O GOLPE MILITAR DE 25 DE ABRIL DE 1974. UMA CRONOLOGIA


Abílio Pires Lousada & Humberto Nuno de Oliveira
1973 - Antecedentes Necessários
- 01-03 de Junho: Realizado no Porto, por iniciativa do governo e interdito a oficiais do QP, o «Congresso de Combatentes do Ultramar», em defesa do território ultramarino e da grandeza e unidade de Portugal, propugnado por oficiais milicianos.
- 13 de Julho: Decreto-lei n.º 353/73, assinado pelo Ministro da Defesa, General Sá Viana Rebelo, que permitia aos capitães milicianos integrarem as armas de Infantaria, Cavalaria ou Artilharia depois de um curso intensivo de dois semestres na Academia Militar.
- 5 de Setembro: Enviada, a partir da Guiné, carta de despeito, assinada por 51 oficiais contra os Decretos-Lei de 1973, destinada aos Presidentes da República e do Conselho de Ministros, Ministro da Defesa, do Exército, Subsecretário de Estado do Exército e Ministro da Educação Nacional.
- 09 de Setembro: Em Alcáçovas, decorre a primeira grande reunião, com 136 capitães e oficiais subalternos, que originou o «Movimento dos Capitães».
- 01 de Dezembro: Com 180 oficiais presentes, na reunião de Óbidos elege-se uma Comissão Coordenadora Executiva (CCE) do Movimento dos Oficiais das Forças Armadas (MOFA), alargando assim o Movimento à Marinha e à Força Aérea;
- 05 de Dezembro: Reunião da CCE na Costa de Caparica, onde os Majores Vítor Alves e Otelo Saraiva de Carvalho e o Capitão Vasco Lourenço foram nomeados para a direção.
1974 - «Antecâmara»
- 22 de Fevereiro: Publicação do livro “Portugal e o Futuro", do General António de Spínola, onde defende uma solução política, e não militar, para a Guerra de África.
- 5 de Março: Reunião de Cascais, com 194 oficiais presentes e o triplo dos representados, sendo aprovado o documento «O Movimento, as Forças Armadas e a Nação», redigido pelo Major Melo Antunes o MOFA passou a designar-se Movimento das Forças Armadas (MFA), para ser mais abrangente e inclusivo.
- 14 de Março: Os oficiais-generais dos três ramos das Forças Armadas manifestam em São Bento fidelidade a Marcello Caetano e à política ultramarina do governo.
- 15 de Março: Demissão dos Generais Costa Gomes e António de Spínola dos cargos de Chefe e Vice-Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas, respectivamente, na sequência da não comparência na reunião acima referida.
- 16 de Março: Tentativa falhada de golpe militar contra o regime. Só os homens do Regimento de Infantaria 5 das Caldas da Rainha (comandados pelo Capitão Armando Marques Ramos), marcham sobre Lisboa. São presos cerca de 200 militares.
- 24 de Março: Reunião da CCE do MFA (Majores Otelo Saraiva de Carvalho e Vítor Alves, Capitães Sousa e Castro e Vasco Lourenço), decidindo-se a queda do regime e agendamento do golpe militar para a faixa temporal 20-29 de Abril, cuja responsabilidade operacional é atribuída a Otelo.
- 17 de Abril: Otelo Saraiva de Carvalho apresenta o Plano de Operações militar.
- 21 de Abril: Otelo tenta a adesão ao golpe do Regimento de Caçadores Paraquedistas (RCaçP), comandados pelo Coronel Fausto Marques. Não o consegue mas obtém a garantia da sua neutralidade nos acontecimentos (o que se verificará).
- 22 de Abril: As unidades envolvidas no golpe entram em 'estado de alerta. Na Escola Prática de Transmissões (EPTm), o Tenente-Coronel Garcia dos Santos coordena o grupo que coloca sob escuta as comunicações da Guarda Nacional Republicana (GNR), Polícia de Segurança Pública (PSP), Legião Portuguesa (LP), Direcção-Geral de Segurança (DGS) e dos Ministros do Exército, da Defesa e Chefe de Estado-Maior do Exército (CEME).
- 23 de Abril: Otelo Saraiva de Carvalho, Garcia dos Santos e o Major Jaime Neves reúnem-se no Regimento de Engenharia 1 (RE 1), na Pontinha, para ultimar a instalação do Posto de Comando (PC) do MFA, ligado às centrais de escuta instaladas na véspera na EPTm. Otelo redige as “Instruções Finais" que são distribuídas às 18h00. É garantida a neutralidade dos Fuzileiros.
24 de Abril
- 03h00: Entregues ao Major Nogueira de Albuquerque, do Centro de Instrução e Condução Auto 1 (CICA 1), as ordens de operações referentes às unidades da Zona Norte.
- 05h00: Recepção, no Regimento de Infantaria 14 (RI 14), Viseu, da ordem de operações. O Capitão Ferreira do Amaral transmite as instruções a Lamego e o Capitão Aprígio Ramalho à Guarda.
- 08h00: O Capitão Castro Carneiro e o Alferes Pêgo, do CICA 1, deslocam-se para entregar as ordens de operações às unidades de Lamego (Capitão Delgado da Fonseca), Vila Real (Capitão Mascarenhas) e Bragança (Capitão Garcia Freixo).
- 08h30: Os oficiais do MFA na Escola Prática de Cavalaria (EPC) iniciam contactos com os graduados (oficiais subalternos do Quadro Permanente, alferes, aspirantes, furriéis e cabos milicianos), nas paradas e no maior sigilo, comunicando-lhes que se a senha e contra senha forem para o ar a operação decorrerá nessa madrugada.
- 09h30: O Capitão Santa Clara Gomes, oficial de ligação, entrega ao Major Cardoso Fontão a ordem de missão referente ao Batalhão de Caçadores 5 (BCaç 5).
- 11h00: Chegada a Santarém do Capitão Candeias Valente, portador da ordem de operações para a EPC, principal “músculo" do golpe.
- 11h30: Saída para Lisboa do Coronel Augusto Laje, comandante da EPC, para ir a uma consulta médica.
- 11h40: Na viatura particular de Salgueiro Maia, estacionada no exterior da EPC, junto ao Jardim da República, é entregue a ordem de operações e são acertados alguns pormenores.
- Ao final da manhã, o Major Carlos Morais informa o General Spínola da hora da “Operação Fim Regime" e das respectivas senhas.
- 17h00: Toca à ordem na EPC. Os Tenentes Balula Cid, Ramos Cadete e Silva Aparício saem da Escola e dirigem-se ao Regimento de Cavalaria 7 (RC 7), Regimento de Lanceiros 2 (RL 2) e Polícia Militar, na Ajuda, em Lisboa, para tentar aliciar ou controlar alguns oficiais e inoperacionalizar algumas das viaturas blindadas destes regimentos.
