do RC7, constituindo o Agrupamento “November", sob o comando do Major Jaime Neves, vai dirigir-se à Penha de França para ocupar o QG da Legião Portuguesa[24] onde se mantém toda a noite. Ao fim da tarde, pelas 19:30h, os objectivos estavam cumpridos, o Governo rendera-se ao Movimento das Forças Armadas cuja vitória era total.
Mas não há bela sem senão e, no fim da tarde, o Major Manuel Monge é encarregado pelo PC na Pontinha de resolver a questão ainda pendente dos dois regimentos da Ajuda com recurso ao Capitão Salgueiro Maia que, com seis blindados e os tenentes Assunção e Santos Silva, sai do Colégio Militar, onde tinha recolhido, para a calçada da Ajuda a fim de obrigar à rendição dos RL2 e RC7 até então irredutíveis no apoio ao ex-governo. Com o Major Monge seguiu o Tenente-Coronel Correia de Campos que deveria imediatamente assumir o comando do RL2. Para o comando do RC7 foi nomeado o Tenente-Coronel Galiano Tavares mas este só no dia seguinte foi possível encontrá-lo. Apenas no RL2, onde se entrou sem qualquer dificuldade, houve alguma resistência por parte do Major Manuel Cruz Azevedo, mas rapidamente ultrapassada. E foi ao Tenente-Coronel Correia de Campos que coube entrar em contacto com o comandante do RC7, Coronel Romeiras, para este se apresentar no PC da Pontinha o que ele cumpriu. E, assim, foi a Cavalaria a receber a rendição da Cavalaria tendo o Major Monge, durante a noite, no gabinete do comandante, atendido uma chamada telefónica da Embaixada dos EUA para o Coronel Romeiras a que respondeu com um «O Senhor Cor Romeiras já não está aqui», desligando; e Salgueiro Maia, finalmente, pela 01:30h, dá repouso ao seu pessoal no interior do RC7.
2. No Regimento de Lanceiros N.º 1 (RL1) - Elvas
Em 25 de Abril o RL1 era comandado pelo Coronel Cav Joaquim Facco Viana Barreto, bem conhecido de grande número de capitães das diferentes Armas e Serviços por ter sido, ao longo de anos, mestre de luta nas aulas de Educação Física na sede da Academia Militar, na Gomes Freire. Era um mestre exigente que nos deixava exaustos no final de cada aula mas que todos admirávamos pela sua retidão como homem e oficial.
Na sua unidade tinha sido colocado, transferido da Academia Militar em 16 de Março e entretanto promovido a major, o capitão Germano Miquelina Simões[25] que, como vimos, era um dos representantes da Cavalaria na Comissão Coordenadora do Movimento das Forças Armadas.
Estando o RL1 aquartelado em Elvas, o Capitão Miquelina Simões tinha que percorrer o trajecto Elvas-Lisboa-Elvas nas noites em que havia que reunir a Comissão, o que não era fácil porque o comandante, que provavelmente teria sido informado dos motivos da transferência, não lhe admitiria faltas às habituais formaturas da manhã e da tarde como forma de controlar os seus movimentos.
No final da tarde de 24 de Abril o Capitão Miquelina Simões com o Capitão Inf Gastão da Silva arrancaram de Elvas não para mais uma reunião em Lisboa mas para participar no Golpe que, bem sabiam, se ia iniciar na próxima madrugada. Dirigiram-se para Estremoz onde colaboraram com o pessoal do RC3 que preparava um Esquadrão para actuar e cujo primeiro destino seria a Trafaria, onde devia cumprir a missão de libertar os camaradas que lá se encontravam em consequência do 16 de Março para, só depois seguir para Lisboa. Miquelina Simões abriu caminho durante todo o trajecto com o seu carro pessoal civil à frente da coluna. Claro que não conseguiu regressar à Unidade nessa noite, ficando em Lisboa todo o dia 25 e ainda mais uns dias, só regressando a Elvas a 27 ou 28, depois de completamente assegurada a vitória do Movimento, da rendição do Governo, da saída para a Madeira dos Presidentes da República e do Conselho de Ministros. O Coronel Viana Barreto, usando as prerrogativas do comando, correndo o risco de parecer contrário ou, no mínimo, alheado do golpe-de-estado, não considerou que a ausência de Miquelina Simões fosse justificada e aplicou-lhe a punição correspondente aos dias de ausência ilegítima verificados. Só bem mais tarde a questão foi resolvida com a anulação da punição. Ficou demonstrada a ideia que tínhamos da personalidade militar, firme e exigente, do Coronel Cav Facco Viana Barreto que, como ele próprio adivinhava, ali terminou a sua carreira militar. Nestas ocasiões perdem-se sempre homens que bem mereciam outro fim, mas «o homem e a sua circunstância» leva a que, como em tudo, é preciso também «ter sorte para estar no lugar certo à hora certa».
3. No Regimento de Lanceiros N.º 2 (RL2)c/ Regimento de Polícia Militar (PM) - Lisboa
Sobre este Regimento parece-me interessante, antes de entrar no tema, lembrar que se trata do Regimento de Cavalaria N.º 2 que, por indicação do Conde de Lippe, o Marquês de Pombal mandou que fosse instalado num dos aquartelamentos construídos de raiz na Calçada da Ajuda para neles se instalarem um regimento de Infantaria (no quartel pentagonal de Lippe) e um de Cavalaria para constituírem a Guarda Real junto do palácio da Ajuda. Desde então o RC2/RL2, cumpriu sempre fielmente a sua missão de defender o poder instituído: assim fizeram na Guerra Civil, defendendo a causa de D. Miguel, na República defendendo a Monarquia, em 1926 defendendo a 1ª República e em 1974 defendendo o Estado-Novo. Tal espírito manteve-se mesmo quando, em 25 de Novembro de 1975, esteve na defesa da revolução entretanto instalada no País. Este espírito que, em última análise, deveria ser honroso por recusar faltar aos compromissos assumidos e, assim, corresponder à defesa intransigente da missão que lhe é confiada, é também, por outro lado, responsável por ser ela a unidade de Cavalaria menos condecorada, pois está sempre ao lado do perdedor e quem ganha não premeia o opositor. Como orgulhoso ex-comandante do RL2 não podia deixar de aproveitar a ocasião para aqui dar uma explicação para este aspecto da história regimental.
