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A ESPINGARDA NO JAPÃO: UM CONTRIBUTO PORTUGUÊS 

 

 

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ABÍLIO PIRES LOUSADA & HUMBERTO NUNO DE OLIVEIRA​



 

Os Japões (...) derão rebate disso ao Nautaquim (...)  porque como até então naquella terra nunca se tinha visto  tiro de fogo, não se sabiam determinar que aquillo era, nem entendião o segredo da polvora, & assentarão todos que era feitiçaria"

In Peregrinação, Fernão Mendes Pinto

 

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Resumo

Embora o tema da introdução da arma de fogo no Japão por portugueses apresente amplos estudos académicos, permanece com diferentes perspectivas de abordagem, não isentas de dificuldades e de contradições. Nomeadamente quando se procura creditar responsáveis pelo feito, datar o acontecimento e definir causas ou motivações. Da importância que a arma de fogo teve para redefinição e ajustamento do complexo xadrez político do Japão, a partir da segunda metade do século XVI, as hesitações são menores, a começar na assunção de uma mais-valia asumida pelos próprios beneficiários. Entre a colocação da armas de fogo ao dispor dos japões e a sua utilidade táctica e estratégica conducente à unificação do território, subsiste um ainda um relativo vazio pela reduzida atenção que tem merecido as característica técnicas e o funcionamento da espingarda de mecha.

Com o presente texto, os autores procuram não apenas analisar o contexto do surgimento da arma de fogo na Terra do Sol Nascente e as incertezas sobre o momento, mas também quem terão sido os responsáveis por tal facto, percorrendo para o efeito fontes nacionais e japonesas. Far-se-á ainda, com o detalhe possível, o estudo relativo ao funcionamento técnico da arma e às suas valências enquanto «actor» importante na História do Japão.

Finalmente, e porque o feito é assaz desconhecido do cidadão menos atento às incidências e fulgores da História, recuperamos as remeniscências e a memória de tal acontecimento na actualidade.

Palavras-Chave: Espingarda de Mecha; Guerra; Japão; Portugueses.

Abstract

Although the subject of the introduction of firearms into Japan by the Portuguese has been widely studied in academic circles, there are still different approaches, not without difficulties and contradictions. Particularly when trying to credit those responsible for the event, date it and define causes or motivations. The importance of the firearm in redefining and adjusting Japan's complex political chessboard from the second half of the 16th century onwards is less hesitant, starting with the assumption of added value by the beneficiaries themselves. Between making firearms available to the Japanese and their tactical and strategic use in the unification of the territory, there is still a relative vacuum due to the limited attention paid to the technical characteristics and functioning of the matchlock rifle.

With this text, the authors seek not only to analyse the context of the emergence of the firearm in the Land of the Rising Sun and the uncertainties surrounding its timing, but also who may have been responsible for it, using national and Japanese sources. We will also study, in as much detail as possible, the technical functioning of the weapon and its value as an important "actor" in Japanese history.

Finally, and because the event is largely unknown to citizens who are less attentive to the incidents and flavours of history, we will recover the memories of the event today.

Keywords: Matchlock rifle; War; Japan; Portuguese

 


O Império a Oriente marcou a mítica alma portuguesa, atravessou séculos e permaneceu nostálgico como época áurea que revelou ao mundo um Portugal de referência, consolidado e global. Instalado de Mombaça a Goa, de Ormuz a Malaca, de Ceilão a Macau, Portugal dominava a costa do Malabar, controlava o Golfo Pérsico, vigiava o mar Vermelho, detinha as chaves de entrada no Pacífico, passou pela Austrália e Nova Zelândia, estabeleceu-se no Japão e relacionou-se com a China. Locais onde os portugueses procuravam a cooperação dentro de um relacionamento amistoso. A força das armas imperava quando a irredutibilidade de autóctones ou a intromissão de «estrangeiros» se interpunham. No século XVI, Portugal era um País que «influenciava» o mar, servia à Europa de celeiro comercial das especiarias, evangelizava os gentios mas, paradoxalmente, não se desenvolvia, de tal forma que “muitos viam nele um triunfo fictício, que expurgava o país de homens e dinheiro".[1]À conta das riquezas da pimenta, da canela ou da noz-moscada, o País atrofiou, demitindo-se de iniciativa e capacidade produtiva, enquanto fornecia a Europa, deixava definhar a agricultura, ao mesmo tempo que Lisboa fervilhava de movimento cosmopolita, a indústria parava, os ricos-homens ostentavam os escravos de servir e a sociedade decaía. Situação que se agravou com a concorrência externa a partir do último quartel do século dessa centúria, quando as companhias comerciais inglesas e holandesas acabaram com o monopólio «indiano» e relegaram a presença portuguesa para um plano secundário. 

 

Conjuntura japonesa no século XVI

Antes da chegada dos portugueses ao Japão, a região era apenas conhecida pelos relatos do veneziano Marco Polo sobre um território que não visitou, na sua viagem do século XIII, nos seguintes termos: “Cipango[2] é uma ilha do Levante, que está afastada da terra 1.500 milhas. É uma ilha muito grande. Os indígenas são brancos, de boas maneiras e formosos. São idólatras e livres, têm um rei próprio, que não é tributário de nenhum outro"[3].