- 20h00: No RE 1 começam os preparativos para a sublevação das tropas. Numa tenda anexa ao Regimento é feita a sintonização e captação de sinal para dentro das instalações. As janelas são forradas com cobertores e são organizadas rondas para aumentar a sua segurança.
- Os oficiais da Força Aérea, Tenente-Coronel Sacramento Gomes, Majores Costa Neves e Campos Moura e Capitães Correia Pombinho, Mendonça de Carvalho, Santos Silva e Santos Ferreira, que constituem o “10.º grupo de comandos", reúnem-se em frente ao Grill do Hotel Ritz e iniciam a vigilância ao Rádio Clube Português (RCP), com vista à sua ocupação após emissão da senha.
- 21h45: O Capitão Santos Coelho, do RE 1, junta-se ao “10.º grupo de comandos", a quem distribui armas e munições, lê a ordem de operações e recapitula as missões.
- 22h00: O Major Otelo chega ao PC/MFA, onde se encontra o Estado-Maior do MFA por si dirigido e composto pelos Tenentes-Coronéis Garcia dos Santos e Nuno Fisher Lopes Pires, Majores Sanches Osório e Hugo dos Santos e o Capitão Luís Macedo (adjunto operacional). Meia hora depois, chega o Capitão-tenente Vítor Crespo, que assegura a ligação com a Marinha, garantida pela presença permanente do Capitão-de-fragata Almada Contreiras no Centro de Comunicações da Armada (CCA). Contam, ainda, com a colaboração de quatro oficiais do RE 1 (Frazão, Máximo, Reis e Cepeda).
O Capitão Salgueiro Maia, indigitado comandante da coluna da EPC, dá início a uma reunião com os oficiais, para dar conhecimento da Ordem de Operações, distribuindo missões e definindo detalhes para o desencadear da operação.
- 22h55: O Capitão PilAv Costa Martins desloca-se para a Base Aérea Nº 1, na Portela de Sacavém, com a missão de interditar o tráfego aéreo.
- 22h50: O Regimento de Infantaria 1 (RI 1, Amadora), através do capitão Coelho Lima, informa que não participará na sublevação. Era a unidade responsável pela tomada do Forte de Caxias.
- 22h55: João Paulo Diniz, aos microfones dos Emissores Associados de Lisboa, anuncia "Faltam cinco minutos para as vinte e três horas. Convosco, Paulo de Carvalho com o Eurofestival 74 «E Depois do Adeus»". É a senha para o início das operações militares.
Pela mesma altura, o Capitão Paraquedista António Ramos segue para a casa do General Spínola (na Rua Rafael Andrade, ao Paço da Rainha) para garantir a sua segurança, sendo reforçado depois pelos Tenente-Coronel Dias de Lima e Major Carlos Morais.
- 23h00: Ocorrem as primeiras movimentações militares:
Na Escola Prática de Artilharia (EPA), Vendas Novas, o Capitão Santos Silva assume o comando da unidade colocando em detenção o comandante, Coronel Mário Belo de Carvalho, o 2.º comandante, Tenente-Coronel João Manuel Pereira do Nascimento, e os sargentos que não aderiram ao golpe. Ficam a aguardar a 2.ª senha para começar a movimentação para o Cristo Rei, em Almada, onde tomariam posições com 6 bocas-de-fogo, regulando o tiro para Monsanto, onde se equacionava que se refugiassem os membros do Governo.
Recolhem à Escola Prática de Infantaria (EPI), Mafra, as forças que se encontravam em exercícios de campo. Estando ausente o comandante, Brigadeiro Henriques da Silva, os revoltosos, liderados pelos Majores Aurélio Trindade e Cerqueira Rocha, tomam conta do quartel.
No BCaç 5, Campolide/Lisboa, o Major Cardoso Fontão consegue a adesão da totalidade dos seus oficiais.
Na Escola Prática de Administração Militar (EPAM), Lumiar, os Oficiais do QP afectos ao Movimento dirigem-se à Unidade.
No destacamento militar da EPC, onde funcionavam três esquadrões de instrução do Curso de Sargentos Milicianos, o oficial de dia ao destacamento, Alferes miliciano Óscar David, é substituído pelo Capitão Tavares Martins, para ficar liberto para tomar parte da operação.
O “10.º grupo de comandos" divide-se em equipas, distribuídas por 4 automóveis, para constituir patrulhas, mantendo a vigilância ao RCP, às principais instalações das Forças de Segurança (GNR, PSP, LP e DGS), e aos quartéis da Calçada da Ajuda (RC 7 e RL 2).
25 Abril
- 00h20: No programa Limite da Rádio Renascença, Leite Vasconcelos passa “Grândola Vila Morena", segunda senha e sinal para o início simultâneo da “Operação Fim de Regime" em todo o País e por todas as forças sublevadas sobre os seus objectivos.
- 00h30: Na EPAM os capitães alinhados dão voz de prisão ao oficial de dia, Alferes miliciano Pinto Bessa, e ao oficial de prevenção, Aspirante miliciano Leão. O Capitão Carlos Gaspar assume as funções ocupando a Escola. O objetivo é a ocupação da Rádio Televisão Portuguesa (RTP): objectivo «Mónaco».
A unidade da Carreira de Tiro da Serra da Carregueira (CTSC) começa a sublevação através dos Capitães Luís Oliveira Pimentel e Frederico Morais. O comandante, Coronel Jaime Banazol, mantém-se neutro O objetivo é a ocupação da Emissora Nacional (Quelhas): objectivo «Tóquio».
Na EPI, os Capitães Rui Rodrigues, Fernando Aguda e Aníbal Albuquerque ordenam a formatura da companhia de intervenção, a três bigrupos de cinquenta homens. O Capitão Silvério executa o plano de defesa do quartel. Os Majores Aurélio Trindade e Cerqueira Rocha convidam o Coronel Jasmins de Freitas a assumir o comando da unidade, que aceita. O seu objetivo é a ocupação do Aeroporto: objectivo «Nova Iorque». Os militares que não aderem são detidos na biblioteca.
Em Santa Margarida quatro milicianos da Companhia de Caçadores 4241 (Ccaç 4241) ocupam a arrecadação do material de guerra.
Na EPA o Capitão Mira Monteiro, à frente de uma Companhia de Artilharia motorizada, segue para Norte. O Capitão Santos Silva assume o comando, apoiado pelos Tenentes Ruaz, Sales Grade e Sousa Brandão.
- 00h40: O comandante do Centro de Instrução de Artilharia Anti-Aérea e de Costa (CIAAC) em Cascais, Coronel Aristides Pinheiro, liga de urgência ao oficial de dia da unidade, ordenando a prevenção da mesma. Minutos depois, tentam entrar no CIAAC os tenentes Ponces de Carvalho, Freire de Nogueira e Custódio Pereira, oficiais do Quartel pertencentes ao Movimento, sendo-lhes negada pelo Major João Pereira Rodrigues. A DGS e o CIAAC tomam conhecimento da sublevação. Fica comprometido o objectivo de ocupação do Aeródromo de Tires, para impedir a fuga dos altos dignitários.