No Plano Geral da Operação Otelo Saraiva de Carvalho indica-o nas forças inimigas mas designando-o como RL2(-), o que militarmente tem o significado de que só parte do RL2 é inimigo.
Como vimos atrás, ao relatar a acção da força da EPC no Terreiro do Paço, elementos da PM que integravam a guarda ao ministério entregaram-se à força da EPC e outros, mais tarde, que, sob o comando do Major Cruz Azevedo, acompanhavam uma força do RC7, tiveram a mesma atitude juntando-se à força no Largo do Carmo, contra as ordens expressas do seu comandante. Outros ainda, sob o comando do Tenente Ravara, dirigiram-se para o QG/RML, entretanto ocupado por elementos do BC5, a fim de o reconquistarem mas, avisado pelo Capitão Bicho Beatriz que mandava abrir fogo se avançasse, viu-se perante a recusa dos seus subordinados em obedecer-lhe e teve de desistir. Fica-se com a ideia de que a decisão de defender o Governo, mesmo depois deste já se ter rendido, foi a decisão do comando do Regimento, da exclusiva responsabilidade do comandante, o Coronel Cav Manuel Pinto Bessa, a que os seus subordinados obedeceram. É assim que o RL2 acolhe os elementos do Governo fugidos do ministério e se prossegue na defesa do poder, defesa essa que se mantém até ao final do dia, muito para além da entrega do poder pelo presidente do Conselho ao General António de Spínola[26]. Foi considerado necessário pelo PC na Pontinha encarregar o Major Monge, levando consigo o Tenente-Coronel Correia de Campos e acompanhado por uma força da EPC sob o comando de Salgueiro Maia de avançar para a Ajuda a fim de submeter os dois regimentos pela força, se necessário. Também nesta ocasião as palavras evitaram o uso da força ficando de imediato o Tenente-Coronel Correia de Campos no comando do RL2 e o Major Monge no RC7, aguardando o novo comandante já indicado.
4. No Regimento de Cavalaria N.º 3 (RC3) - Estremoz
Em 23 às 03:00h o Capitão Alberto Ferreira deslocou-se à povoação de Aldeia da Serra onde recebeu o Anexo de Transmissões e alguns rádios E/R TR-28 (Racal) que, logo pela manhã, entregou ao Capitão Andrade Moura e ao Cap Gomes Pereira[27], de Portalegre, que se deslocara a Estremoz e se prontificara a levar consigo também os que se destinavam a Évora.
Alguns problemas havia que resolver, um deles e certamente não o menor, era a presença na Unidade desde o dia 23 do Director da Arma, o General André da Fonseca Pinto Bessa[28], que nessa noite ia pernoitar na cidade, em casa do comandante, decidindo-se não fazer quaisquer preparativos que pudessem resultar em quebra do segredo do que estava planeado. Esta decisão implicou a impossibilidade de saída do Esquadrão à hora H. Foi posto ao corrente o Major Machado de Faria, quando regressou do jantar oferecido ao Director da Arma, que decidiu aderir. Cerca das 02:00h foi a vez de pôr ao corrente o comandante, que aderiu ao Movimento colocando-se ao lado dos seus oficiais. Preparou-se um esquadrão para arrancar na madrugada de 24/25 a caminho de Lisboa. O Esquadrão, sob o comando do Capitão Luís Andrade Moura, saiu de Estremoz com algum atraso pelos motivos já indicados. No esquadrão seguia o Capitão Alberto Ferreira[29]. A coluna era aberta pelo Capitão Miquelina Simões, do RL1, membro da Comissão Coordenadora do Movimento, no seu automóvel civil acompanhado pelo Capitão Gastão da Silva, também do RL1, e facto que julgo absolutamente excepcional, era encerrada pelo próprio comandante da Unidade, Coronel Nuno Caldas Franco Duarte, no Volkswagen preto que, como comandante, lhe estava atribuído. A coluna, constituída por dois PelRec, sob o comando, respectivamente, do 1.º Sargento Silva Brás e do Aspirante a Oficial Mil Matos de Sousa e por um PelAt comandado pelo Aspirante a Oficial Mil Montalvão Machado, com o Aspirante a Oficial Mil Coelho Cordeiro como oficial de ligação, e tinha por missão atingir Lisboa tendo seguido, com algumas avarias pelo caminho e abastecido as viaturas em Vendas Novas para garantir que se atingia Lisboa abastecido suficientemente, mas sem quaisquer incidentes. Atingida a Ponte Salazar, foi-lhe determinado que se dirigissem ao Forte da Trafaria para libertar os camaradas presos em 16 de Março mas, quando ainda estavam a organizar-se para esta nova missão, foi recebida uma contra-ordem, sendo mandados imediatamente para Lisboa a fim de reforçar as forças da EPC no Largo do Carmo, ameaçadas por uma força governamental. A missão na Trafaria foi então atribuída, a elementos da força de Artilharia que estava a ocupar posições no Cristo Rei[30]. O esquadrão, acabou por atingir a baixa lisboeta ainda a tempo de cercar os resíduos das forças leais ao governo, instaladas nos largos de Camões e da Misericórdia[31], que se preparavam para