Desde o período de influência chinesa no primeiro milénio que o Japão se tinha fechado a contactos externos. Esta situação caracterizou o período Kamakura (1185-1333) e acentuou-se depois da tentativa de conquista do território pela Mongólia de Kublai Khan, entre 1274 e 1281, que constituiu a primeira grande ameaça externa contra o território nipónico. Em 1281, a frota do Khan foi destruída por poderosos tufões que os japoneses crismaram de Kamikaze (Ventos Divinos). Depois, o episódico período da denominada Restauração Kemmu (1333-1336), correspondeu a uma tentativa do Imperador Go-Daigo se reinstalar na casa imperial depois de quase século e meio de domínio militar[4]. Porém, a restauração falhou, sendo substituída pelo xogunato Ashikaga ou Muromachi (1336-1575). A historiografia local sub-divide este longo período em dois: o período Nanboku-chō (1336-1392)[5] e o Sengoku (1467-1573). Este período Sengoku (em japonês, sengoku jidai), significando o «período dos Estados em Guerra», foi uma das fases mais conturbadas e instáveis da História do Japão. O declínio do shogunato Ashikaga criara as condições propícias para que os vários clãs próximos do shogun tentassem um golpe de estado, com o objectivo de chegar ao poder.

Assiste-se, assim, a uma longa guerra civil entre os vários clãs japoneses (Hojo, Takeda, Uesugi, Mori e Imagawa), que atinge níveis mais graves do que o habitual entre os diversos senhores. Efectivamente, o panorama político era caracterizado por grande diversidade e fragmentação, geradora de constantes guerras que duravam há quase dois séculos, entre os vários senhores feudais[6], e de uma situação de guerra ou rebelião – Ran.

É nesta complexa conjuntura que os portugueses aparecem no Japão, onde sobressaía um conjunto de ilhas e de famílias isoladas do mundo que se guerreavam entre si[7]. Uma guerra que campeava no arquipélago, qual época medieval ocidental, onde a unidade política e a centralização do poder inexistiam em detrimento do poder individual dos senhores da guerra – os dáimios –, que pela força procuravam, sem sucesso, submeter os restantes à sua vontade. No fundo, o Japão vivia, com mais de cem anos de atraso, uma situação de espartilho territorial, diluição do poder político e desagregação social verificados na Europa medieva. Uma «terra» a precisar de ser unificada[8]. E uma terra dividida é uma terra vulnerável mas, afortunadamente para o Japão, as potências europeias da altura não mostraram interesse na sua conquista[9].

 

Os portugueses no Japão e a introdução da espingarda de mecha

É controversa a exacta data e a referência a quais os primeiros portugueses que desembarcaram nas costas nipónicas. Na realidade, os diversos documentos históricos, portugueses e japoneses, que registam tal chegada não são unânimes nesta matéria, coincidindo, exclusivamente, no local do desembarque. 

Os primeiros relatos portugueses que registam o episódio da chegada de navegadores portugueses àquelas costas são vertidos por protagonistas da epopeia: Tratado do Descobrimento... de Antonio Galvão, publicado em 1563, e a Peregrinação, de Fernão Mendes Pinto, editado postumamente em 1614. Jorge Manuel Flores definiu-os como aventureiros desligados dos propósitos e objectivos do Estado da Índia, enfatizando que “os recém chegados surgem, assim, como mercadores entre mercadores, numa região que vivia na época um extraordinário dinamismo comercial. Mais, beneficiaram da anemia da rede japonesa, em boa parte causada pela preponderância dos mercadores léquios[10]e pela interrupção do comércio entre a China e o Japão" [11].

António Galvão regista o momento do primeiro contacto português com as terras nipônicas da seguinte forma: 

​“No ano de [1]542 achando-se Diogo de Freytas no Reino do Sião [ou Tailândia] na cidade Dodra capitão de um navio, fugiram-lhe três Portugueses num junco que ia para a China, chamavam-se António da Mota, Francisco Zeimoto e Antonio Peixoto. Indo-se a caminho para tomar porto na cidade de Liampó [na China], que está em trinta e tantos graus de altura, lhe deu tal tormenta à popa, que os apartou de terra, e em poucos dias ao Levante viram uma ilha em trinta e dois graus, a que chamam os Japões, que parecem ser aquelas Cipangas de que tanto falam as escrituras..."[12].