- 00h45: Na EPC é tentado o aliciamento para o golpe do segundo comandante, Tenente-coronel Henrique Sanches. Sem sucesso, é detido, assumindo o Major Rui Costa Ferreira o comando da unidade.
- 01h30: No Porto há concentração de forças no CICA 1, comandado pelo Tenente-Coronel Carlos Azeredo, para posteriormente ocuparem o Quartel-General da Região Militar do Porto (QG/RMP).
Saem duas companhias do Batalhão de Caçadores 9 (BCaç 9) de Viana do Castelo, com destino ao Porto, para ocupação do Aeroporto de Pedras Rubras, do nó rodoviário no final da via Norte e reforço às unidades reunidas no CICA 1.
No RI1 4 a unidade é controlada pelos oficiais afectos ao Movimento: Capitães Diamantino Gertrudes da Silva, Arnaldo da Silveira Costeira, Aprígio Ramalho, António Ferreira do Amaral e Amândio Augusto.
No Regimento de Cavalaria 3 (RC 3), em Estremoz, o comandante, Coronel Nuno Caldas Duarte, mostra-se indeciso e pede tempo para refletir ante a pressão do Major Machado Faria e dos Capitães Andrade Moura e Alberto Ferreira. Impunha-se o cumprimento da missão de marchar sobre Lisboa com uma coluna de auto-metralhadoras, estacionando na zona da portagem da Ponte Salazar, aguardando aí ordens do Posto de Comando.
- 01h40: Na EPC todos os militares, particularmente os milicianos em instrução, aderem ao Movimento e querem seguir para Lisboa. Porém, entre os cerca de 800 homens só podem ir perto de 240 na coluna. Salgueiro Maia manda reunir, armar e municiar os militares. Saem 231 homens, um esquadrão de auto-metralhadoras e um esquadrão de atiradores de cavalaria, com o objectivo de ocupar o Banco de Portugal, a Marconi e o Terreiro do Paço, onde se encontrava o Ministro do Exército.
- 02h00: No RI 14, em Viseu, apresta-se a companhia, comandada pelo Capitão Gertrudes da Silva, que seguirá para a Figueira da Foz, onde se juntará ao Regimento de Infantaria 10 (RI 10), Aveiro e o Centro de Instrução e Condução Auto 2 (CICA 2) e Regimento de Artilharia Pesada 3 (RAP 3), ambos da Figueira da Foz, com vista a constituir o agrupamento "November" do “Agrupamento Norte".
Marcha da coluna do RI10 para a Figueira da Foz, comandada pelo Capitão Pizarro.
Arranca da EPI, sob comando do Capitão Rui Rodrigues, a companhia de intervenção para tomar e defender o Aeroporto, tendo como itinerário Malveira-Loures-Frielas-Camarate.
No BCaç 5, duas companhias são aprestadas em uniforme de combate. O seu objectivo era a ocupação do Quartel-General da Região Militar de Lisboa (QG/RML) e garantir a segurança do RCP na Rua Sampaio e Pina.
Saída dos 47 homens do CTSC, em duas viaturas pesadas e um jipe, com o objectivo de captura da Emissora Nacional.
- 2h30: Os Capitães Dinis de Almeida e Fausto Almeida Pereira logram o controlo do RAP 3, na Figueira da Foz, neutralizando os subalternos milicianos em serviço. Almeida Pereira abre a porta de armas aos oficiais da Escola Central de Sargentos (ECS) de Águeda.
Forças da EPI iniciam a ocupação dos pontos-chave de Mafra, assegurando o domínio da vila e dos respectivos acessos.
- 2h40: A companhia de Instrução da Escola Prática de Engenharia (CInst/EPE), sob comando do Capitão Carneiro Teixeira, sai de Tancos para se dirigirem à ponte da Golegã-Chamusca, onde se juntam às Companhias de Caçadores 4241/73 e 4246/73 oriundas de Santa Margarida.
- 03h00: Montados em duas viaturas ligeiras e três pesadas, cerca de 100 militares da EPAM, sob o comando do Capitão Teófilo Bento, Capturam a RTP: objectivo «Mónaco».
Com aquiescência do comandante do CIOE, Tenente-Coronel José Sacramento Marques, ocorre a saída do Capitão Delgado da Fonseca à frente de uma Companhia de Comandos para ocupar a sede da DGS no Porto. Acaba por auxiliar os militares do CICA 1 a controlar o QG/RMP.
As viaturas militares que constituíam a força da Escola Prática da Artilharia (EPA), composta por uma bateria de artilharia (BTR 8,8) e uma companhia de artilharia motorizada comandadas, respectivamente, pelos Capitães Oliveira Patrício e Mira Monteiro, cruzam a porta da unidade e partem de Vendas Novas em direção a Lisboa. Outra bateria de artilharia (BTR 10,5), comandada pelo Capitão Duarte Mendes, garante a segurança próxima da unidade e assegura a interdição dos eixos viários Montemor-o-Novo e Lavre.
Abrem-se os portões do quartel do BCaç 5, saindo as duas companhias operacionais em marcha apeada. A primeira comandada pelo Capitão Bicho Beatriz para cercar e ocupar o (QG/RML), a segunda sob comando do Tenente Coelho de Mascarenhas para isolar e controlar a área do RCP. O Major Campos Moura e o Capitão Correia Pombinho, encarregues de verificar a saída dos homens do BCaç 5, partem de imediato para informar o “10º grupo de comandos" do facto.
- 03h07: Encontro do “10.º grupo de comandos" com a companhia do BCaç 5 na confluência da rua Castilho com a Sampaio Pina. O Major Fontão Cardoso estabelece contacto proferindo a senha “Coragem", respondendo o Capitão Mendonça de Carvalho com a contra-senha “Pela Vitória".
- 03h15: Uma força do CICA 1, comandada pelo Tenente-coronel Carlos Azeredo, entra no QG/RMP, transformando-o no posto de comando das forças em operações na Região Norte.
Força do CTSC, comandada pelos Capitães Frederico Morais e Oliveira Pimentel, ocupa a rádio oficial Emissora Nacional ao Quelhas: objectivo «Tóquio» assegurado.
A CCaç 4241/73 marcha para o centro emissor do RCP, no Porto Alto; a CCaç 4246/73 dirigir-se-á a Vila Franca de Xira para assegurar o controlo da Ponte Marechal Carmona.
A coluna da EPE segue para Lisboa a fim de cercar e isolar a Casa da Moeda.
No posto de comando do MFA é interceptada uma conversa telefónica entre o General Andrade e Silva, Ministro do Exército, e o Prof. Silva Cunha, Ministro da Defesa, trocando longa e descontraidamente impressões sobre a situação geral: “…não há qualquer problema em qualquer ponto do País …".