atacar Salgueiro Maia, no Largo do Carmo. O Capitão Ferreira avistou o Capitão GNR Lomelino, comandante da companhia da Estrela, que conhecia e contactou-o para saber se a GNR pensava fazer frente ao Exército, aconselhando-o a falar com o Coronel Costa Pinto dizendo que estava com ele, Capitão Ferreira, que aconselhava a retirada do pessoal da GNR. A sugestão deve ter sido aceite porque pouco depois realmente a Força da GNR recolheu a quartéis dando por finda toda e qualquer resistência, deixando o brigadeiro seu comandante abandonado no terreno. O Esquadrão pelas 19:30h ocupou o Largo do Carmo, de onde a EPC já tinha saído, mantendo o Quartel da GNR sob vigilância (Ver Anexo D). Cerca das 20:30h soube-se que elementos da DGS tinham aberto fogo contra elementos da população, em face do que o Capitão Moura, com uma EBR e dois jeeps, se dirigiu para a rua António Maria Cardoso, onde se situava a sede da DGS, e verificando que dispunha de uma força demasiado reduzida ordenou o seu reforço com elementos que se tinham mantido no Carmo às ordens do Cap Ferreira (Ver Anexo D). Foram capturados doze elementos da DGS e abatido um que fugira ao dar-se-lhe ordem para se entregar ainda antes de, pelas 02:00h de 26, ter sido reforçado por dois destacamentos da Marinha[32]. Durante toda a noite o Esquadrão manteve-se no Largo do Carmo e na DGS. Pelas 09:00h apresentou-se junto da sede da DGS o Major Cav Carlos de Campos Andrada dizendo-se mandatado pelo General Spínola para comandar as forças que tinham a missão de ocupar as instalações da DGS[33]. O dispositivo manteve-se até às 18:00h de 26, quando se recebeu ordem para recolher ao aquartelamento do RC7, onde pernoitou, seguindo ao amanhecer de 27 para Évora em escolta ao novo comandante da RME o Coronel Cav Fontes Pereira de Melo, atingindo Évora pelas 13:45h. O Esquadrão regressou a Estremoz depois da tomada de posse do Coronel Fontes Pereira de Melo, sendo recebidos por uma grandiosa manifestação.
5. No Regimento de Cavalaria N.º 4 (RC4) – Santa Margarida
O RC4 cujo comandante, o Coronel Cav João Carlos Craveiro Lopes, tinha sido sondado pelo Movimento e, imediatamente, reagiu exaltado com o despropósito de um tal contacto de tal forma que não lhe foi atribuído qualquer missão no plano geral da operação. Na sequência do 16 de Março, no entanto, o Governo decidiu reforçar o RC7 com CC M47 e, para o efeito, determinou ao RC4 a cedência de um PelCC para reforço daquela Unidade. Este pelotão, comandado pelo Alferes Mil Sottomayor, embarca os CC em Santa Margarida em comboio especial com uma composição extremamente comprida porque, para que se pudesse atravessar em segurança a ponte ferroviária de Constância, houve que intercalar 7 vagões vazios entre cada plataforma que transportava um CC. Dos 5 CC, só 4 chegaram ao RC7 por o Comandante do Depósito Geral de Material de Guerra ter obtido que, para defesa das suas instalações, lhe fosse entregue um deles. Na noite de 22 de Março partiram do RC4 para o RC7 elementos das guarnições dos CC: o Furriel Mil Victor Pacheco, cinco 1os Cabos e cinco Soldados. Em 26 de Março o PelCC fica completo com a marcha do Alferes Mil Sottomayor, os Furriéis Mil António Branco e Jorge Clemente, seis 1os Cabos e seis Soldados. Este Pel CC e o seu pessoal teve acção importante contribuindo, talvez decididamente, para o insucesso das forças do RC7 que atacaram as da EPC no Terreiro do Paço.
6 - No Regimento de Cavalaria N.º 6 (RC6) – Porto
Na sequência do 16 de Março o comandante, Coronel Cav António Leuschner Fernandes, foi transferido para o DRM/Viseu, não sendo de imediato substituído e, assim, ficou interinamente no comando do regimento o Tenente-Coronel Cav João Luís Arriscado Nunes. Ao RC6 foi atribuída a missão de, logo que o QG/Porto fosse ocupado, sair para ir ocupar uma Zona de Reunião (ZRn) no topo Norte da Av. dos Aliados, junto à Câmara Municipal do Porto e, a partir daí, à ordem, executar as missões que lhe fossem determinadas. O comandante da Unidade, Tenente-Coronel Arriscado Nunes, uma vez contactado, colaborou e o 2.º comandante Major Cav Manuel Martins Rodrigues foi um membro activo do Movimento. Há pouco tempo colocado na Unidade, vindo da EPC, o Tenente Cav João Soares da Mota comandou o ERec que saiu pelas 04:30h dirigindo-se para a ZRn determinada, tendo recebido ordem para cercar o B4/GNR no Carmo para a eventualidade, que não se verificou, de estarem contra, tendo regressado ao quartel pelas 13:00h. Mais tarde, recebeu ordem para ir cercar o quartel da Legião Portuguesa. Já na tarde de 26, Soares da Mota com um PelRec dirigiu-se para as instalações da PIDE/DGS em reforço da força que ali se deslocara sob o comando do Tenente-Coronel Cav Carlos Azeredo.