Fernão Mendes Pinto, no estilo vivo e característico como relata as suas viagens e aventuras pelo Oriente[13] oferece-nos uma detalhada visão a partir do momento em que ruma para a China, tendo como ponto de partida a costa malaia, na companhia de mais sete portugueses: 

Enfim, meteram-se em dois barcos dum corsário que aportava ali, sem destino certo atacados por outro pirata, perderam um junco em que iam cinco portugueses. Os outros três, que eram Fernão Mendes Pinto, Cristóvão Borralho e Diogo Zeimoto, no outro junco, desembarcaram na ilha de Tanixumá [Tanegashima], onde o nautaquim [príncipe], senhor da ilha, homem muito curioso se não cansava de fazer perguntas aos nossos. Logo ao outro dia este necodá [capitão de navios de tráfego] chin desembarcou em terra toda a sua fazenda, como o nautaquim lhe tinha mandado, e a meteu nuãs boas casas que para isso lhe deram, a qual fazenda toda se vendeu em três dias".[14]

Mas, provavelmente, o relato mais detalhado e exacto sobre a chegada dos portugueses ao Japão, embora não nos ofereça certezas quanto ao nome dos desembarcados, é o constante da obra japonesa Teppô-Ki, escrita pelo monge budista Nanpo Bunshi. Publicada em 1606 e que pode ser traduzida como «Livro das Espingarda», regista assim o desembarque: 

Há alguns anos na Era Tenbun , no 25 dia do oitavo mês no outono do ano Mizunoto U um grande navio chegou na hora do galo a baía de Nishi mura. Ninguém sabia de que país vinham. Havia a bordo cerca de 100 pessoas, cujas características físicas diferiam das nossas e cuja língua não era entendível"[15]

Esta obra, baseada nos registos da família Tokitaka, senhores da ilha de Tanegashima, subordinados ao feudo de Hirago, merece um elevado grau de fiabilidade. Quanto aos nomes, são referidos apenas dois Nanbanjin[16]: “Entre os comerciantes havia dois líderes chamados Murukusha e Kirishita da Mota"[17]. A dificuldade na grafia dos nomes portugueses e sua transliteração é absolutamente comum em línguas tão diversas e, então, desconhecidas. Se quanto ao primeiro não conseguimos lobrigar qualquer semelhança, já no segundo o nome de família parece remeter para António da Mota, referido por António Galvão e Diogo do Couto.

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Figura 1 – TanegashimaGun. jpgWikipedia, photographed at Ako Temple Museum, in 2007 by PHGCOM.

 

Independentemente de indefinições, o facto historicamente irrefutável é que foram os portugueses os primeiros europeus a chegar ao Japão, provavelmente em 1542/1543, introduzindo as armas de fogo na pequena ilha nipónica de Tanegashima (a sul da ilha de Kyushu e separada desta pelo estreito de Osumi)[18]. Foi, aliás, o nome dessa ilha dado à arma recém-adquirida pelos autóctones, que aí travavam, também, o primeiro contacto com um povo europeu, quebrando, assim, o seu tradicional isolamento e iniciando um período de contacto ocidentalizado, que seria quebrado em 1639. Foi Fernão Mendes Pinto o arauto de ambas as proezas? É difícil comprová-lo e as opiniões dos investigadores divergem, como vimos. Outros atribuem tal feito a António da Mota, António Peixoto e Francisco Zeimoto.

De acordo com a Peregrinação, Fernão Mendes Pinto, Cristóvão Borralho e Diogo Zeimoto foram os primeiros a chegar ao Japão e a eles se referem os feitos descritos:

Nós, os três portugueses, como não tínhamos veniaga em que nos ocupássemos, gastávamos o tempo em pescar e caçar, e ver templos dos seus pagodes [deuses, ídolos], que eram de muita majestade e riqueza nos quais os bonzos, que são os seus sacerdotes, nos faziam muito gasalho, porque toda esta gente do Japão é naturalmente muito bem inclinada e conversável. No meio desta nossa ociosidade, um dos três, por nome Diogo Zeimoto, tomava alguas vezes por passatempo tirar com ua espingarda que tinha de seu, a que era muito inclinado e na qual era assaz destro. E acertando um dia de ir ter a um paúl, onde havia grande soma de aves de toda a sorte, matou nele com a munição uas vinte e seis marrecas [patas selvagens]. Os japões, vendo aquele novo modo de tiros, que nunca até então tinham visto, deram rebate disso ao nautaquim o qual, espantado desta novidade, mandou logo chamar o Zeimoto e quando o viu vir com a espingarda às costas e dous chins carregados de caça, fez disso tamanho caso, que em todas as cousas se lhe enxergava o gosto do que via, porque, como até então naquela terra nunca se tinha visto tiro de fogo, não sabiam determinar c'o que aquilo era, nem entendiam o segredo da pólvora, e assentaram todos que era feitiçaria. O Zeimoto, vendo-os tão pasmados e o nautaquim tão contente, fez perante eles três tiros em que matou um milhano e duas rolas. [Então, os autóctones exclamaram]: 

O nautaquim, príncipe desta ilha Tanixumá e senhor de nossas cabeças, manda e quer que todos vós outros, e assi os mais que habitam a terra dantre ambos mares, honrem e venerem este chenchicogim[português – homem da Índia] do cabo do mundo. E chegando o Zeimoto com esta pompa mundana ao primeiro terreiro dos paços, descavalgou o nautaquim e o tomou pela mão, [cobrindo-o de honrarias, e aos dois companheiros], e sempre dali por diante o favoreceu muito, e a nós por seu respeito em agua maneira.

