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Holden Roberto (Angola)
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ÁLVARO HOLDEN ROBERTO




Holden Roberto.jpgO primeiro líder angolano que propugnou uma solução armada para a independência, nasceu no M'Banza Congo a 12 de Janeiro de 1924 e bebeu do avô, Miguel nekaka, e do tio, Manuel Nekaka, o sentimento anti-colonislista. Fez os estudos primários e secundários em Léopoldville (Congo Belga), trabalhando oito anos como contabilista na administração belga do território, além de frequentar um estágio político-diplomático na representação da Guiné-Conacri na ONU, em 1959-1960.

Em 1954, deu início à actividade política segregacionista, com a criação da União dos Povos do Norte de Angola (UPNA), assente na etnia Bacongo. Quatro anos depois, passou a designação para União dos Povos de Angola (UPA), de forma a retirar o movimento de uma conotação tribal e regionalista. Foi na qualidade de dirigente da organização que participou na primeira conferência dos Povos Africanos, ocorrida no Gana. Em 1960, chegou a acordo com o recém formado MPLA de Agostinho Neto, mas negou-o de seguida, impondo-se como o rosto da libertação de Angola, colheu a simpatia americana da administração de John Kennedy e teve o Zaire de Mobuto Sese Seko, de quem era parente, como santuário da sua força de guerrilha.

Então, entre 15 e 18 de Março de 1961, os guerrilheiros da UPA sacudiram o Norte de Angola com uma sanha assassina de inaudita brutalidade tribal. Milhares de bacongos, empunhando catanas e canhangulos, transpõem para Sul a fronteira do Congo, irrompem de madrugada, em pequenos grupos, nas fazendas e postos administrativos de São Salvador e Quimbele, varrem a baixa de Cassange e envolvem a cidade de Carmona, chegando a Caxito, Quibaxe e Catete. Quase mil portugueses e largos milhares de africanos, entre homens, mulheres e crianças, são assassinados, violados ou esquartejados, as fazendas são queimadas, as plantações de café e de algodão arrasadas e as estradas cortadas. O objetivo de Holden Roberto, sossegadamente instalado, nessa altura, em Nova Iorque, era acabar com a presença portuguesa no território, aterrorizar e submeter as etnias não baconga e tornar Angola independente sob a sua égide. Enquanto na metrópole portuguesa as notícias eram silenciadas, em Angola o terror tomava conta das populações e a insegurança sentia-se pela primeira vez. Mas Holden Roberto esbarrou nas suas contradições. Não só as populações autóctones não se submeteram, como a reação dos colonos brancos foi imediata e também ela brutal, complementada com a decisão de Salazar em fazer de Angola um exemplar caso de pacificação. Na verdade, o maior erro de Holden Roberto residiu no despropósito da acção empreendida, que colou o movimento a um primitivo tribalismo africano, mal-aceite internacionalmente e que deu brado nas Nações Unidos, inquietou Washington e motivou Lisboa ao lançamento de campanhas militares de pacificação sem contemplações.

Em 1962, transformou a UPA em FNLA (Frente Nacional de Libertação de Angola) e levantou o Exército Revolucionário Angolano no exílio (GRAE). Pôde sempre contar com o apoio do Zaire de Mobutu, mas tinha contra si o Congo Brazzaville, a Zâmbia e … o MPLA de Agostinho Neto. A sua estrela foi empalidecendo, em detrimento do rival, recebendo o movimento um profundo golpe de credibilidade quando Jonas Savimbi, seu braço direito, se afasta e funda a UNITA. Remetido a uma bolsa de refúgio na área dos Dembos e apesar de continuar a contar com o apoio americano e receber material de Leste, Holden Roberto chega aos acordos de Alvor de Janeiro de 1975, em Portugal, destinados a resolver o futuro de Angola, desacreditado e com curta força negocial.

Seguiu-se a guerra civil, a partir de 1975, entre os três movimentos de libertação. Contudo, a derrota das forças da FNLA, em Quifangondo, às portas de Luanda, face às forças do MPLA, apoiadas por tropas cubanas, a 10-11 de Novembro, praticamente ditou o ocaso de Holden Roberto e do seu movimento. Um dos seus derradeiros actos públicos ocorreu nas eleições presidenciais de 1992, onde teve votação residual face a José Eduardo dos Santos e ao próprio Jonas Savimbi. Morreu em Luanda, a 2 de Agosto de 2007.

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​Como citar este texto:

LOUSADA, Abílio Pires, OLIVEIRA, Humberto Nuno ​​–​​ Holden Roberto. Revista Portuguesa de História Militar - Dossier: Início da Guerra de África 1961-1965. [Em linha]. Ano I, nº 1 (2021). [Consultado em ...], https://doi.org/10.56092/EHNM5417

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