7. No Regimento de Cavalaria N.º7 (RC7) - Lisboa
À partida, logo no plano geral gizado por Otelo Saraiva de Carvalho, o RC7 encontrava-se indicado como força inimiga[34]. Na madrugada de 25 o subsecretário de estado do Exército, Coronel Viana de Lemos[35], telefona ao comandante da Unidade, Coronel Romeiras Júnior, informando-o de que vem uma força da EPC a caminho de Lisboa e, logo depois, liga para o regimento dando ordem para a saída de um esquadrão a caminho do Terreiro do Paço. O Alferes Mil David e Silva, comandante do 1.º Esquadrão de Reconhecimento (ERec), tinha decidido dormir nessa noite no quartel, deitando-se vestido, depois de dar ordem ao telefonista para lhe ligar se houvesse qualquer novidade. Alta madrugada, liga-lhe informando-o que está o subsecretário de estado do Exército ao telefone que lhe dá a ordem de seguir imediatamente para o Terreiro do Paço com o esquadrão porque vem uma força da EPC a caminho de Lisboa. Depois de autenticar a chamada, manda aprontar o pessoal pois as viaturas, devidamente municiadas, estão prontas na parada há já alguns dias para os treinos que se têm feito desde o movimento de 16 de Março[36]. Entretanto o Coronel Romeiras saíra de casa a caminho do regimento mas, apercebendo-se que é seguido por viaturas civis – o grupo de Jaime Neves –, consegue despistá-los e segue para o ministério de onde chama o piquete da unidade para o escoltar para a calçada da Ajuda. As comunicações interceptadas pela Escola Prática de Transmissões ouvem o Ministro dizer-lhe: “veja se consegue salvar esta coisa pois estamos todos cercados". David e Silva toma conhecimento da saída do piquete e sai logo depois, levando sob o seu comando o esquadrão menos[37], cerca de cento e poucos homens, atravessa a passagem de nível junto a Belém e segue pela avenida de Brasília mandando alto junto à Central Tejo (hoje Museu da Electricidade), e só então informa o seu pessoal da missão autorizando os que não desejassem prosseguir a retirar-se, sem que algum o fizesse. Prosseguiu então em direcção ao seu objectivo que atinge seguindo pela Ribeira das Naus. Das janelas do Ministério do Exército a alta hierarquia recebe-o com palmas ao entrar no Terreiro do Paço onde, quase em simultâneo, tinha entrado a força da EPC. David e Silva dirige-se ao Capitão Salgueiro Maia informando-o de que vem «com ordens para fazer frente à sua coluna», perguntando-lhe, no entanto, se o Movimento continua sob a égide do General Spínola e, perante a resposta afirmativa, coloca o seu esquadrão às ordens do Movimento. Este acontecimento deu azo a outro, que tem sido controverso, quando uma segunda força é enviada de reforço à primeira, agora sob o comando do 2.º comandante, o Tenente-Coronel Ferrand d'Almeida. Este estaciona no Largo do Corpo Santo e tendo avistado as viaturas do RC7 na Ribeira das Naus para elas se dirige no seu jeep para fazer o ponto da situação, entregando-se de mão beijada, pois David e Silva recebe-o declarando-se como apoiante do Movimento, ficando o Tenente-Coronel Ferrand de Almeida isolado e sem hipótese de qualquer resposta, que não seja o render-se à ordem de Salgueiro Maia. Finalmente uma terceira força sai do RC7 sob o comando do Brigadeiro Junqueira dos Reis 2.º comandante da RML/GML, com mais meios blindados incluindo um PelCC M-47 que tinha, poucos dias antes, vindo do RC4 para reforço do 7, pelotão esse comandado pelo Alferes Mil Sottomayor[38]. É esta terceira força que, a partir do Largo do Corpo Santo, se divide entre a Ribeira das Naus e a Rua do Arsenal numa última tentativa, falhada, de derrotar a EPC no Terreiro do Paço. Os elementos do RC7 saem do Terreiro do Paço, reforçados pela força do Tenente-Coronel Ferrand de Almeida e ainda por dois dos CCM47[39], constituindo o Agrupamento November que, sob o comando do Major Jaime Neves com o Capitão Inf Ferreira da Silva e o Tenente Cav Balula Cid, recebem a missão de ocupar o QG da Legião Portuguesa na Penha de França, onde permanecem toda a noite, dirigindo-se na manhã seguinte para a Academia Militar na Gomes Freire, onde ficaram instalados vários dias à ordem da Junta de Salvação Nacional, cumprindo as missões que esta lhes foi sucessivamente atribuindo. Ao princípio da noite de 25, o Tenente-Coronel Correia de Campos, já como comandante do RL2, contacta o Coronel Romeiras comunicando-lhe a ordem para se apresentar no PC da Pontinha. O quartel, cujo portão se encontrava fechado sendo aberto pelo Capitão Cav Nascimento Martins, é ocupado pela força de Salgueiro Maia e o Major Monge, no gabinete do comandante[40], atende a chamada telefónica da Embaixada dos EUA para o Coronel Romeiras informando secamente que ele já não está na Unidade.
8. No Regimento de Cavalaria N.º 8 (RC8) – Castelo Branco
Ao RC8 foi dada a missão de, «à hora H, marchar para Segura, tendo por missão o controlo efectivo da fronteira com a Espanha, impedindo a entrada e saída de viaturas.
9. CICA/Porto
Não se tratando de uma unidade de Cavalaria, mas sendo comandada por um oficial da Arma julgo dever aqui falar nela uma vez que, logo de início, referi que não estávamos perante uma acção das Unidades mas de uma acção dos oficiais das unidades, sendo de destacar que os poucos exemplos em que os respectivos comandantes se empenharam na acção se encontram na Cavalaria, com o Coronel Franco Duarte do RC3 e com o Tenente-Coronel Azeredo no CICA/PORTO. Pelas 03:00h de 25 Azeredo, com elementos seus e coadjuvado por majores e capitães colocados no próprio QG/RMN, toma o QG no Campo de Santo Ovídio. Na tarde de 26 é o Tenente-Coronel Azeredo que, com alguns elementos do CICA e reforçado com elementos do RI/Braga e um PelRec/RC6, ocupa a sede da PIDE/DGS.