E entendendo então o Diogo Zeimoto que em nenhua cousa destas honras que lhe fizera, nem em que lhe desse mais gosto que em lhe dar a espingarda, lha ofereceu um dia que vinha da caça com muita soma de pombas e de rolas, a qual ele aceitou por peça de muito preço, e lhe afirmou que a estimava muito mais que todo o tisouro da China, e lhe mandou por ela mil taéis de prata, e lhe rogou que lhe ensinasse a fazer pólvora, porque sem ela ficava a espingarda sendo um pedaço de ferro desaproveitado, o que o zeimoto lhe prometeu e lho cumpriu"[19].

De qualquer forma, entre os relatos portugueses um nome surge consensual, Zeimoto (Francisco ou Diogo?). Quanto ao autor da Peregrinação, uma coisa é certa, o mais tardar em 1544 estava no Japão, tivesse sido ou não o primeiro. Com ele estaria Zeimoto, o homem que fez chegar a espingarda a mãos japonesas. Na realidade, se durante este período a aceitação dos portugueses foi boa, na generalidade o carácter fechado e muito próprio da sociedade japonesa não deixaria de chocar com o dos ocidentais e, não obstante um número de conversões significativo[20], “a sensibilidade religiosa dos Japoneses chocou-se frequentemente com as exigências da vida cristã, em particular com o que se interpretou como uma dupla fidelidade[21] ao papa de uma parte e ao seu soberano de outra"[22]. De facto, não poucas vezes a ética do Cristianismo afrontava o código japonês do Guerreiro – o Bushido.

Seja como for, estava dado o passo que mudaria para sempre a História do Japão. De facto, como refere Fernão Mendes Pinto, cinco meses e meio depois (quando abandonou o Japão) estavam em uso 600 espingardas e em curso um processo de unificação política[23].

 

A «feiticeira» Espingarda de mecha portuguesa 

Importa referir que não existem exemplares das primeiras espingardas de mecha utilizadas pelos japoneses. O modelo extrai-se pela composição de peças e mecanismos existentes avulso, sendo as tapeçarias de D. João de Castro, existentes no Museum Kunft Historysches, em Viena de Áustria, uma das imagens mais fidedignas.

Uma imagem com quadro, desenho, arte, Artes visuais    Descrição gerada automaticamente 

Figura 2 – Espingarda de mecha modelo Boémia-Nuremberga. Tapeçarias de D. João de Castro, Museum Kunft Historysches, em Viena de Áustria. Fonte Rainer Daehnhardt.

 

Na Europa, as espingardas de mecha – mosquetes e arcabuzes – surgiram na segunda metade do século XV, alterando a forma de fazer a guerra. A partir do século seguinte, o uso da pólvora conjugava com as unidades de piqueiros os dispositivos militares no campo de batalhas, garantindo choque e fogo como elementos essenciais de combate. Consequentemente, a par da expansão marítima e da cultura renascentista, a utilização da pólvora na guerra transitou a Europa da Idade Média para a Moderna.

Como funcionava a espingarda de mecha que deu entrada no Japão em 1543? Uma vez mais, o mais preciso relato é-nos dado pelo Teppô-Ki[24]: “Tinham um objecto entre os dois e os três shaku[25] de comprimento. A sua forma externa é recta mas oca no interior. Fabricado num material pesado, ainda que oco por dentro, possuí um fecho na extermidade. Num dos lados tem uma abertura que usavam para acender fogo. A sua forma não pode comparar-se a nada que tivessemos visto. Quando o utilizavam, colocavam no seu interior uns misteriosos pós medicinais acompanhados de uma pequena bola de chumbo"[26].

O mecanismo de funcionamento era simples: uma mecha ou cordão era aproximado da pólvora contida na caçoleta que, premindo uma alavanca (o gatilho), produzia a ignição da carga contida no cano, originando o disparo. Com este tipo de mecanismo surgiram na Europa dois tipos diferentes: o fecho de Nuremberga/Boémia e o fecho Maximiliano. No primeiro, o cão que suporta a mecha move-se no sentido horário, isto é, de trás para a frente; no segundo, é o cão que roda no sentido anti-horário, ou seja, da frente para trás[27].

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Figura 3 – Esquema da Espingarda de mecha do tipo introduzido no Japão. cortesia de Jaime Regalado.

 

O sistema divulgado na Europa foi o fecho Maximiliano, mas quis o destino que os portugueses levassem para Oriente, Japão incluído, o sistema Nuremberga/Boémia, que teve existência curta no Ocidente. Assim, a espingarda de mecha japonesa, que se popularizou em poucos anos, é uma cópia da espingarda Nuremberga/Boémia levada pelos portugueses ou, eventualmente, uma cópia da arma indo-portuguesa, de modelo boémio saído do arsenal de Goa, da chamada «Casa das Dez Mil Espingardas». Trata-se de uma diferença mais nominal do que técnica. De qualquer forma, essas armas tinham o mecanismo e o cano em ferro e a coronha em madeira. Depois, nas armas japonesas surgem com frequência os mecanismos em latão (excepto as molas), material mais fácil de trabalhar, que não sofria os efeitos da corrosão da combustão da pólvora.