- 03h20: A coluna da EPC, com 10 viaturas blindadas, 12 viaturas de transporte de tropas, duas ambulâncias e um jipe e precedida por uma viatura civil, com três oficiais milicianos, comandada pelo capitão Salgueiro Maia, cruza a porta da unidade e sai de Santarém em direção a Lisboa.
- 03h30: A primeira companhia do BCaç 5, comandada pelo Capitão Bicho Beatriz, toma posições de cerco ao QG/RML. O oficial de serviço informa o chefe do Estado-Maior, Coronel Duque, da situação.
- 03h32: O “10º grupo de comandos" entra e ocupa sem incidentes o RCP: objectivo «México».
- 03h35: Primeiro alarme das forças leais ao Governo: o Coronel Santos Júnior, comandante da PSP do Porto, alerta o comando da GNR da tomada do QG/RMP.
- 03h40: A coluna do RI 10 Aveiro chega aos portões do RAP 3 da Figueira; o Capitão Diniz de Almeida dá voz de prisão ao Coronel Sílvio Aires de Figueiredo, comandante da unidade. Inicia-se a demorada organização do “Agrupamento Norte": preparação da coluna do RAP 3; municiar as tropas chegadas de Aveiro; aguardar a chegada das do Centro de Instrução de Condução Auto 2 (CICA 2), da Figueira da Foz, e do RI 14, de Viseu.
- 03h45: O Comando Geral da GNR ordena ao Batalhão N.º 4 (Porto) que entre em prevenção. O General Adriano Augusto Pires (Comandante-geral da GNR) tenta que os Comandos da PSP e do RC6, do Porto, constituam forças para libertar o QG/RMP. Porém, aqueles aderem aos revoltosos.
- 03h55: A companhia do RI 14 auto-transportada, comandada pelo Capitão Silveira Costeira, constituída por 4 viaturas pesadas, 1 ambulância e 1 viatura de exploração civil, sai do quartel com destino à Figueira da Foz.
- 04h00: Ausência de notícias da coluna da EPI, que deveria ter tomado o objectivo «Nova Iorque» (Aeroporto), mas que se enganou no trajecto. A ocorrência conduz ao adiamento da transmissão do primeiro comunicado, inicialmente prevista para aquela hora. Nessa altura, o Capitão PilAv Costa Martins encontrava-se sozinho nas instalações esgrimindo o bluff de um cerco montado por forças da EPI. Chega finalmente a coluna, comandada pelo capitão Rui Rodrigues.
O comandante da RML, numa reunião de emergência, encontra-se com o corpo do seu Estado-Maior na residência do respectivo sub-chefe.
PSP e DGS são avisadas por forças da EPAM que devem retirar em torno da RTP. Como não obedecem, é dada a ordem para efectuar rajadas de G3 para ao ar. A PSP retira.
- 04h10: O Grupo L34, constituído pelos Capitães António Alves Martins, José Ribeiro da Silva, António Morais da Silva e Rui Faria de Oliveira e Tenente Américo Fernandes Henriques, oficiais da Academia Militar (AM), tenta deter o Coronel António Romeiras Júnior, Comandante do RC 7 que, iludindo a vigilância, pôde dirigir-se para o seu regimento.
- Um grupo de oficiais constituído pelo Majores Adérito Figueira, Hugo dos Santos e Vasco Rosado Durão tenta deter, sem êxito, o Tenente-Coronel Ferrand de Almeida do RC 7.
- 04h15: Rendição do QG/RML. O Major Cardoso Fontão comunica ao posto de comando que o objectivo «Canadá» fora ocupado sem incidentes.
O General Eduardo Martins Soares, Comandante da RMP, ordena aos comandantes do Regimento de Infantaria 8 (RI 8), de Braga, Coronel Rui Vasques de Mendonça, e do Regimento de Infantaria 13 (RI 13), de Vila Real, Coronel Carneiro de Magalhães, para avançarem sobre o Porto e libertarem o QG das mãos dos “insurrectos". São impedidos de cumprir as ordens por oficiais das unidades.
Forças do CICA 1 detêm, à saída da sua residência, o chefe do Estado-Maior do QG/RMP, Coronel Ramos de Freitas.
Controlado o aeroporto de Lisboa, espaço aéreo português interditando e o tráfego desviado. O objectivo «Nova Iorque» passa a estar sob o controlo do Movimento.
- 04h26: O RCP, pela voz de Joaquim Furtado, emite o primeiro comunicado do MFA.
- 04h30: No Grupo de Artilharia Contra Aeronaves 2 (GACA 2), de Torres Novas, os capitães do QP, Pacheco, Dias Costa e Ferreira da Silva conseguem a adesão dos milicianos comandantes de companhias mobilizadas para o Ultramar.
- 04h45: Leitura no RCP do 2.º comunicado do MFA.
O Quartel-General da Região Militar de Coimbra (QG/RMC) toma conhecimento do movimento em curso.
- 04h50: A Coluna da EPC chega às portagens da A1, em Sacavém.
- 05h10: É transmitida ao chefe do Estado-Maior da Região Militar de Évora (RME), Coronel Cunha Saco, a ordem do Ministério do Exército para entrar de prevenção rigorosa.
- 05h15: O Presidente do Conselho Marcello Caetano recebe telefonema do Diretor-geral da DGS, Major Silva Pais, informando-o da Revolução e da gravidade da situação, aconselhando-o a refugiar-se no Quartel do Comando-Geral da GNR, no Largo do Carmo.
Leitura do 3.º comunicado do MFA.
O BCaç 9, de Viana do Castelo, ocupa e controla o aeroporto de Pedras Rubras, no Porto.
- 05h18: A coluna da EPC chega ao Campo Grande e pára nos semáforos do cruzamento com a Cidade Universitária. Irritado com o ridículo da situação, Salgueiro Maia, manda progredir até ao Terreiro do Paço.
- 05h19: O General Luís do Nascimento, Ajudante-General do Exército, telefona ao recém-nomeado Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA), General Luz Cunha, a informá-lo que “está muita tropa na rua".
- 05h20: O general Viotti de Carvalho, vice-chefe do Estado-Maior do Exército (EME), determina ao comandante da EPTm para proceder à escuta das comunicações militares, a relatar ao Estado-Maior. No entanto, há largas horas que a referida unidade militar desempenhava aquela missão a favor do MFA.
- 05h27: O Ministro do Exército, General Andrade e Silva, dá ordens, não acatadas, ao RI 6, do Porto, comandado pelo Coronel Passos de Esmoriz, para libertar o QG/RMP.
- 05h30: No cruzamento da Avenida Fontes Pereira de Melo com a António Augusto de Aguiar, a coluna da EPC depara-se com uma força da polícia de choque, que se afasta à passagem da coluna militar.