IV. Conclusões
Parecem-me indiscutíveis as seguintes conclusões relativamente à Cavalaria no 25 de Abril de 1974:
- O Governo, assustado com a evolução do Movimento de que ia tomando conhecimento e suspeitando do apoio que alguns comandantes das unidades poderiam vir a dar-lhe, foi tomando as medidas que entendeu necessárias; na Arma de Cavalaria a dois comandantes foi-lhes retirado o comando: ao Coronel Francisco José de Morais, na EPC, logo no início do ano de 1974, e ao Coronel António Leuschner Fernandes, do RC6, na sequência do 16 de Março. O primeiro foi substituído por oficial da confiança governamental mas o segundo nem isso foi feito por ter sido já muito em cima do acontecimento.
- As Unidades de Cavalaria estiveram com o Movimento das Forças Armadas com excepção dos RL2 e RC7, no entanto, mesmo nestes, houve diversos elementos que, logo que lhes foi possível, declararam o seu apoio, não cumprindo ordens ou por outros meios;
- O Plano Geral da Operação considerava desde logo o RC7 e o RL2(-) como forças inimigas e, não os indicando como tal, não atribuiu qualquer missão aos RL1 e RC4, talvez por conhecer as posições dos seus comandantes quando estes foram abordados sobre o Movimento. É interessante verificar que o Plano Geral da Operação ao considerar apenas o RL2(-) como inimigo, indicia ter sido previamente garantido o apoio de parte dos capitães presentes na Unidade;
- O comandante do RC3 acompanhou o Esquadrão da sua Unidade no trajecto entre Estremoz e Lisboa, como cerra-fila da coluna;
- O Tenente-Coronel Carlos Azeredo, que comandava o CICA/Porto, assumiu o seu apoio, comandando as acções que à Unidade cumpria executar.
- A Cavalaria contribuiu de forma determinante para a vitória do Movimento e foi ela que rendeu as Unidades de Cavalaria adversárias, tendo conseguido fazê-lo sem disparar um tiro, ou melhor, disparando um tiro contra um elemento da DGS que não obedeceu à ordem de se render e tentou fugir.
- As forças governamentais que avançaram contra as forças do Movimento todas, sem excepção, se renderam sem necessidade de tiroteio, apenas com base em trocas de palavras em que Salgueiro Maia e os seus homens foram exemplares.
- Uma última conclusão considero ainda ser possível tirar: a de que a Cavalaria foi fundamental neste dia 25 de Abril de 1974. Os líderes – Generais Costa Gomes e Spínola – eram oriundos da Cavalaria; as unidades do Movimento que se bateram em Lisboa – EPC e RC3 – também eram; as unidades que apoiaram o Governo – RC7 e RL2 – igualmente; até no Porto o Movimento foi muito bem representado pelo TCor Cav Carlos Azeredo, pelo RC6 na ocupação do QG da Legião Portuguesa e da sede da DGS e também pelo EPM na ocupação do QG/RMP.
BIBLIOGRAFIA
AA – Regimento de Cavalaria nº 4 – 240 Anos ao Serviço do Exército e da Nação. s/d.
ANTUNES, Ernesto Melo – «A Descolonização Portuguesa: Mitos e Realidades». In MEDINA, João, História de Portugal. Alfragide: Vol. XIV, Ediclube, 1995.
AVILLEZ, Maria João – Do Fundo da Revolução. Lisboa: Público, 1994.
BERNARDO, Joaquim Manuel Correia – Participação da Escola Prática de Cavalaria no 25 de Abril de 1974. Lisboa: Moinho Velho, 2002.
CONTREIRAS, Carlos Almada (Coord) – Operação Viragem Histórica – 25 de Abril de 1974. Lisboa, Colibri, 2017.
GRAHAM, Lawrence S. – As Forças Armadas Portuguesas e o Estado. Lisboa: Tinta-da-China, 2023.
MARTELO, David – 25 de Abril – Do Golpe Militar à Revolução na Forma Tentada. Lisboa: Sílabo, 2020.
PIMENTEL, Irene Flunser – Do 25 de Abril de 1974 ao 25 de Novembro de 1975. Lisboa: Temas e Debates, 2024.
SALVADA, Rui – Abril em Novembro. Lisbon: International Press, 2023.
SIGLAS
AA25 Associação 25 de Abril E/R Emissor/Receptor
AML Autometralhadora Panhard ERec Esquadrão de Reconhecimento
B Batalhão GNR Guarda Nacional Republicana
Btr Bateria Mil Miliciano
CC Carro(s) de Combate OE Orçamento do Estado
CEMGFA Chefe do Estado-Maior-General PelAt Pelotão de Atiradores
das Forças Armadas PelCC Pelotão de Carros de Combate
CI Corpo de Intervenção PelPM Pelotão de Polícia Militar
CICA Centro de Instrução de Condução PC Posto de Comando
Auto PSP Polícia de Segurança Pública
DG Diário do Governo QEO Quadro Especial de Oficiais
DGS/PIDE Direcção Geral de Segurança QG Quartel-General
DRM Distrito de Recrutamento Militar QP Quadro Permanente
EBR Autometralhadora Panhard RME Região Militar de Évora
EPA Escola Prática de Artilharia
ANEXO A – DISTRIBUIÇÃO DOS OFICIAIS DO QP PELAS DIFERENTES UNIDADES
UNIDADES | COMANDANTES | OFICIAIS
|
EPC | Cor Augusto da Fonseca Lage Cor Francisco José de Morais, até Janeiro de 74 | TCoronéis Sousa Sanches; Sequeira da Silva e Souto Pires Maj Rui Costa Ferreira Capitães Garcia Correia; Correia Bernardo; Salgueiro Maia; Tavares de Almeida; Taxa Araújo; Capão; Cadavez; Palma; Melo; e Morgado Tenentes Assunção; Aparício; Santos Silva e Gouveia Soares Alferes Miguel Marcelino; Luís de Medeiros; e Mário Rodrigues |
RL1 | Cor Joaquim Facco Viana Barreto | Maj António Andrade e Silva; Rui Cidrais Cap Germano Miquelina Simões; João Sá e Almeida; Gastão da Silva; |
RL2 EPMPorto EPMCoimbra EPMTomar EPMÉvora | Cor Manuel Pinto Bessa Maj Eurico de Deus Corvacho[41] ? ? ?