Na verdade, após a aquisição das armas aos portugueses, Tokitaka ordenou ao seu armeiro Yasuitakinbei Kiyosada que reproduzisse as espingardas. Todavia, foram experimentadas dificuldades, sobretudo na reprodução do mecanismo de mola e parafusos, pelo que se tornou necessária a assistência de um armeiro português, cuja identidade desconhecemos, e que se instalou em Tanegashima um ano após a aquisição das mesmas.

 

Consequências para o Japão

A chegada dos portugueses a Tanegashima significou para o Japão a abertura a conhecimento da geografia, das gentes, cultura e tecnologia existentes na Europa. Não espanta por isso que, como relata a Peregrinação, o príncipe Nautanquim quisesse saber tudo sobre o rei de Portugal e os costumes europeus. Quanto à introdução da espingarda de mecha, permitiu em menos de meio século a reunificação política e territorial, viabilizando o império e a dissuasão de ameaças externas. Apercebendo-se da importância da nova arma, os locais aprenderam com os portugueses os meios de fabrico e utilização. A cópia local da arma foi extremamente rápida, dispensando a breve trecho os ensinamentos dos Nanbanjin, generalizando-se a sua produção que, pouco depois, se estendia bastante mais para Norte, até à cidade de Sakai (ao sul de Osaka, na ilha de Honshu). De tal forma que Fernão Mendes Pinto conta que quando regressou ao Japão, em 1551/1553, havia mais de 30.000 espingardas espalhadas pela ilha de Kyûshû e 300.000 por todo o arquipélago[28]. Ou seja, todas as regiões e localidades, por mais remotas que fossem, tinham espingardas. Igualmente, quando em 1563, volvidos apenas 20 anos da chegada dos portugueses ao Japão, o Padre Luís Fróis (1532-1597) aí aportou, constatou a existência de numerosas fábricas difundidas pelo país, relatando, ainda, que a arma tinha já poucas afinidades com as nacionais, denotando uma diferenciada produção local[29].

A rápida proliferação da espingarda revolucionou a tradicional técnica militar japonesa, contribuindo decisivamente para acelerar a reunificação e pacificação da ilha nipónica. Iniciava-se, então, o Período Azuchi-Momoyame (1568-1600), conducente à reunificação, que se ficou a dever, em grande medida, aos feitos acumulados de três chefes militares sucessivos: Oda Nobunaga (1534-1582), Tyotomi​ Hideyoshi (1536-1598) e Tokugava Ieyasu (1542-1616), cada qual com o seu método, que reflectia a própria personalidade[30].

Oda Nobunaga foi “o verdadeiro iniciador no Japão da utilização corrente e racional dos arcabuzes"[31], por volta de 1560, cujo lema era “dominar o Império pela força". A quem se deve, igualmente, a construção do primeiro castelo integralmente em pedra, em solo nipónico, precisamente para melhor defesa dos ataques com armas de fogo. Assim, a par do uso da cavalaria, a espingarda foi usada por homens apeados que, com reduzido treino, actuavam organizados em esquadrões de espingardeiros dizimando pelo fogo o inimigo. Com uma cadência de tiro a variar entre 1-2 tiros por minuto, consoante a destreza do «infante», e um alcance eficaz situado entre os 30-50 metros, as formações de espingardeiros concentravam fogo cerrado, em descargas simultâneas, sobre o dispositivo adversário. Assim, foi assente nos pressupostos técnico-tácticos permitidos pela espingarda de mecha que Nobunaga derrotou Imagawa Yoshimoto, dáimio rival, na Batalha de Okehazama (perto de Nogoya), em 1560, iniciando a unificação japonesa. Mas, o momento militarmente mais marcante foi a célebre Batalha de Nagashima, travada em Julho de 1575, onde Oda Nabunaga, dispondo os cerca de 20.000 mosqueteiros organizados em diversos grupos fazendo fogo alternadamente, tornando-o assim constante, alcançou uma retumbante e espectacular vitória sobre a cavalaria do seu rival Takeda Katsuyori, tornando-se no senhor absoluto da parte central do Japão[32].

Após a sua morte, em 1582, Toyotomi Hideyoshi deu continuidade ao projecto, tornando-se senhor do império nipónico em 1590, após eliminar a resistência dos Hôjô. Um império que Tokugava Ieyasu firmou dinasticamente. Na realidade, e antes deste novo procedimento táctico, a espingarda era apenas um complemento para outras armas, porquanto era considerada uma arma demorada que, entre as inegavelmente aparatosas e eficazes descargas, permitia, todavia, a carga do exército inimigo. 

Uma imagem com esboço, desenho, vestuário    Descrição gerada automaticamente 

Figura 4 – Ashigara, Wikipedia, desenho de Utagawa Kuniyoshi, 1855. In Noel Perrin, Giving up the gun, Boston: David R. Godine, 1988.