O Comando Territorial do Algarve (CTA) ordena a entrada em prevenção rigorosa das suas três unidades.
- 05h45: Leitura de novo Comunicado do MFA.
- 05h46: O Ministro do Exército ordena ao comandante do RC 7, Coronel António Romeiras Júnior, que tome posições em Vale de Cavalos, com os carros de combate M47, para deter uma coluna da EPC, referenciada no Cartaxo, a caminho de Lisboa.
- 05h50: Força do CICA 1 ocupa o centro emissor do RCP de Miramar (Porto).
- 05h55: A coluna da EPC ocupa o Terreiro do Paço, objectivo «Toledo», local onde se encontram tropas da Polícia Militar de guarda aos vários ministérios. Cerca, ainda, o Banco de Portugal (objectivo «Bruxelas»), a Rádio Marconi (objectivo «Viena») e outros pontos estratégicos da Baixa lisboeta, isolando a zona.
- 05h59: O Ministro do Exército determina ao General Carvalhais a proteção dos CTT e das companhias das águas e electricidade. Telefona ao Coronel Romeiras Júnior ordenando-lhe que quebre o cerco a que estão sujeitos no Ministério, sendo informado que as forças do RC7 estavam a caminho na Avenida 24 de Julho.
- 06h00: O Presidente do Conselho chega ao Quartel do Carmo.
O Major Correia Barrento, chefe do Estado-Maior do Quartel-General da Região Militar de Tomar (QG/RMT), ordena às unidades que passem ao estado de prevenção rigorosa. Mas já há horas que forças de Tancos (EPE), de Santa Margarida (CCaç 4241 e 4246) e de Santarém (EPC) se movimentam em apoio do MFA.
O quartel do GACA 2 é ocupado, passando de força inimiga a apoiante.
- 06h10: Os primeiros carros do RC 7 (um pelotão de AML/Chaimites reforçado com Panhards), favorável ao governo, chegam ao Terreiro do Paço, comandados pelo Alferes miliciano David e Silva.
O Ministro do Exército pede ao General da Força Aérea Henrique Troni para «mandar dois aviões sobrevoar o Terreiro do Paço».
- 06h15: O Coronel Costa Pinto, comandante do Batalhão N.º 1 da GNR, avisa o Brigadeiro Junqueira dos Reis, 2.º comandante da RML, sobre a movimentação de tropas revoltosas.
- 06h25: Os dois pelotões do RL 2 que guardam o Ministério do Exército, à excepção de sete elementos que irão a possibilitar a fuga aos membros do Governo, aderem aos revoltosos.
- 06h30: Após conversações, o pelotão do RC 7 comandado pelo Alferes miliciano David e Silva rende-se e coloca-se às ordens do MFA.
Soa o alarme na Força Aérea. O Comando da I Região Aérea ordena ao Comandante do Regimento de Caçadores Paraquedistas que desloque para Monsanto uma força. O Coronel Fausto Marques cumpre a sua promessa de não actuar contra as forças do Movimento.
O Brigadeiro Junqueira dos Reis é designado comandante das Forças Governamentais.
- 06h37: Sabe-se no PC da Pontinha que Marcello Caetano se encontra refugiado no Quartel da GNR do Carmo.
- 06h45: Leitura de comunicado do MFA.
O Capitão Salgueiro Maia solicita ao PC/MFA o envio de um oficial superior para deter o Ministro da Guerra. São enviados o Tenente-coronel Correia de Campos e o Major Jaime Neves.
Os Capitães Glória Alves e Ferreira Lopes, à frente de um pelotão do Centro de Instrução de Condução Auto 5 (CICA 5) de Lagos, ocupam o centro retransmissor de Fóia, na serra de Monchique.
- 06h45: É, finalmente, “lançada a ofensiva" das forças fiéis ao regime, com cinco carros de combate M47 e auto metralhadoras Panhard, à frentes das quais estão o Brigadeiro Junqueira dos Reis, Coronel Romeiras Júnior, Tenente-Coronel Ferrand de Almeida e Major Pato Anselmo.
O Ministro do Exército ordena ao Comando da GNR, a partir do RL 2, o envio de força para atacar as de Salgueiro Maia, complementando a manobra da coluna de Cavalaria.
- 06h50: Uma bateria de obuses do Regimento de Artilharia Pesada 2 (RAP 2), de Vila Nova de Gaia, toma posição em ambas as entradas da Ponte da Arrábida, no Porto, permitindo o acesso apenas às forças amigas.
Uma força do RL 2 do regime, comandada pelos Majores Campos Andrada e Cruz Azevedo e pelo Tenente Ravasco, estaciona na Praça de Espanha com o objectivo de recuperar o QG/RML. Será dissuadida pelas forças do Capitão Bicho Beatriz.
- 07h00: Forças da EPA, comandadas pelos Capitães Oliveira Patrício e Mira Monteiro, ocupam a colina do Cristo-Rei, em Almada, consumando o objectivo «Londres».
Surge no Terreiro do Paço, do lado da Ribeira das Naus, um pelotão de reconhecimento Panhard do RC 7, orientado pelo Tenente-Coronel Ferrand de Almeida que, perante o dilema de ter de disparar opta por se render. É detido por Salgueiro Maia.
O comandante da 1.ª Divisão da PSP, Capitão Maltez Soares, coloca-se às ordens de Maia, recebendo instruções para orientar e desviar o trânsito para o Rossio e montar o dispositivo de alteração de tráfego em toda a Baixa lisboeta.
Uma coluna do RC 3, de Estremoz, sob o comando dos Capitães Andrade Moura e Alberto Ferreira, sai do Quartel e dirige-se a Setúbal, a fim de atingir a Ponte Salazar. Juntam-se-lhe os capitães Miquelina Simões e Gastão Silva, que haviam sido colocados no Regimento de Lanceiros 1 (RL 1) de Elvas, na sequência do frustrado golpe das Caldas.
- 07h10: O “Agrupamento Norte", composto por forças do RAP 3 e CICA 2, da Figueira da Foz, e do RI 10, de Aveiro, sai à porta de armas do Quartel em direção a Leiria.
O RI 14 de Viseu passa pela Figueira da Foz e integra as forças do “Agrupamento Norte" antes da chegada deste a Leiria. O comando é assumido pelo Capitão Gertrudes da Silva.
- 07h30: Leitura de outro comunicado do MFA.
É detido, nas imediações do RCP, o Tenente-Coronel Chorão Vinhas, 2.º comandante do BCaç 5.
Uma segunda coluna da EPC, constituída por cinco carros de combate (2 M47 e 3 M24) e dois pelotões de atiradores (cerca de 60 homens), sob comando do Capitão Correia Bernardo, atinge o perímetro de Santarém, pronta para avançar para Lisboa em apoio da coluna de Salgueiro Maia. A evolução dos acontecimentos tornou desnecessária tal medida.