| TCor Monteiro da Graça Maj Ornelas Monteiro; Manuel Cruz Azevedo; Augusto das Neves Oliveira; Fernando Silva Ataíde; Campos Andrada Cap Sacavém da Fonseca; Rocha Lima; Conde Falcão; Lacerda Benigno; Campos Ghira Ten Baltazar Gamito Ferreira; António Candeias Ravasco |
RC3 | Cor Nuno Caldas Franco Duarte | Maj Machado de Faria; Fernandes Tomaz Cap Luís Andrade Moura; Alberto António Ferreira |
RC4 | Cor João Carlos Craveiro Lopes | TCor José dos Santos Teixeira Maj Amadeu Nunes Duarte; Artur Silva Baptista; Filomeno Malheiro Garcia Cap Carlos Ayala Botto; Ferreira Durão; Espírito Santo Ramos |
RC6 | Cor Leuschner Fernandes (transf. para o DRM/Viseu depois do 16 de Março) TCor Arriscado Nunes (Cmdt intº) | Maj Manuel Martins Rodrigues; Francisco Martins dos Santos Cap José de Oliveira Pinto; Henrique de Morais; Valdemar da Nóvoa Ten João Soares da Mota |
RC7 | Cor António Romeiras Júnior | TCor Ferrand de Almeida Maj António da Costa Macedo; Pato Anselmo; José Lopes Saraiva Cap Nascimento Martins Ten Ávilo Cadete; Armando Aparício Alf Mil David e Silva; Sottomayor |
RC8 | TCor Luís Rodrigues de Carvalho | Maj Carlos Gomes da Silva; Moniz Barreto Cap Rego Bayam; Cordeiro Araújo |
Cmdo-Geral/GNR | Gen Adriano Augusto Pires (*) (*) Substituído logo a 26 pelo Gen Alberto Rosa Garoupa | |
RC/GNR | Cor Serras Pereira | TCor Álvaro Sabbo Cap Manuel Veloso |
RI/GNR | Cor Costa Pinto | Cap Lomelino; Andrade Silva |
CICAPorto | TCor Carlos Azeredo (1) | |
Academia Militar(*) (*) Onde estavam vários oficiais de Cavalaria com acções importantes no MFA | Gen Amaro Romão (exonerado depois de 16 Mar) é substituído pelo Gen Perez Brandão | Cor Leopoldo Severo TCor João de Almeida Bruno (preso na Trafaria em 16 de Março) Maj Rui Lobo da Costa; Carlos Alexandre de Morais; Jaime Marques Pereira; Manuel Monge (preso na Trafaria em 16 de Março); Fernando de Abreu. |
Notas: 1 – O Tenente-Coronel Carlos Azeredo assumiu o comando do Centro de Instrução de Condução Auto (CICA) do Porto no próprio dia 25 e foi um dos poucos casos em que o comandante saiu da sua unidade em apoio declarado ao Movimento.
ANEXO B - OFICIAIS DE CAVALARIA SAÍDOS DA AM NO DECORRER DAS CAMPANHAS EM ÁFRICA
Entrada na AM Tirocínio Número Observações
1957 1960/1961 10 Tirocínio abreviado e curso mobilizado
1958 1961/1962 10
1959 1962/1963 14
1960 1963/1964 19
1961 1964/1965 15 Início da guerra
1962 1965/1966 13
1963 1966/1967 13 a média entre 58 e 63 foi de 14
1964 1967/1968 6
1965 1968/1969 5
1966 1969/1970 6
1967 1970/1971 3
1968 1971/1972 3
1969 1972/1973 5
1970 1973/1974 7 119 oficiais entre 1961 e 1974
1971 1974/1975 4
1972 1975/1976 8
1973 1976/1977 5 a média entre 64 e 73 foi de 5
Nota - Durante o período da guerra entraram na AM 146 cadetes para a Cavalaria tendo saído já oficiais 129 e a frequentar a AM estavam 17. Até 1963 entraram para a AM em média 13,5 cadetes/ano, a partir de então a média de entradas foi de 5/ano, isto é, cerca de um terço.
ANEXO C – DISPOSITIVO DA FORÇA DA EPC NO TERREIRO DO PAÇO E NO CARMO

Dispositivo no Terreiro do Paço

Dispositivo no Largo do Carmo
ANEXO D – DISPOSITIVO DO EREC / RC3 NO CARMO E TRINDADE E NA SEDE DA DGS

Dispositivo no Largo do Carmo e na Trindade

Dispositivo junto à Sede da DGS
NOTAS
[1] Agradeço as informações que me foram disponibilizadas pelos amigos e camaradas Major-General Manuel Monge, Major-General João Soares da Mota, Coronel Cav Alberto Ferreira e Coronel Cav Luís David e Silva. Agradeço também a cuidada revisão do texto que fez o Coronel Cav José de Ataíde Banazol.
[2] Vd. GRAHAM, As Forças Armadas Portuguesas e o Estado, p. 17.
[3] Cf. MARTELO, 25 de Abril – Do Golpe Militar à Revolução na Forma Tentada, p. 17.
[4] O Capitão Monge fora graduado em major para, na Guiné, comandar o COP 5 em Gadamael e, tendo regressado à Metrópole sem se ter procedido à desgraduação, foi efectivamente promovido, quando já estava preso na Trafaria, mas com data de antiguidade de 01 de Janeiro de 1974. Os majores Monge e Casanova Ferreira foram os elementos da Comissão que interromperam a marcha da Companhia do RI5, convenceram-nos a voltar para as Caldas e, uma vez lá, se entregaram considerando-se como os responsáveis pela situação que anunciaram como sendo uma manifestação de repúdio à demissão dos generais Costa Gomes e Spínola ocorrida na véspera.