 

De facto, embora não referenciando especificamente a influência portuguesa, quase todos os autores são unânimes em afirmar a importância da “importação da Europa das armas de fogo e a sua utilização nos campos de batalha. O seu emprego cada vez mais sistematizado precipitou o processo de unificação, fazendo surgir, mesmo antes do final do século, uma autoridade única sobre a totalidade do arquipélago"[33]. Tal como no fabrico, os japoneses introduziram notáveis alterações nas técnicas de utilização desta nova arma que passaram a utilizar amiúde nas suas acções militares a partir de meados do século. Importam ainda referir que a introdução das armas de fogo, com a consequente facilitação das técnicas bélicas, permitiu o alargamento dos contingentes aos camponeses, perdendo os soldados profissionais o monopólio da guerra e, assim, provocando uma importante alteração na estrutura socio-profissional japonesa. Aliás, a obra do português Fernão Mendes Pinto refere uma curiosíssima parada de recepção, ordenada pelo daimio de Bungo, onde estariam já presentes mil arcabuzeiros, o que dá vivo testemunho da rapidez de propagação autónoma desta arma[34]. Em síntese, a divulgação de um engenho português, que funcionava à custa de um invento da vizinha China (a pólvora), foi decisivo para a futura história japonesa. Que contrubuiu decisivamente para a passagem da guerra de um estádio medieval para um estádio moderno.

Com a generalização das armas de fogo, o canhão apareceria no último quartel do século XVI, modificando a concepção estratégica de construção e localização das fortalezas. Com efeito, o seu efeito destrutivo levou os senhores da guerra a construírem novos tipos de castelos, com muralhas mais baixas, mais espessas e resistentes, implantados na planície em detrimento de colinas escarpadas[35].

Na posse da arma de fogo e com o arquipélago a caminho da centralização política, o Japão pôde dissuadir eventuais ameaças externas, como por exemplo ingleses, holandeses e, sobretudo, espanhóis. Atentemos, Filipe II de Espanha conquistou as Filipinas (ilhas de Luções), em 1571, pelo que o receio nipónico do «demónio do meio-dia» era real. Mas o Japão, ao contrário das Filipinas, já não era um arquipélago espartilhado e habitado por indígenas que usavam azagaias e lanças como armamento de guerra. Na verdade, mais que uma invasão militar, os japões passaram a temer a influência religiosa hispânica e, depois de 1581, com a União Ibérica, a portuguesa.

Efectivamente, após a chegada de portugueses ao Japão, sopraram as primeiras doutrinas do Cristianismo, sistematicamente disseminado a partir de 1549 pelo jesuíta Francisco Xavier (1506-1552). A missionação feita pelos jesuítas conheceu um êxito extraordinário no Japão. A sua importância foi de tal ordem que condicionou as opções estratégicas dos senhores da guerra. Alguns dáimios foram convertidos ao cristianismo, pelo que no contexto da guerra civil a influência dos cristãos era tida em conta. Como é evidente, nesta conjuntura o «bloco cristão» procurava o campo com melhores garantias de sucesso, facilitador da expansão cristã no território.

Assim, sobretudo na ilha de Kyûshû, enquanto os portugueses não interferiam na conduta da guerra e os mercadores se limitavam a negociar em vários pontos, os jesuítas dividiram os dáimios em cristãos e anti-cristãos. Como exemplo mais ilustrativo, temos a acção do Padre Gaspar Coelho que, em 1572, foi designado vice-provincial do Japão que, a par do esforço de cristianização dos japões, procurou apoios para os dáimios cristãos de Kyûshû, no âmbito da guerra civil[36]. Em 1580, Nagasaki passou a pertencer à Companhia de Jesus, local onde se estabeleceu a primeira fundição de canhões, onde também estava implantada uma feitoria[37].

Contudo, em 1586-87, os dáimios cristãos de Kyûshû foram derrotados, de nada valendo os esforços do Padre Gaspar Coelho em arranjar apoios externos, nas Filipinas, ou internos, em Osaka[38]. Na verdade, será a partir de Osaka que Toyotomi Hideyoshi unificará o Japão, em 1590, lançando três anos depois o primeiro édito anti-cristão. Os jesuítas começavam a ser vistos como monges-guerreiros, passíveis de manipularem os alicerces imperiais[39].

Até à unificação do império, as autoridades portuguesas só se corresponderam, praticamente, com os dáimios cristãos. A uns interessava criatianizar, a outros comerciar: a primeira vertente passou a ser entendida como perniciosa; a segunda vantajosa. Então, quando as companhias comerciais inglesas e, principalmente, holandesas, surgiram em cena, os portugueses foram sendo relegadas para plano secundário, até à sua expulsão, em 1639. Na verdade, por essa altura, a capacidade comercial holandesa superiorizara-se à portuguesa, com a vantagem de os mercadores oranges não levarem o crucifixo na vanguarda.