O Contra-almirante Jaime Lopes, vice-chefe do Estado-Maior da Armada, e o Comandante Malheiro Garcia, oficial do Estado-Maior, dão ordem à fragata Almirante Gago Coutinho para ocupar posição em frente do Terreiro do Paço e preparar-se para abrir fogo a fim de “intimidar uma força revoltosa do Exército".
- 07h40: A CCaç 4241/73, de Santa Margarida, ocupa o centro emissor do RCP, em Porto Alto.
- 08h00: Corte de energia ao centro emissor do RCP pelo Comandante da Legião Portuguesa, em Porto Alto, que passa a funcionar com gerador de emergência.
A Companhia do CIOE, comandada pelo Capitão Delgado da Fonseca, chega à cidade do Porto, dirigindo-se ao CICA 1.
Chegada da Fragata Almirante Gago Coutinho frente ao Terreiro do Paço, comandada pelo Capitão-de-Fragata António Seixas Louçã, intimidando directamente as forças de Salgueiro Maia. A bordo ocorrem incidentes verbais entre o comandante e o Primeiro-Tenente Fernando Ferreira dos Santos, oficial imediato, e o Primeiro-Tenente Dores de Sousa, chefe do Serviço da Artilharia, sobre a interpretação e cumprimento da ordem recebida.
- 08h15: Uma força motorizada da GNR, de 12 Land Rover, proveniente do quartel do Cabeço de Bola, sob comando do Capitão Andrade e Sousa, desce pela Praça da Figueira e, através da Rua da Madalena, toma posição no Campo das Cebolas, na tentativa de envolver as forças da EPC.
- 08h20: Forças da GNR tentam penetração até ao Terreiro do Paço, pela Rua da Alfândega, mas, após um breve diálogo com Salgueiro Maia, o comandante da força é convencido a abandonar o local face à disparidade de meios.
- 08h22: O General CEMGFA, Luz Cunha, informa o General CEME, João Paiva Brandão, que pretende utilizar meios da Escola Prática do Serviço de Material (EPSM), Sacavém, para tomar posições e libertar o AB 1 (Portela).
- 08h30: Uma força da PSP chega ao Terreiro do Paço, vinda de Santa Apolónia, mas demite-se de entrar em confronto.
A artilharia do Movimento, já estacionada no Cristo-Rei, recebe ordens do PC para afundar a fragata caso esta abra fogo para o Terreiro do Paço. O vaso de guerra terá recebido ordem do vice-chefe do Estado-Maior da Armada, Almirante Jaime Lopes, "para se preparar para abrir fogo". A ordem de disparar nunca chegou.
- 08h44: Leitura de novo comunicado do MFA, aos microfones da Emissora Nacional.
- Coluna de nove viaturas militares da EPE estaciona no centro emissor do RCP (Porto Alto), a fim de reforçar a sua defesa. Posteriormente segue para Lisboa, onde ocupa a Casa da Moeda.
- 09h00: O Major Cardoso Fontão detém, nas imediações do QG/RML, o Brigadeiro Pedro Serrano que, no 16 de Março, comandara o cerco ao RI 5.
- 09h15: Uma força da EPC, com uma Auto-metralhadora Ligeira (morteiro de 60 mm) e uma ETI/Panhard, comandadas pelo Alferes Sequeira Marcelino e pelo Aspirante Pedro Ricciardi, vão reforçar o cerco ao QG/RML, em São Sebastião da Pedreira.
- 09h35: Chega ao Terreiro do Paço a força comandada pelo Brigadeiro Junqueira dos Reis, segundo comandante da RML, constituída por 4 carros de Combate M47, uma companhia de atiradores do RI 1 e alguns pelotões da Polícia Militar. A partir do Largo do Corpo Santo, dois dos carros de combate, comandados pelo Major Pato Anselmo, tomam posições na Ribeira das Naus, enquanto os outros dois, sob o comando do Coronel Romeiras Júnior, estacionam na Rua do Arsenal.
- 09h40: Os Ministros da Defesa, da Informação e Turismo, do Exército e da Marinha, o CEMGFA, o comandante da RML, o sub-secretário de Estado do Exército e o Almirante Henrique Tenreiro fogem pelas traseiras do Ministério do Exército, através de um buraco na parede, para a biblioteca do Ministério da Marinha. São transportados numa viatura, protegidos, por um dos M47, para o RL 2, onde passa a funcionar o Posto de Comando das tropas leais ao Governo.
O Chefe do Estado-Maior da Armada, Vice-almirante Eugénio Ferreira de Almeida, contacta o Capitão-Tenente Guilherme de Alpoim Calvão, comandante da Polícia Marítima do Porto de Lisboa, no sentido de tentar interromper a emissão do RCP, recomendando este o bombardeamento das antenas de Porto Salvo com morteiros.
- 09h45: Ante a chegada dos carros de combate do RC 7, Salgueiro Maia ordena ao Tenente miliciano Sousa e Silva que mande colocar todas as viaturas de transporte da EPC viradas para Santa Apolónia, para precaver a hipótese de uma eventual necessidade de retirada para Santarém.
- 10h00: Tentativa de negociação, por parte do Tenente Alfredo Assunção, da EPC, com o Coronel Romeiras Júnior e o Brigadeiro Junqueira dos Reis. Este agride à chapada o emissário dos revoltosos, que responde com continência e posição de sentido. O Brigadeiro manda, de seguida, abrir fogo sobre ele, não sendo obedecido pelo Alferes miliciano Fernando Sottomayor, por intervenção direta do Coronel Romeiras. Assunção regressa, então, para junto das suas tropas e Sottomayor recebe voz de prisão do Brigadeiro e é encaminhado para o RL 2. Segue-se idêntica ordem ao Cabo apontador José Alves Costa. O cabo fecha-se dentro do carro de combate e não acata a ordem de abrir fogo.
- 10h10: Chega ao Terreiro do Paço do Tenente-Coronel Correia de Campos, enviado pelo Posto de Comando da Pontinha, com a missão de coordenar as operações. Este, juntamente com o Major Jaime Neves, lidera um grupo de Comandos que passa revista ao Ministério do Exército e confirmam a fuga dos ministros que tinham por missão prender. Dão voz de prisão ao chefe de gabinete do Ministro do Exército, Coronel Álvaro Fontoura, e ao chefe de gabinete do sub-secretário de Estado.
O Marcello Caetano ordena que o Ministro da Defesa Nacional, Professor Joaquim da Silva Cunha, passe a comandar as operações de defesa do regime, em substituição do General Andrade e Silva.
- 10h20: O Major Jaime Neves, o Capitão Tavares de Almeida e os Alferes milicianos Maia Loureiro e David e Silva negoceiam a rendição do Major Pato Anselmo, na Ribeira das Naus. A rendição será conseguida pelo ex-Alferes miliciano Fernando Brito e Cunha. Os dois carros de combate e as tropas que os seguiam passam-se para o lado dos revoltosos.