[5] Destes lembro pelo menos três que eram da Arma de Cavalaria: os Tenentes Alfredo Correia Assunção, Joaquim dos Reis e José Balula Cid.
[6] Pouco depois promovido por distinção a Tenente-coronel.
[7] Com data de 1 de Setembro de 1973 também em Angola foi assinada uma carta dirigida ao Presidente do Conselho de Ministros por 94 capitães. Entre 28 de Agosto e 9 de Setembro 280 oficiais assinaram cartas dirigidas ao governo numa manifestação colectiva jamais levada a cabo. Mas, logo em 11 de Setembro, uma outra era assinada em Moçambique por um número de oficiais que não tenho presente, assinaturas que continuaram a ser recolhidas sendo que um mês depois se contabilizavam já cerca de 600 assinaturas.
[8] Monge na altura da nomeação ainda se encontrava na Guiné, mas pouco depois apresentou-se na Academia Militar.
[9] Já ouvi declarações de que o 25 de Abril de 1974 não foi um golpe-de-estado mas uma revolução, o que me obriga a lembrar aqui que Cf a Larousse, Enciclopédia Moderna, vol 7, p. 2827, um golpe-de-estado «é a tomada ilegal ou pela força do poder por uma pessoa ou um grupo que exerce funções no interior do aparelho estatal» e que, Cf. José Pedro Machado in O Grande Diccionário da Língua Portuguesa editado pela Sociedade de Língua Portuguesa «é a acção política ou militar que derruba inesperadamente o governo de uma nação». Julgo bem claro que foi isto exactamente que se fez em 25 de Abril de 1974.
[10] MARTELO, op. cit., p. 19.
[11] Transcrição de MARTELO, op.cit., pp. 51-52, de ANTUNES, E. Melo, A Descolonização Portuguesa: Mitos e Realidades, in «História de Portugal» (Dir. Prof. João Medina), Vol. XIV, p. 182.
[12] MARTELO, op. cit, p. 52, transcrevendo AVILLEZ, Maria João, in Do Fundo da Revolução, p. 14.
[13] MARTELO, op. cit., p. 52.
[14] Vd. BERNARDO, Participação da EPC no 25 de Abril de 1974, muitíssimo completo sobre quanto na Unidade se passou, pode ser consultado para conhecimento de pormenores que aqui não se incluem, mas são dele os dados que neste trabalho apresento.
[15] Vd. BERNARDO, op.cit., p. 39.
[16] Sabia bem o que se passava certamente através de seu irmão o Major Cav Carlos Alexandre de Morais que, na Academia Militar, estava ligado ao Movimento e foi até quem fez a ligação entre este e o General Spínola para se encontrar um texto aceite por ambas as partes para o Programa do Movimento a apresentar ao País.
[17] Curso de Oficiais Milicianos.
[18] Apenas a FOX, em plena autoestrada, teve um pneu furado, ficando separada da coluna, sendo necessário, com a ajuda das Oficinas Gerais de Material Aeronáutico de Alverca, resolver o percalço e depois prosseguir, reunindo-se de novo à coluna já no Terreiro do Paço.
[19] Versão que tem sido controversa porquanto surge em vários relatos descrita de forma diversa mas que é a versão considerada pela AA25, que investigou a questão a pedido do Tenente-Coronel Ferrand, e que publicou a conclusão na revista O Referencial nº 24 de Julho/Setembro de 1991, cfr CONTREIRAS, “Operação Viragem Histórica", pp. 490-491.
[20] Esta guarda era constituída por dois PelPM. Sete elementos estavam em serviço do Ministro e todos os restantes, com os respectivos comandantes do pelotão, entregaram-se à força da EPC. Os sete foram os auxiliares do ministro na abertura do buraco feito na parede de ligação à biblioteca do ministério da Marinha e acompanharam os fugitivos até ao RL2 na Ajuda.
[21] Foi importante a acção do Alferes Mil Cav Fernando Carlos Cerqueira Gomes Sottomayor, do RC4, que tinha há poucos dias vindo com o seu Pel CC reforçar o RC7, a quem o Brigadeiro Junqueira dos Reis dera a ordem para disparar a peça do seu CC e que se recusara a fazê-lo, recebendo ordem de prisão, mas a respectiva guarnição, a quem o Brigadeiro repetira a ordem, argumentara que só disparava à ordem do seu comandante de pelotão. É este o momento dos disparos de um brigadeiro exaltadíssimo e que não conseguia fazer-se obedecer, Vd depoimento do Alferes Sottomyor in CONTREIRAS, op. cit., pp. 492-497.
[22] Este capitão era acusado pelo Movimento de ser um dos principais autores das violências verbais e físicas feitas pela PSP a oficiais das Forças Armadas em diversas ocasiões.
[23] Que estava colocado na Direcção do Serviço de Preboste e foi nomeado, logo após a rendição do RL2, para comandar a unidade e pouco depois promovido a coronel.
[24] Forças inicialmente afectas ao Governo mas que se aliaram às da EPC e que agora vão cumprir uma missão do Movimento.
[25] Miquelina Simões tem antiguidade de major de 01 de Março de 1974 mas, tal promoção só foi formalizada já depois de 25 de Abril sendo, por isso, como capitão que ele vai aparecer neste período.
[26] Como curiosidade lembro que o General António de Spínola, ainda tenente-coronel, foi comandante efectivo do RL2.
[27] Julgo tratar-se do Capitão Inf José Gomes Pereira que foi abatido ao QP já como major por ter passado aos quadros da PSP.