 

Um feito imemorial

Se a chegada dos portugueses ao Japão constituiu um factor de enriquecimento cultural e a transição para o mundo moderno, a introdução da espingarda de mecha viabilizou a unificação política interna e a dissuasão externa. Só por si, o facto de Portugal estar indelevelmente ligado à modernização do Japão e à sua inserção no sistema de relações internacionais é notável. Realmente, o serviço inestimável que Portugal prestou ao Japão respeita à sua consciencialização de se constituírem uma unidade nacional. E tudo graças a um instrumento militar, a espingarda de mecha, com a qual o processo de unificação no Japão foi possível alcançar num período crítico da sua História.

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Figura 5 – Atiradores actuais no Festival da Espingarda. Kagoshima Prefectural Visitors Bureau.

 

Na verdade, ainda hoje, os japoneses não só reconhecem o facto como o salientam publicamente, sendo a contribuição portuguesa estudada desde os níveis mais elementares de instrução. Basta atentar nas festividades que todos os anos, no último fim-de-semana de Julho, têm lugar no local de desembarque, em Nishinoomote (ilha de Tanegashima), com o nome «Festival da Espingarda» o Teppô Matsuri, com a localidade engalanada com as bandeiras de Portugal e do Japão. Parte fulcral do festival de Tanegashima é o concurso de tiro com armas antigas, no Parque Wakasa, onde se concentram os figurantes do cortejo alegórico devidamente trajados. A competição de pontaria com arcabuzes de mecha entre Tanegashima, Kunitomo e Sakai (as mais antigas escolas de tiro do Japão após a local), é comandada por um samurai, denominado Kapitan, palavra portuguesa que se dessiminou a partir do século XVI. No decurso do desfile, onde não falta a caravela portuguesa, é apresentada a dança da espingarda, Teppô Odori, todo o artesanato local se encontra invariavelmente ligado a esta arma de fogo e onde a obra Peregrinação de Fernão Mendes Pinto é conhecida de todos os habitantes. 

Lembrar ainda o monumento evocativo do encontro do Ocidente com o Oriente no cabo Kadokura, sobranceiro à praia onde os portugueses desembarcaram, ou a maior estátua da ilha, no cais, do herói maior das nevegações, o Infante D. Henrique, ali chamado de «O Homem do Mar».

 

BIBLIOGRAFIA

AKAMATSU, Paul – “O Japão: processo unificador e dificuldades". In História Universal. Lisboa: Publicações Alfa, vol. 71985, pp. 50/58.

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GALVÃO, Antonio – Tratado que compôs o nobre e notável capitão António Galvão, dos diversos e desvairados caminhos por onde nos tempos passados a pimenta e especearia veio da India às nossas partes e assim de todos os descobrimentos antigos e modernos que são feitos até à era de mil e quinhentos e cinquenta, [Lisboa]: Em casa de Ioam da Barreira, 1563.

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NOTAS

[1] Gervase Clarence-Smith, O Terceiro Império Português (1825-1975).

[2] A designação Cipango (de que se conhecem outras variantes próximas) advém provavelmente da língua chinesa que designava as ilhas japonesas de Ji-Pan-Ku, significando a Terra do Sol Nascente.

[3] Marco Polo, Viagens.

[4] Na História do Japão este foi o Imperador que teve algum poder até a Restauração Meiji, em 1867.

[5] Conhecido também como a era das cortes Hokuchō (Norte) e Nanchō (Sul), que estiveram em conflito: a de Hokuchō, estabelecida pelo Shogun Ashikaga Takauji, proclamando o Imperador Kōmyō em Quioto, e a de Nanchō, estabelecida pelo Imperador Go-Daigo em Yoshino.

[6] Esta expressão, para nós tipicamente ocidental, e que pode parecer desadequada, foi defendida pelo Professor Takahashi, da Universidade Imperial de Tóquio, como integralmente aplicável ao Japão, pelo menos até à Restauração Meiji (1868).

[7] Kenneth Heushall, História do Japão.

[8] M. Cooper, They Came to Japan: an Anthology of European Reports on Japan.

[9] Kenneth Heushall, ob. cit.

[10] O povo das ilhas Ryūkyū, arquipélago de Okinawa, então soberano e independente do Japão.

[11] Jorge Manuel Flores, Os “Descobridores" do Japão.

[12] António Galvão, Tratado do Descobrimento.... Actualizou-se a grafia e o português. Estes são, igualmente, os nomes referidos nas Décadas da Ásia de Diogo do Couto.

[13] Nos 226 capítulos da Peregrinação consta um vasto painel de terras, gentes e costumes, de paisagens, naufrágios e batalhas

[14] Fernão Mendes Pinto, Peregrinação.

[15] O relato coloca o evento no ano doze da Era Tenbun (Julho de 1532 a Outubro de 1555), 25 dia do oitavo mês; sabendo que na conversão ao calendário ocidental esse ano começo no Domingo dia 14 de Fevereiro, obtemos a data de 23 de Setembro de 1543, entre as cinco e as seis da manhã.Olof Lidin – Tanegashima – The Arrival of Europe in Japan.

[16] Literalmente «Bárbaros do Sul». Em japonês grafa-se nanbanjin, nas línguas ocidentais, nambanjin.