- 10h30: Na Rua do Arsenal, decorre a tentativa de negociação, infrutíferas, com o Brigadeiro Junqueira dos Reis e o Coronel Romeiras Júnior, por parte dos Tenentes Alfredo Assunção e Santos Silva, da EPC, e o Furriel J. Nunes, do RC 7. Uma vez mais, o Brigadeiro Junqueira dos Reis ordena, sem sucesso, aos seus homens que abram fogo sobre os revoltosos. Perante a desobediência generalizada, dá dois tiros para o ar e dirige-se para a Rua do Arsenal, onde se encontra o carro de combate do comandante do RC 7.
O Agrupamento Norte, comandado pelo Capitão Gertrudes da Silva, atinge Peniche com o objectivo de ocupar o Forte. Face à resistência da DGS, a companhia do CICA 2 e duas secções de obuses do RAP 3 montam cerco, seguindo o grosso da coluna para Lisboa.
- 11h00: O Governo corta a emissão em FM do RCP, desligando o comutador de Monsanto.
É detido, por forças do BCaç 5, nas instalações do Quartel Mestre General, o seu responsável, General Louro de Sousa, e o Brigadeiro Jaime Silvério Marques.
Tropas do CIOE procedem à detenção do General Martins Soares e do Brigadeiro Oliveira Barreto, comandante e 2.º comandante da RMP, respectivamente.
- 11h30: Forças do RC 7, RL 2 e RI 1, agora sob o comando do Major Jaime Neves (e do Capitão Morais da Silva e Tenentes de Cavalaria Cadete e Baluda Cid), seguem para o QG/LP.
Unidades da EPC avançam do Terreiro do Paço para o Quartel do Carmo.
- 11h45: A Fragata Almirante Gago Coutinho retira para o Mar da Palha.
Uma companhia do RI 1, da Amadora, comandada pelo Capitão Fernandes, tenta barrar a coluna da EPC no Rossio, passando-se depois para o lado do Capitão Salgueiro Maia.
Leitura de novo comunicado do MFA ao País.
- 12h20. Inicia-se o cerco ao Quartel da GNR, no Carmo, pela coluna da EPC, onde se encontra o presidente do Conselho, Marcello Caetano.
- 12h45: Forças da GNR tomam posição na rectaguarda das forças de Salgueiro Maia.
A RTP reinicia a emissão.
- 13h00: Face ao cerco do Quartel do Carmo, o Brigadeiro Junqueira dos Reis dirige-se, com dois carros de combate M47, os efectivos do RL 2 e atiradores do RI 1 que lhe restavam, para o Largo de Camões, na esperança de, conjuntamente com forças da GNR, tentar libertar o Presidente do Conselho.
A companhia do RI 1 passa-se para as fileiras do MFA e parte da guarnição de um M/47 abandona o Brigadeiro Junqueira dos Reis, remetendo-o a uma crescente impotência.
Uma força da GNR dispõe-se ao longo da Rua Nova da Trindade, até junto da rectaguarda das forças de Cavalaria que cercam o Carmo.
- 13h00: Emitido outro comunicado do MFA.
- 13h15: A coluna do RC 3, de Estremoz, com a missão libertar os militares presos na Trafaria, chega à Ponte Salazar, assegurando o controlo da mesma. Do PC/MFA recebe outro objectivo: acorrer em defesa das forças de Salgueiro Maia, a fim de encurralar a GNR e a Polícia de Choque entre dois fogos.
- 13h30: O Major Jaime Neves, depois de montar o dispositivo militar nos acessos ao Quartel da LP, dá aos ocupantes quinze minutos para se renderem. O comandante, General Pereira de Castro, e o Estado-Maior da Legião Portuguesa, rendem-se. As forças do Movimento ocupam o edifício da Penha de França: objectivo «Marrocos».
- 14h00: Um helicanhão sobrevoa o Largo do Carmo, causando grande ansiedade entre os militares e a população.
Corte de energia ao emissor do RCP de Miramar (Porto).
A Cruz Vermelha instala um posto de primeiros socorros no Cais do Sodré.
- 14h30: Leitura no RCP de mais um comunicado do MFA.
- 14h45: Face à chegada das forças do RC 3, o Brigadeiro Reis abandona a posição e cessa toda a actividade de resistência, devido à inoperância das tropas governamentais.
- 14h55: Novo comunicado do MFA alerta a população contra os elementos da GNR e PIDE/DGS, que se fazem passar por amigos do Movimento.
Mensagens via rádio interceptadas revelam o desespero entre os comandos das forças fiéis ao Governo.
- 15h10: Na sequência de mensagem recebida de Otelo Saraiva de Carvalho, a ordenar que apresente um aviso-ultimato para a rendição, o Capitão Salgueiro Maia exige a rendição da GNR em 10 minutos.
- 15h15: Libertados da Trafaria, por uma companhia de artilharia motorizada da EPA, chefiada pelo Tenente Andrade e Silva, os onze militares que aí se encontravam detidos em consequência do falhado golpe das Caldas, a 16 de Março,
- 15:30: Face à ausência de resposta da GNR, o Capitão Salgueiro Maia ordena uma rajada de fogo sobre as janelas mais altas do Quartel do Carmo.
- Um helicóptero pousa no RL 2, levando os ministros da Defesa e do Exército para Monsanto.
- 16h00: Forças do CIOE do Capitão Delgado da Fonseca tomam a RTP do Monte da Virgem e do RCP no Porto.
Força de artilharia da EPA recebe ordens para cercar e ocupar o RL 2, dado que o Coronel Manuel Pinto Bessa e o Major Manuel Cruz Azevedo se manifestaram contra o MFA, recusado aderir ao golpe.
- 16h05: Feytor Pinto, director dos Serviços de Informação da Secretaria de Estado, e Nuno Távora, chefe de gabinete, chegam ao quartel do Carmo onde recebem uma mensagem de Marcello Caetano para o General Spínola.
O Capitão Salgueiro Maia dá ordens ao Alferes miliciano Carlos Beato para instalar os seus homens nas varandas do edifício da Companhia de Seguros Império e fazer fogo com armas automáticas G-3 sobre a frontaria do Quartel do Carmo.
- 16h45: Spínola comunica ao PC/MFA ter recebido um pedido de Marcello Caetano para ser ele a aceitar a rendição do chefe do governo. Otelo, após recolher a opinião dos presentes, concede-lhe o mandato.
- 17h00: Salgueiro Maia desloca-se ao interior do Quartel e fala com Marcello Caetano, que lhe solicita que um oficial-general vá efetuar a transmissão de poderes para que “o poder não caia na rua".
- 17h45: Chegada do General António de Spínola ao quartel do Carmo, acompanhado pelo Tenente-Coronel Dias de Lima, Major Carlos Alexandre Morais, Capitão António Ramos e Dr. Carlos Vieira da Rocha, para receber a rendição de Marcello Caetano.
