EDUARDO CHIVAMBO MONDLANE
Primeiro líder da Frente Nacional de Libertação de Moçambique (Frelimo), nasceu no sul do território, em Manjacaze, na província de Gaza, a 20 de Junho de 1920. Filho de um chefe tradicional e pastor presbiteriano, a partir dos seis anos cresceu sob a influência da mãe, que lhe terá incutido o fervor anti-colonialista.
Fez os estudos primários numa missão religiosa suíça situada perto de Manjacaze, prosseguiu os secundários numa escola presbiteriana na África do Sul e inscreveu-se em Antropologia e Sociologia na universidade de Joanesburgo, em 1944. Quatro anos depois, vê-se brigado a interromper os estudos devido à implementação da política de Apartheid e regressou a Moçambique, onde chegou a ser detido por suspeitas de actividades estudantis subversivas. Apoiado na Igreja Presbiteriana, demanda à metrópole e inscreve-se na universidade de Lisboa, disposto a dar continuidade aos estudos. Na Casa do Império conhece e priva com Agostinho Neto e Amílcar Cabral mas, ao contrário destes, não conclui a formatura. Efectivamente, ainda sob a protecção dos religiosos suíços, abandona Lisboa e segue para os Estados Unidos, onde permanecerá durante dez anos, casa com uma cidadã americana, obtém o grau doutor em Sociologia na universidade do Illinois, em 1958, e torna-se funcionário das Nações Unidas até 1961, ano em que regressa a Moçambique.
Toma, então, contacto com o evoluir do nacionalismo autóctone e os movimentos emergentes e instala-se na Tanzânia. Com o apoio do presidente Julius Nyerere, funda a Frelimo, em 1962, a partir da unificação de três movimentos moçambicanos existentes para lutarem pela independência. Secundou, assim, o processo iniciado em Angola (1961) e na Guiné-Bissau (1963), organizando uma série de ataques a Norte do território, em 1964: em Niassa, ao posto administrativo de Cóbue, a 24 de Setembro; em Cabo Delgado, ao posto de Chai, na noite do mesmo dia; em Tete, à sede do posto administrativo de Charre, a 23 de Dezembro. A primeira fase da guerra é de iniciativa da Frelimo e o núcleo original compreendia 250 guerrilheiros rudimentarmente equipados e fracamente armados, treinados na Argélia e que praticavam curtas incursões junto à fronteira do Rovuma. Depois, com apoio em material da União Soviética e doutrinário da China, a guerrilha passou a operar sobretudo na zona de Mueda (Cabo Delgado), a partir da Tanzânia e com o apoio da etnia maconde. Contudo, devido à curta influência junto das populações fronteiriças, à oposição dos macuas aos macondes e à presença militar portuguesa, a Frelimo não pôde progredir para Sul, fixando-se entre os rios Rovuma e Messalo. A partir do Malawi, abriu, então, uma nova rota de guerrilha mais a Oeste, em direção à zona do Niassa, com o objetivo de a unir a Cabo Delgado e desenvolver uma extensa zona libertada. Apesar dos raides a aquartelamentos, emboscadas a colunas militares, a disseminação intensiva de minas nos itinerários e a coação exercida sobre as populações negras para aderirem à contra-subversão, os resultados foram mitigados. Outra faixa de penetração foi, então, aberta, a partir da Zâmbia, em direção ao rio Zambeze e a Tete. Sem grandes efeitos. As Forças Armadas Portugueses estavam preparadas para enfrentar a ameaça. Afinal, ao contrário do que aconteceu em Angola, com a intempestiva acção da UPA de Holden Roberto, decorreram mais de três anos até a subversão se concretizar e houve experiências acumuladas e ensinamentos adquiridos, pelo que até 1969 a Frelimo resistiu para existir enquanto movimento de libertação reconhecido como tal Organização de Unidade Africana (OUA).
Gozando longas temporadas nos Estados Unidos, Mondlane preocupou-se em educar, formar e treinar quadros, manter unidas as diversas facções étnicas presentes no movimento e enraizar uma consciência de independência nos seus homens. Apesar das dificuldades, permaneceu líder do movimento e foi reeleito presidente no II Congresso realizado no Niassa, em Julho de 1968. Mas já então se sentiam divisões e contratempos no seio do movimento, como o do motim e abandono dos estudantes, em Maio desse ano e, depois, do padre Mateus Gwengere, influente personalidade, em inícios de 1969. De igual modo, existiam correntes a defender que o método da luta armada devia endurecer e as áreas de actuação a diversificar, onde se destacava Samora Machel, que lhe havia de suceder. Então, a 3 de Fevereiro de 1969, Eduardo Mondlane foi assassinado por uma encomenda armadilhada, que lhe era dirigida e ele próprio estranhamente abriu, em Dar-es-Salaam, na Tanzânia. Entre uma acção da PIDE ou perpetrada dentro da própria Frelimo, ficaram por apurar os autores e as motivações do atentado.
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