[28] Por coincidência era irmão do comandante do RL2.
[29] O Capitão Alberto Ferreira era o “chefe" dos oficiais espúrios (designação que os próprios se atribuíram nos panfletos que circularam na época), que seriam beneficiados com os decretos e ficaram prejudicados com a sua retirada, mas tinha ficado muito ligado ao Movimento e era por este muito considerado. Estava colocado na AM e foi um dos primeiros (em 31 de Janeiro de 1974) a ser transferido para o interior, sendo mandado apresentar no RL1. Entretanto, foi mobilizado e mandado apresentar no RC3 para integrar o batalhão mobilizado. Tinha servido na Índia, em Damão, onde a sua acção lhe mereceu a cruz de guerra de 2ª classe, e tinha ficado admirador e amigo do Major Costa Pinto, governador e comandante militar do território, que era agora coronel e comandante da GNR em Cabeço da Bola. Esta amizade foi de grande importância na resolução do encontro do Esquadrão com a força da GNR.
[30] Era a Btr Art 8,8/EPA que, pelas 15:15h recebeu a missão de se deslocar à Casa de Reclusão da Trafaria a fim de libertar os oficiais ali detidos desde 16 de Março. Cercado o forte, entrou em posição com uma peça frente ao portão principal, e o Capitão Art Jorge Mira Monteiro ordenou a rendição. O portão foi aberto pouco depois. Libertados os 11 oficiais ali detidos a Btr escoltou-os a caminho de Lisboa.
[31] Esta força, mais uma vez comandada pelo brigadeiro Junqueira dos Reis, era constituída por uma força apeada e outra montada da GNR, provavelmente saídas da Companhia da Estrela (Capitão Lomelino) e do 2.º Esquadrão (Capitão Andrade e Sousa) de Cabeço de Bola, uma companhia da Polícia de Choque, o que restava dos Atiradores do RI1 e quatro blindados, dois CC M-47, uma EBR e uma Chaimite.
[32] Foi aos fuzileiros e aos respectivos oficiais, sob o comando do comandante Luís da Costa Correia, que coube a tarefa de, depois de ocupado, guarnecerem as instalações e preservar os documentos e arquivos até à decisão final sobre esse importante espólio hoje à guarda dos Arquivos Nacionais na Torre do Tombo.
[33] Cf PIMENTEL, Do 25 de Abril de 1974 ao 25 de Novembro de 1975, Temas e Debates, Lisboa, 2024, pp. 159-163.
[34] Esta situação com grande probabilidade, resultou do facto de o 7 ter tido em 16 de Março uma posição de antagonismo contra a força do RI5 que das Caldas da Rainha se dirigira para Lisboa. Nesta data os 1.º e 2.º ERec/RC7 eram comandados pelos Tenente Cav Cadete e Aparício, comando que lhes foi retirado imediatamente por o comandante ter duvidado da sua lealdade ao governo. É assim que em 25 de Abril o 1.º ERec surge comandado pelo Alferes Mil David e Silva.
[35] Como mais umas coincidências interessantes, os coronéis Viana de Lemos e Romeiras Júnior eram cunhados sendo este também cunhado do Major Cruz Azevedo do RL2.
[36] Estava planeado mais um exercício com início na madrugada de 25 a ter lugar na Praia do Abano, no Guincho, o que justifica o pouco tempo necessário para o arranque da força.
[37] O esquadrão era constituído pelo comando com 1 jeep e 1 AML e 2 PelRec comandados por Aspirante a Oficial Mil e constituídos por 1 jeep, 3 AML, 3 Chaimites e 1 Unimog rebocando 1 morteiro de 80.
[38] O PelCC (5CC) veio de Santa Margarida (RC4) por caminho-de-ferro até Lisboa onde, ao chegar à estação, foi retirado do comboio um dos CC que seguiu para Beirolas só tendo entrado no RC7 4CC.
[39] Os que tinham acompanhado a força do Major Pato Anselmo pela Ribeira das Naus e que, após a rendição deste, se juntaram aos meios do Alferes David e Silva.
[40] Mais uma curiosidade: o Major Monge, alguns anos depois, vai ocupar este mesmo gabinete mas agora como comandante do CI/PSP, a quem o quartel, do entretanto extinto RC7, fora entregue.
[41] Inicialmente, quando foi criada a Polícia Militar, os primeiros cursos foram frequentados por oficiais de Cavalaria mas também por alguns de Artilharia, entre eles o Corvacho que, já capitão, foi nomeado para o comando do esquadrão da RMN. Tendo sido promovido a major pouco antes de 25 de Abril de 1974, manteve o comando enquanto não foi substituído e foi nessa qualidade que apoiou o Tenente-Coronel Azeredo na tomada do QG/RMN, cujo comandante era o General Martins Soares também ele oriundo da Arma de Cavalaria.
Alexandre de Sousa Pinto
Tenente-General do Exército Português, oriundo da Arma Cavalaria (Academia Militar, 1964). Cumpriu duas comissões de serviço em campanha em Angola e na Guiné. Ao longo da carreira desempenhou funções de comando, direcção, de ensino e na Presidência da República, destacando-se a docência no Instituto de Altos Estudos Militares, o Comando do Governo Militar de Lisboa e Director da Arma de Cavalaria. Foi Presidente da Comissão Portuguesa de História Militar e é membro de diversos organismos relacionados com a História Militar e o Património. Autor de várias obras de carácter histórico e de artigos e ensaios em revistas e obras colectivas diversas.
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Como citar este texto:
PINTO, Alexandre de Sousa – A Cavalaria Em 25 De Abril. Revista Portuguesa de História Militar - Dossier: 25 de Abril de 1974. Operações Militares. [Em linha] Ano IV, nº 6 (2024); https://doi.org/10.56092/BBKS3672 [Consultado em ...].