- No Largo Carmo, o Dr. Francisco Sousa Tavares dirige-se de megafone à multidão, a pedido das forças militares, apelando para se comportem de forma cívica.
- 18h45: O “Agrupamento Norte" chega a Lisboa.
- 19h00: Uma coluna da EPA, comandada pelo Capitão Mira Monteiro, estaciona na Ajuda, junto dos aquartelamentos do RC 7 e RL 2.
- 19h30: O Presidente do Conselho, Marcello Caetano, apresenta a demissão ao General Spínola e abandona o Quartel do Carmo na autometralhadora Chaimite “Bula", acompanhado pelos ministros Negócios Estrangeiros, Rui Patrício, e do Interior Moreira Baptista, sendo conduzidos ao Quartel da Pontinha.
Levantado o cerco ao Quartel do Carmo.
Forças dos Regimentos de Infantaria 16 (RI 16) e de Artilharia Ligeira 3 (RAL 3) cercam o QG/RME, cujo comando se rende sem resistência.
- 19h50. MFA anuncia a queda do Governo e a formação da Junta de Salvação Nacional (JSN).
- 20h00: O General António de Spínola chega ao Quartel da Pontinha afirmando: “Senhores oficiais, devo começar por informá-los que acabo de assumir o poder no Quartel do Carmo. Agora vamos ao trabalho".
A força da Armada, comandada pelo Capitão-Tenente Luís da Costa Correia, chega às instalações do Ministério da Marinha, no Terreiro do Paço, para receber a rendição ou adesão do Chefe do Estado-maior da Armada, Almirante Eugénio Ferreira de Almeida, o qual informa já ter garantido oficialmente a adesão da Marinha ao MFA.
- 21h00: Elementos da DGS abrem fogo sobre o aglomerado de gente que sitiava a sua sede, atingindo mortalmente quatro pessoas e ferindo muitas outras.
O Capitão Andrade Moura, do RC 3, sabendo do que se passa na sede da DGS, faz deslocar uma viatura blindada e alguns jipes com militares do RC 3 e do Regimento de Lanceiro 1 (RL 1), de Elvas, montando cerco à sede da polícia política. São militares desta força que entrarão na sede da DGS aquando da rendição no dia seguinte, pelas 09h30.
A chaimite Bula e a coluna da EPC chegam ao Posto de Comando, com Marcello Caetano e os dois ministros, que ali ficam detidos até ao dia seguinte.
- 21h15: Forças do RAP 3 e da EPI procedem à detenção dos ministros da Defesa, do Exército, da Marinha e de outras altas patentes militares que estavam refugiados no Comando da 1.ª Região Aérea, em Monsanto.
- Um dos elementos da DGS capturado por tropas na rua enceta uma fuga por medo da reacção popular, sendo abatido a tiro pelas costas.
- 22h00: A DGS resiste igualmente na prisão de Caxias. As primeiras tropas a chegar ao Forte são duas companhias de Paraquedistas, comandadas por José Brás e Mário Pinto. Horas mais tarde chegam também fuzileiros, que montam um cordão de segurança em torno do reduto Norte.
Anuncia-se que a PSP aderiu ao Movimento e deixou de oferecer resistência.
- 22h30: O Major Manuel Monge e o Capitão Salgueiro Maia, comandando uma coluna blindada, seguem para Belém com vista à rendição dos RL 2 e RC 7, que ocorrerá às 01h de 26 de Abril.
Dia Seguinte
- 01h25: O General António de Spínola, presidente da Junta de Salvação Nacional, constituída também pelos generais Francisco da Costa Gomes e Manuel Diogo Neto, Brigadeiro Jaime Silvério Marques, Coronel Carlos Galvão de Melo, Capitão-de-Mar-e-Guerra José Pinheiro de Azevedo e Capitão-de-Fragata António Rosa Coutinho, profere uma comunicação ao país a partir dos estúdios da RTP.
- O ex-presidente da República Américo Thomaz, ex-presidente do Concelho Marcello Caetano e alguns ex-ministros do regime deposto são conduzidos sob escolta para o Agrupamento Base N.º 1 na Portela, onde embarcam num D-6 da Força Aérea com destino à Madeira.
Bibliografia
CARVALHO, Luís Pedro Melo de – O Movimento dos Capitães, o MFA e o 25 de Abril: do Marcelismo à queda do Estado Novo. Dissertação apresentada para obtenção do Grau de Mestre. Lisboa: Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias – Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, 2009.
LÉONARD, Yves – Breve história do 25 de Abril. Lisboa: Edições 70, 2024.
MARQUES, João Carlos – O 25 de Abril minuto a minuto. s.l.: Presselivre, Imprensa livre SA, s.d.
POMBEIRO, João (coord.) – 25 de Abril – o dia da liberdade. Lisboa: Reverso Editora, 2024.
SABALETE, Carmen (dir.) – 25 de Abril. A Revolução dos Cravos. s.l.: Super Interessante História, 2024.
VISÃO HISTÓRIA – 25 de Abril de 1974. Operação Fim-Regime. N.º 23, março de 2014.
Referências web
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https://www.50anos25abril.pt/capitaes-em-movimento/fita-do-tempo
https://www.sulinformacao.pt/2023/04/cronologia-do-25-de-abril-os-anos-da-revolucao-dos-cravos/
https://www.dw.com/pt-002/cronologia-1970-1974-da-intensifica%C3%A7%C3%A3o-da-luta-armada-%C3%A0-revolu%C3%A7%C3%A3o-dos-cravos/a-17280935
https://www.cd25a.uc.pt/pt
Abílio Pires Lousada
Militar Historiador e Mestre em Estratégia, co-Director da Revista Portuguesa de História Militar. Membro do Conselho Científico da Comissão Portuguesa de História Militar e membro fundador da Associação Ibérica de História Militar. Autor/co-autor de 18 livros e de mais de 70 artigos sobre História Militar e Estratégia. Prémio Defesa Nacional e Jornal do Exército
Humberto Nuno de Oliveira
Historiador (doutor em História), co-Director da Revista Portuguesa de História Militar. Membro do Conselho Científico da Comissão Portuguesa de História Militar e da Direcção de História e Cultura Militar. Presidente da Academia Falerística de Portugal. Professor da Universidade Pedagógica Nacional - Dragomanov (Quieve). Cumpriu, como Miliciano, o Serviço Militar Obrigatório no Exército Português
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Como citar este texto:
LOUSADA, Abílio Pires & OLIVEIRA, Humberto Nuno de – O Golpe Militar de 25 de Abril de 1974. Uma Cronologia. Revista Portuguesa de História Militar - Dossier: 25 de Abril de 1974. Operações Militares. [Em linha] Ano IV, nº 6 (2024); https://doi.org/10.56092/EXYW3546 [Consultado em ...].