[17] Olof Lidin – Tanegashima – The Arrival of Europe in Japan.

[18] Sobre a chegada dos portugueses ao Japão ver também D. Massarella, A World elsewhere: Europe's Encounter With Japan in the Sixteenth and Seventeenth Centruries.

[19] Fernão Mendes Pinto, ob. cit.

[20] Nas suas Cartas do Japão, os Padres Miguel Vaz e Gaspar Vilela referem que “no primeiro ano da propaganda havia 1.500 católicos em Kiu-cio e que em 1571 já tinham subido a 30.000. Em Nagasaqui houve dias de trezentos baptisados. Supõe-se que em 1590 a cristandade japonesa já iria muito além de cem mil crentes". Cit. António de Campos Júnior, A Estrêla de Nagasaqui.

[21] Esta questão tinha na mentalidade japonesa de então a maior importância. Lembremo-nos a mero título exemplificativo o que acontecia com os guerreiros Samurai que, após a morte do seu senhor, por não poderem ter durante a sua vida dois juramentos de fidelidade (porquanto se considerava incompatível com o anterior), se tornavam em guerreiros errantes e sem senhor – Ronin.

[22] Paul Akamatsu, “O Japão: processo unificador e dificuldades".

[23] A oferta de armas de fogo não teve no Japão um caso isolado, nem sequer foi o primeiro. Por exemplo, quando Vasco da Gama chegou à Índia o que ofereceu em primeiro lugar foram armas. Como refere Rainer Daehnhardt, oferecer armas a um potencial inimigo é uma manifestação de boa vontade e de confiança no interlocutor: In Espingarda Feiticeira. A Introdução da arma de Fogo pelos Portugueses no Extremo-Oriente.

[24] Nanpo Bunshi, ob. cit.

[25] O shaku (尺) é a versão japonesa de uma unidade de medida usada na Ásia Oriental com um comprimento de aproximadamente 30 cm. Como outras medidas, ele originalmente derivou da natureza: o comprimento médio entre os nós do caule do bambu. O comprimento real varia levemente de país para país.

[26] Cit Olof Lidin, ob cit.

[27] Relativamente ao funcionamento da espingarda de mecha, nas variantes fecho Nuremberga/Boémia e fecho Maximiliano, socorremo-nos da explicação fornecida pelo Dr. Jaime Ferreira Regalado. Ver também Rainer Daehnhardt, ob. cit.

[28] Fernão Mendes Pinto, ob cit.

[29] Luís Fróis viveu mais de trinta anos no Japão, relatando por carta as suas impressões sobre as tradições e cultura japonesa do século XVI. É considerado o primeiro cronista europeu do Japão[

[30] Há um velho ditado no Japão que diz que se uma ave canora não cantasse, Nobunaga matá-la-ia, Hideyoshi persuadi-la-ia a cantar e Ieyasu esperaria que ela cantasse: H. Cortazzio, The Japanese Achievement.

[31] Paul Akamatsu, ob. cit.

[32] Kenneth Heushall, ob. cit.

[33] Edwin Reischauer, Histoire du Japon et des Japonais.

[34] Fernão Mendes Pinto, ob. cit.

[35] João Paulo Oliveira e Costa, “A Interferência Portuguesa na História Militar Japonesa.

[36] João Paulo Oliveira e Costa, “Japão", in Dicionário de História Religiosa de Portugal.

[37] Nagasaki materializou o «tridente» da presença portuguesa, simbiose entre os vectores militar, missionário e comercial.

[38] João Paulo Oliveira e Costa, “Japão", in Dicionário de História Religiosa de Portugal.

[39] Refira-se que a despeito da acção missionária dos jesuítas, envolvidos nos assuntos da guerra em serviços auxiliares em apoio dos dáimios que foram cristianizando, os portugueses não se imiscuiram na conduta e organização da guerra civil.


ABÍLIO PIRES LOUSADA

Militar Historiador e Mestre em Estratégia, co-Director da Revista Portuguesa de História Militar. Membro do Conselho Científico da Comissão Portuguesa de História Militar e membro fundador da Associação Ibérica de História Militar. Autor/co-autor de 18 livros e de mais de 70 artigos sobre História Militar e Estratégia. Prémio Defesa Nacional e Jornal do Exército​

HUMBERTO NUNO DE OLIVEIRA

Historiador (doutor em História), co-Director da Revista Portuguesa de História Militar. Membro do Conselho Científico da Comissão Portuguesa de História Militar e da Direcção de História e Cultura Militar. Presidente da Academia Falerística de Portugal. Professor da Universidade Pedagógica Nacional- Dragomanov (Quieve). Cumpriu, como Miliciano, o Serviço Militar Obrigatório no Exército Português



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Como citar este texto:

LOUSADA, Abílio Pires & OLIVEIRA, Humberto Nuno de – A Espingarda no Japão: um Contributo Português. Revista Portuguesa de História Militar - Dossier: Génese do Império Português do Oriente. [Em linha] Ano III, nº 5 (2023); https://doi.org/10.56092/JXZD6972 [Consultado em ...].
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